Proteger as crianças e jovens dos perigos da Internet é importante e deve mobilizar pais e professores diariamente. Contudo, também é preciso estimular o autocuidado e a capacidade crítica, para que eles consigam fazer boas escolhas quando estiverem sozinhos na rede – momento que certamente ocorrerá.
“Há menos de dez anos, pedíamos para a família deixar o computador na sala para monitorar o que o jovem fazia online. Hoje, com os celulares, isso é mais difícil. Por isso, a importância de estimular o senso crítico”, explica o colaborador do Safernet, Rodrigo Nejm. O especialista foi um dos participantes do painel “Qual a importância da família e escola na educação digital de crianças e adolescentes?”, ocorrido no I Congresso FIESP de Educação e Cidadania Digital (19/09/2017).
“Não podemos cair na armadilha de somente segurança ou somente liberdade no uso da Internet. A informação e o conhecimento ajudam as crianças e os jovens a utilizarem o espaço online sem prejudicar a si próprios ou terceiros. Tudo isso sem tirar o protagonismo deles”, pontua.
Segundo Nejm, educar para a cidadania digital é a peça chave para as boas escolhas. “É preciso entender a Internet como uma grande praça pública com sete bilhões de pessoas. Então, como devo agir nesse espaço? O desafio da educação é ajudar o aluno ou filho a identificar riscos e também a aproveitar as boas oportunidades que a rede oferece”, completa.
A escola pode ser parceira nesse processo ao trazer a cidadania digital como conteúdo pedagógico de forma transversal. “Em Língua Portuguesa, é possível solicitar redações que reflitam sobre o uso da Internet. A Sociologia pode abordar a questão da felicidade fabricada nas redes sociais, ou ajudar entender as diferenças entre injúria, difamação e calúnia. Os professores também podem mostrar aos alunos como encontrar os seus rastros virtuais, ou seja, aquelas informações sobre eles que ficam online sem eles se darem conta. Há muitas possibilidades”, exemplifica.
Valores atualizados
De acordo com a gerente do jurídico da NIC.BR, núcleo de informações ligado ao Comitê Gestor da Internet no Brasil, Kelli Angelini, é necessário atualizar valores de cidadania no mundo virtual. “A empatia ajuda o jovem a entender que ele não deve fazer com um internauta o que não gostaria que fizessem com ele. A responsabilidade lembra que atos infracionais na grande rede também têm consequências – mesmo o jovem não estando frente a frente com a pessoa difamada. E que é necessário comprometimento para cumprir os acordos de uso da internet realizados pela família”, destaca. As regras de uso da internet e dos aparelhos móveis devem ser elaboradas em conjuntos com as crianças. “Isso traz responsabilidade e melhora o nível de adesão e comprometimento”, justifica psicólogo Alberto Domeniconi Nery.
Mesmo princípio vale para os acordos fechados entre professores e alunos nas interações virtuais, principalmente nos grupos de aplicativos de mensagem. “Vale combinar com os alunos deles não enviarem mensagens para dispositivos pessoais dos educadores. Armazenar fotos que configurem pornografia infantil é crime, e já presenciei casos de professores afastados porque, sem saber, tinham imagens sensuais de alunas que foram direcionadas para seus colegas de classe no grupo da turma – que o professor integrava. Ou seja, uma carreira pode ser destruída por falta de informação”, reforça a diretora do Núcleo de Educação Digital da FIESP, Alessandra Borelli.
Para o psicólogo Alberto Domeniconi Nery, o comportamento virtual da criança é tão importante quanto o presencial. “Dizemos para os pais ficarem atentos se há alguma mudança no padrão do seu filho, como tristeza ou isolamento. Isso também pode ser notado na relação virtual e usado a nosso favor”, ressalta.