O cyberbullying é fruto de uma ausência de uma educação para a cidadania e para a diversidade, segundo o psicólogo e diretor de Prevenção e Atendimento da SaferNet, Rodrigo Nejm. “O que a gente chama de cyberbullying tem nome: é racismo, homofobia, intolerância religiosa e violência contra a mulher. Isso é antigo e antecede a tecnologia. A diferença é que a tecnologia potencializou esses preconceitos”, assinala Nejm, que foi um dos palestrantes do I Seminário de Educação Digital da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP). O evento ocorreu no último dia 1º de dezembro de 2016.

Para ele, não são as crianças ou a internet as responsáveis pelo bullying e ciberbullying, mas a intolerância dos próprios adultos. “Somos racista, homofóbicos e negamos a liberdade sexual feminina. É a nossa forma de organização social. Isso ficou claro durante as eleições”, lembrou.

Além disso, o combate ao cyberbullying deveria se apoiar mais na esfera pedagógica do que na penal. O Brasil, inclusive, já contaria com dispositivos para coibir a prática. “A judicialização do problema não irá resolvê-lo. Quando olhamos o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a Declaração de Direitos Humanos e nossa constituição cidadã, vemos que os princípios já estão lá”, defende.

Escola é referência

Se, por um lado, os jovens aprendem muito sobre internet e tecnologia sozinhos, aprender sobre cidadania e diversidade exige mediação. É ai que, segundo Rodrigo, entra o papel da escola. Sua função, contudo, não seria de resolver o problema, mas ser um dos referenciais possíveis de uma cultura de paz.

“Principalmente nas periferias, a escola é o único espaço social possível para crianças e adolescente terem contato com a linguagem da cidadania, que é diferente da linguagem da violência do seu bairro, da sua casa e daquilo que assistem na televisão”, orienta. A perda de espaço no currículo escolar para disciplinas que abordam a diversidade e a cidadania impactariam a forma como o jovem se apropria da tecnologia.

“Há conflitos na vida diários: de interesse, de opiniões e posicionamento. Não podemos perder a capacidade humana de lidar com a diversidade e com o contraditório de forma civilizada. A internet mostra que estamos perdendo a habilidade de lidar com nossa frustração, angústia e violência em relação aquilo que discordamos”,decreta.

Nativos digitais?

Nejm também criticou a popularização do termo “nativos digitais” para designar as gerações mais jovens. “Confundimos coisas diferentes. Os jovens possuem intensidade de uso e diversidade de atividades online, mas são carentes de competências como discernimento, capacidade critica e não conseguem fazer boas escolhas no âmbito virtual, como diferenciar amizades, público e privado, o que é legal e o que não é”, lista.

Mesmo em termos instrumentais, os jovens saberiam menos do que os adultos imaginam que eles sabem. “Metade dos jovens não sabem como bloquear um usuário, mudar configurações de privacidade de seus perfis ou onde e como denunciar um problema”, complementa.

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