A cibercultura é importante para a formação de professores em ambiente digital e em rede, de acordo com a coordenadora do Grupo de Pesquisa Docência e Cibercultura (Gpdoc) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (Ufrrj) Edméia Santos. Ela foi uma das palestrantes da mesa “Caminhos para formação docente em cenários em transição”, do Congresso Internacional de Educação e Tecnologias e do Encontro de Pesquisadores em Educação a Distância (CIET/EnPED). O evento foi realizado na Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), em 13 de julho de 2018.
“Penso a educação online como um fenômeno da cibercultura, não como uma evolução da educação a distância. A cibercultura é uma cultura contemporânea, em que fenômenos, fatos, eventos e produções materiais, intelectuais, comunicacionais, pedagógicas e intersubjetivas são mediadas e condicionadas pelo digital em rede”, aponta a docente.
Como a educação online deve ser entendida?
Edméa Santos: Penso a educação online como um fenômeno da cibercultura, não como uma evolução da educação a distância. A cibercultura é uma cultura contemporânea, em que fenômenos, fatos, eventos e produções materiais, intelectuais, comunicacionais, pedagógicas e intersubjetivas são mediadas e condicionadas pelo digital em rede. Pesquisadores na área da educação e tecnologia podem trabalhar com tecnologia digital e em rede sem abordar, necessariamente, a cibercultura.
Como os processos educativos devem ser pensados nesse contexto tecnológico?
Santos: É preciso pensar processos e fenômenos educativos em um contexto cultural mais amplo, uma vez que o digital, no meu campo de pesquisa, não é ferramenta pura e simplesmente, como também não é um recurso didático. A tecnologia esta em nós e vem dando condições para os processos de desenvolvimento e de conhecimento.
Quando se diz que a prática docente vive em um contexto de transição, o que isso significa?
Santos: Do ponto de vista dos processos e do impacto do digital no nosso tempo, passamos por momentos de transição que são dinâmicos e contínuos. O digital se atualiza constantemente, e isso é materializado no avanço dos próprios dispositivos. Em relação à cibercultura, o que praticamos hoje com os dispositivos móveis não é a mesma coisa do que praticávamos com uso do computador de mesa. Havia uma experiência subjetiva do corpo condicionado a uma máquina e a um móvel, e nossa inteligência e prática comunicacional navegando em rede pelo ciberespaço. Hoje, o ciberespaço está em nós, caminha conosco na palma das nossas mãos. Essa relação com o ciberespaço e a cidade, por exemplo, tem sido cada vez mais tênue e híbrida. A gente só percebe essa dicotomia quando nos falta conexão com a internet.
Qual a importância da mediação realizada pela tecnologia na formação?
Santos: A formação não é um processo didático, mas passa pela didática. Um curso não é uma formação em si. Ele não formará eu ou você. Nós nos desenvolvemos em um contexto com outros seres humanos, objetos, tecnologias e ambiências que podem passar ou não pela mediação do digital. Contudo, no nosso tempo, a formação deve passar pelo digital porque a mobilização e os letramentos científicos, urbanos e pedagógicos acontecem pela mediação do digital em rede.
Qual o papel do professor nesse contexto tecnológico?
Santos: O papel do professor é criar e arquitetar ambiências formativas, inteligentes e desafiadoras, que preparem as pessoas para o exercício da cidadania, ou seja, para afetar a cidade e se apropriar dos seus equipamentos e paisagens de forma cidadã. Isso não acontece sem processos formativos educacionais, sem investimento público e privado e sem a integração de redes educativas diversas. Por outro lado, ele não pode criar essas ambiências se não as vivenciar, se não ampliar o seu próprio repertório. Por isso, o professor é um profissional que se educa o tempo todo em relação ao ciberespaço. Ele também não pode abrir mão do processo de mediação, que é estar junto aos alunos. Não apenas criar ambiência, mas a presença física, simbólica e comunicacional faz com que esses espaços sejam melhores aproveitados.
Dizer que o professor é mediador pode desmerecer seu papel em sala de aula?
Santos: É preciso entender a mediação como algo bastante potente, complexo e difícil de realizar, principalmente com tantas limitações de infraestrutura, de condições de trabalho e formativas. Mediar requer do professor densidade teórica, prática e estar sempre bem informado. Passa pela arquitetura das ambiências formativas, mas também de estar ao lado dos alunos na caminhada de transformar dado em formação, formação em conhecimento que seja contextualizado, que consiga refletir sobre problemas cotidianos sem perder de vista o mundo globalizado, onde os problemas dos outros também são nossos. A mediação é feita sobre a linguagem, que se materializa em diversos dispositivos. Um filme, uma leitura, um gênero, uma exposição fotográfica, tudo isso afeta. Se temos um professor bem formado e com repertório ampliado, respeitoso, e que considera também o aluno como rede mediadora, teremos uma educação.
Professor, um mediador mediado para que a rede funcione . Parabéns!