Cerca de mil alunos do país inteiro acompanharam a conferência do americano Daniel Dennett, no dia 08 de novembro, em Porto Alegre (RS). O filósofo cognitivista foi o convidado do penúltimo encontro do Fronteiras do Pensamento 2010, que ao longo do ano vem recebendo palestrantes internacionais para debater os desafios do século XXI. Os eventos, que são patrocinados pelo Instituto Claro, acontecem sempre às segundas-feiras.

O filósofo Daniel Dennet

O tema da palestra de Dennett foi A mente humana: o cérebro às avessas (clique aqui para conferir o resumo da conferência). Provocador, o filósofo relacionou seus pensamentos à teoria da evolução de Charles Darwin. Assim como o naturalista britânico, defende que tudo é decorrência da evolução e, por isso, a compreensão seria o efeito e não a causa de nossas ações. Como exemplo, mostrou duas imagens bastante similares na aparência, mas que foram construídas sob lógicas distintas: um “castelo” feito por cupins e o templo da Sagrada Família de Antoni Gaudí. Enquanto a primeira foi produzida por puro instinto, a segunda exigiu cálculos precisos do arquiteto espanhol antes de sua construção. No caso de Gaudí, a compreensão veio antes da obra. Para o filósofo, as coisas podem evoluir mesmo sem compreensão. “Os cérebros humanos se parecem muito com uma colônia de cupins. Ele é composto de uma grande quantidade de pequenos agentes interagindo, cada um sem compreensão própria e sem chefe, sem projetista inteligente”, afirmou o cognitivista.

Dennett também relaciona a lógica da evolução aos livros de espionagem, nos quais os agentes secretos só recebem as informações imprescindíveis para a realização de uma tarefa. Assim, no caso de serem pegos pelos inimigos, não teriam muito o que revelar. Em outras palavras, acredita o filósofo, podemos executar ações de forma competente mesmo sem compreender totalmente suas razões. “Como o cérebro humano pode trabalhar assim?”, provocou a plateia. A resposta, diz, é que utilizamos algo como máquinas virtuais que nos dão superpoderes e novos níveis de organização. Aqui mais uma vez Dennett recorre à evolução para explicar essas máquinas virtuais que interpretam, por exemplo, a linguagem. Como as células foram evoluindo para se adaptar ao meio, o mesmo aconteceu com a cultura. “Para entender minha palestra, vocês devem ouvir o intérprete e fazer as suas palavras passarem para sua máquina virtual, na língua que estiverem utilizando, e podem usá-la diretamente para seguir o que digo”, explica o professor.

Ao fim de mais de uma hora de conferência, o filósofo respondeu às perguntas dos presentes, momento em que defendeu a existência do livre arbítrio para a evolução humana: “Se o nosso cérebro estiver bem organizado, teremos atitudes a partir das nossas melhores razões. Esse é o conceito ideal de livre arbítrio. O ruim é as pessoas reconhecerem as razões, saber que são boas e excluí-las pelo fato de achar que estão sendo livres”.

https://youtu.be/sLHg4_bvw1E

Próximo encontro

A última conferência do Fronteiras do Pensamento 2010 será com o historiador e antropólogo italiano Carlo Ginzburg, no dia 29 de novembro. Conhecido como um dos pioneiros no estudo da microhistória, desde 2006, ele é catedrático de História Cultural Europeia na Escola Normal Superior de Pisa. Com uma abordagem minuciosa, a história cultural tal como concebida por Ginzburg se interessa pelo detalhe e pelo contexto, pelas micro e pelas macroquestões articuladas. Entre seus livros mais importantes, estão “O Fio e os Rastros – Verdadeiro, Falso, Fictício” (Cia. das Letras, 2007), “Olhos de Madeira: Nove Reflexões Sobre a Distância” (Cia. das Letras, 2001) e “O Queijo e os Vermes” (Cia. das Letras, 2000).

Fronteiras Educação

O evento contou ainda com o último encontro de 2010 do módulo educacional do Fronteiras do Pensamento, o Fronteiras Educação – Diálogos com a Geração Z. O projeto conduzido pelo consultor e professor Francisco Marshall, pelo professor Ítalo Dutra e pelo escritor Fabrício Carpinejar. Realizado no dia 09 de novembro, 800 alunos e professores puderam participar do debate sobre ética e a era da conectividade.

O Fronteiras Educação oferece encontros que atualizam e estimulam o jovem a pensar sobre a cultura contemporânea com uma linguagem e recursos apropriados ao público de 12 a 18 anos, além de contar com material impresso.

Parceiros

A edição 2010 do “Fronteiras do Pensamento – Para Compreender o Século XXI” é apresentada pela Braskem, com patrocínio do Instituto Claro, Unimed Porto Alegre, Gerdau, Grupo RBS e Refap e tem apoio cultural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Anhanguera Educacional e Prefeitura Municipal de Porto Alegre.

Mais informações no site http://www.fronteirasdopensamento.com.br ou pelo e-mail relacionamento@fronteirasdopensamento.com.br. O Fronteiras também está no Twitter: http://www.twitter.com/fronteiraspoa.

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