A pedagogia Waldorf é uma abordagem idealizada pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner, em 1919, logo após o fim da Primeira Guerra Mundial. “Ele via uma grande confusão na maneira de se organizar socialmente e pensou que era preciso educar as crianças para que fossem adultos aptos a criar uma nova sociedade. Seus princípios eram a fraternidade no âmbito da economia, a liberdade no aspecto cultural e a igualdade no jurídico”, apresenta o professor da Escola Municipal Cecília Meireles, em Nova Friburgo (RJ), e integrante do Fórum de Formadores de Pedagogia Waldorf, Joel Ieker Canella.
Segundo a Federação das Escolas Waldorf no Brasil, existem 15 iniciativas sociais e escolas públicas que trabalham integralmente com a pedagogia Waldorf no país. Entre elas, estão as unidades municipais Vale de Luz e Cecília Meireles, em Nova Friburgo (RJ). Algumas das metodologias adotadas nessas instituições podem servir de inspiração para outros educadores. “O caminho apontado por Steiner era que cada docente deveria criar o processo de ensino a partir da sua relação com a criança e da observação”, assinala Canella.
Professor-artista
Steiner pensou o desenvolvimento das crianças em ciclos de sete anos, os setênios. No caso da educação básica, eles abrangem dos 0 aos 7 anos, dos 7 aos 14 e dos 14 aos 21. “A divisão se deu a partir da observação na transformação física e emocional das crianças, como, por exemplo, maturação dos dentes e dos hormônios sexuais”, explica.
De acordo com Canella, até o fim do segundo setênio, as matérias não são levadas de maneira científica, mas com enfoque artístico e lúdico. “Não se trabalha conceitos abstratos, mas artísticos e que estimulem a imaginação do aluno. A metodologia busca o símbolo e a metáfora por meio da arte”, conta.
“O ciclo da água pode ser contado de maneira lúdica: uma gotinha d’água encontra a outra, elas formam a nuvem, caem na chuva, entram na baleia, são expelidas e assim por diante.”
A criança com dificuldade de leitura, por exemplo, pode ser estimulada por meio do teatro. “Ela precisará ler e decorar o texto e praticar uma leitura que não é monótona, mas interpretativa”, revela.
Para Canella, esse novo olhar estimula o educador a pensar formas diferenciadas de ensinar o conteúdo usando elementos como música, pintura, desenho e outras manifestações artísticas. Já no terceiro setênio, o desafio é encontrar professores que sejam especialistas, mas não percam o olhar lúdico. “Lembrando que o compromisso com a visão científica não deixa de ser valorizado durante toda a formação”, aponta.
Observação na avaliação
Na Escola Cecília Meireles, as avaliações são realizadas de um jeito diferente, que levam em conta o diálogo e a observação. “Toda manhã, a primeira pergunta do professor é se o conteúdo do dia anterior foi compreendido. Não precisa esperar três semanas e dar uma prova para saber se o estudante captou. É feito permanentemente”, conta.
Os cadernos da turma também são uma fonte importante para monitorar o processo de ensino e aprendizagem. “Testes nacionais são obrigatórios e devem ser feitos por todos. Aproveitamos e usamos a nota dos alunos nesses exames para qualificá-los também.”
No Brasil, as escolas Waldorf sofrem adaptações para contemplar o currículo nacional. Steiner, por exemplo, prezava a alfabetização apenas após os 7 anos. No Brasil, a legislação nacional determina a partir dos 6. “Essa metodologia também leva em conta os saberes que a criança traz”, acrescenta.
Poucas escolas
Há poucas escolas públicas Waldorf no país, a maioria delas fundadas por associações ou geridas por meio de parcerias público-privadas. “Dá certo quando a instituição de ensino é fundada por professores e há apoio da comunidade, não quando a iniciativa vem do Estado. Toda as tentativas que vieram ‘de cima para baixo’, ou seja, encampadas por secretarias, falharam. Ou porque não encontraram terreno fértil entre os educadores ou porque foram descontinuadas nas trocas de governo”, contextualiza.
Outro desafio é que, para trabalhar com pedagogia Waldorf, é indicado que o corpo docente curse um seminário de formação na metodologia. O processo enfoca, entre outros pontos, a sensibilização artística do profissional. Segundo Canella, os professores concursados nas escolas públicas são cativados a fazerem a formação após chegarem na instituição de ensino. “As unidades escolares promovem estudos e orientam os trabalhos daqueles que não desejam ou não podem fazer a formação”, diz.
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Atualizada em 15/7/2019 às 17h57.