O Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA) pode ser uma alternativa inclusiva nas aulas de artes. Essa abordagem educacional busca tornar o ensino acessível para todos os alunos, respeitando suas diferenças cognitivas, estilos de aprendizagem e necessidades.

“Ele surge a partir das ideias do Desenho Universal (DU), que visava criar ambientes e produtos acessíveis por meio do design de equipamentos, edifícios e áreas urbanas adequados ao uso por pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida”, contextualiza a mestra em educação Eva Bernadete Budniak Tozato.

“A inclusão social exige a eliminação de barreiras nos diferentes espaços, sejam elas arquitetônicas, comunicacionais, atitudinais, entre outras. O DUA propõe o desenvolvimento de currículos acessíveis, assegurando a equidade e possibilitando a plena participação dos alunos no processo educacional. Por exemplo, uma escola que adota materiais didáticos em formatos diversos – texto, áudio, vídeo, vivências práticas etc. – garante que todos os estudantes acessem o conteúdo da forma mais adequada para eles”, complementa a mestra em educação Elisete Araujo Costa.

“Não se trata de uma abordagem exclusiva para estudantes com dificuldades ou deficiência, mas de um modelo que beneficia a todos. Isso requer práticas pedagógicas flexíveis e adaptáveis para promover a equidade”, destaca Tozato.

Para Costa, o uso do DUA nas aulas de artes engaja os estudantes, pois lhes oferece opções de como aprender e se expressar, fazendo com que se sintam parte do processo. “Os alunos exploram diferentes formas de expressão artística. Aquele que tem dificuldade em desenhar, por exemplo, pode criar esculturas ou colagens para manifestar sua criatividade.”

Princípios do DUA aplicados às artes

Aplicar o DUA nas aulas de artes exige compreender seus três princípios fundamentais.

O primeiro são os múltiplos meios de apresentação. “São as diferentes formas pelas quais as informações podem ser oferecidas aos estudantes, considerando as diversas maneiras de aprender: algumas pessoas são mais visuais; outras, auditivas; além dos estudantes com deficiências ou oriundos de diferentes contextos culturais”, explica Tozato.

“O professor de artes pode ensinar o conceito de perspectiva por meio de um vídeo explicativo, de imagens, de um modelo 3D interativo, de um texto descritivo ou de uma atividade prática de desenho de paisagens, entre outras possibilidades”, exemplifica Costa.

O segundo princípio são os múltiplos meios de expressão. “Diz respeito às formas como os estudantes demonstram seus conhecimentos. Alguns preferem escrever, outros se expressam melhor por meio da fala, do desenho ou da dramatização”, explica Tozato. “O aluno deve ter a oportunidade de demonstrar o que aprendeu da maneira que lhe for mais confortável”, complementa Costa.

Por fim, há os múltiplos meios de engajamento, que se relacionam com a forma como as pessoas aprendem. “Alguns alunos gostam de novidades, outros preferem a rotina. Alguns escolhem estudar sozinhos; outros, em grupo”, observa Tozato.

“São estratégias que ajudam os alunos a se manterem motivados no aprendizado, considerando seus interesses e desafios individuais. Por exemplo, para ensinar arte abstrata, o professor pode permitir que os alunos escolham entre criar uma pintura digital, produzir uma colagem com materiais reciclados ou explorar o tema por meio da música ou da dança”, sugere Costa.

“Para isso, o professor deve ouvir seus alunos sobre como gostam de aprender, identificar seus interesses e buscar estratégias alinhadas com essas preferências, além de reconhecer e reduzir as barreiras que dificultam a aprendizagem”, recomenda Costa.

Nas aulas com DUA, Costa sugere diversificar materiais e técnicas, utilizando tintas, argila, colagens e arte digital, entre outros recursos. “Também é possível incorporar tecnologias, como softwares de arte digital e audiodescrição de imagens”, acrescenta.

Atividades usando DUA

Confira algumas sugestões de atividades usando DUA no ensino de artes.

  • Para alunos do terceiro ano do ensino fundamental, Tozato indica a criação de uma caixa das sensações para trabalhar com as cores quentes e frias. Foi adotada em uma turma com estudantes que apresentavam diferentes necessidades, incluindo a cegueira. A caixa pode conter oito compartimentos, sendo quatro para cores quentes — vermelho, laranja, rosa e amarelo —, aquecidos por um dispositivo térmico, e quatro para cores frias — azul, roxo, verde-claro e verde-escuro. As respectivas cores também são acompanhadas de legendas em braile.
  • Permitir que os alunos conheçam obras de arte por meio do tato, confeccionando versões texturizadas.
  • Criar jogos educativos que incentivem a participação ativa dos estudantes ou integrar aplicativos e softwares para a construção de mapas conceituais, histórias interativas e animações.
  • Disponibilizar materiais macios para desenho. “Algumas crianças com dificuldade em segurar lápis e giz de cera se recusavam a desenhar. No entanto, ao oferecer giz de quadro embebido em óleo, semelhante ao giz pastel, passaram a se expressar graficamente”, compartilha Tozato.

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Crédito da imagem: Vesnaandjic – Getty Images

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