Até pouco tempo atrás, a grande maioria das bibliotecas seguia um formato mais do que tradicional: um acervo de livros à disposição de um público. Os primeiros passos da tecnologia nesse universo começaram há cerca de dez anos, mais como uma ferramenta prática na busca pelos livros de interesse.
“Antigamente, a gente trabalhava com um processo de fichas arquivadas. Hoje, todos os dados do acervo são informatizados, o que tornou essa parte do trabalho de busca e empréstimo muito mais ágil”, diz Marilda Ogata, bibliotecária-chefe do Colégio Dante Alighieri, de São Paulo.
Em um movimento mais recente, a entrada da tecnologia passou a ser mais intensa, explicou a bibliotecária. Antes um utilitário que intermediava a relação dos alunos com os livros, ela se torna cada vez mais uma nova opção de fonte de conteúdo. No Dante, a biblioteca oferece, além de livros, DVDs, CDs educativos e computadores conectados à internet.
“Nós somos seres multilinguagens. A imagem remete à escrita, a escrita volta para a imagem, e nós temos tecnologia para juntar tudo isso. Se isso não fosse uma capacidade nossa, não teríamos desenvolvido esses espaços”, afirma o professor de Ciências da Informação da ECA-USP, Edmir Perrotti.
Apesar dessa multilinguagem inerente, na maioria das escolas, as salas de multimídia ficam separadas do espaço dos livros. Pela maior atração que os meios digitais exercem sobre os alunos, ainda existe certa resistência em colocar os dois universos em um mesmo lugar e acabar esvaziando a identidade das bibliotecas, relegando os livros a um segundo plano. Perrotti reforça a necessidade de quebrar essa barreira: “tem que ser tudo junto, um espaço de oralidade, de várias linguagens culturais e tipos de narrativa”.
No Dante, a alternativa encontrada para que não houvesse um embate entre suportes foi compartilhar informação entre professores, alunos e bibliotecários. “Todo mundo fica sabendo os trabalhos que estão sendo conduzidos. Se um aluno, ao iniciar uma pesquisa, vai primeiro ao suporte multimídia, o pessoal já sabe de que trabalho se trata e orienta o aluno a iniciar a pesquisa pelos livros”, explica Marilda.
Na rede municipal paulistana de ensino, a solução apresentada se baseia na orientação dos alunos. Segundo informações da Secretaria Municipal de Educação, as escolas já possuem salas de leitura e laboratórios de informática com 21 computadores. Nas salas de leitura, os alunos têm acesso ao acervo de livros e a um professor orientador, que pode dispôr das tecnologias para atender às demandas dos alunos. A tecnologia acaba estendendo as possibilidades da biblioteca tradicional, e não competindo com ela, ao permitir que, a partir do conteúdo pesquisado, o aluno seja protagonista do conhecimento.
“Nesse sentido, trabalhamos com comunidades virtuais, autoria e publicação na internet, que trazem outro movimento e foco para o trabalho do aluno. Ele deixa de produzir somente para o professor e passa a ter um público para além dos muros da escola, ou seja, o mundo é o seu leitor”, explica a professora Lia Cristina Paraventi, do setor de Informática Educacional da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo.
Fotos: Márcio Pereira da Silva