Surgido como forma de reunir grupos de pessoas para promover manifestações artísticas e culturais, os saraus têm tomando cada vez mais espaço na sociedade. O que era feito em bares e centros culturais, hoje é realizado nos mais diversos locais, como transporte público e escolas, por exemplo. Independente do local, esses movimentos têm objetivos em comum: fomentar e compartilhar poesia, de poetas conhecidos ou não, além de estimular a leitura e a escrita.

Inspirados nos vendedores ambulantes, os Poetas Ambulantes, de São Paulo, surgiram para levar poesia para os transportes coletivos da cidade. “A primeira reação é sempre de desconfiança, a pessoa está cansada dentro do ônibus (ou trem, metrô…) e entra um grupo de pessoas falando, eles já acham que vamos comercializar algo. Mas quando eles percebem que estamos apenas para recitar poesias e as expressões mudam: aparecem os sorrisos e os aplausos calorosos no final”, explica Thiago Peixoto, um dos idealizadores do Coletivo.


Poetas Ambulantes nos trens de São Paulo (SP)

Com o Coletivo, eles também já levaram os seus saraus ambulantes para escolas e ONGs da cidade. “Neste ano queremos fazer mais parcerias com escolas. A ideia é mostrar que a poesia pode estar no dia a dia e não só em livros ou teatros. Nossa ideia é ocupar os espaços públicos, que são da população, com poesia e arte”.

Em Búzios, a professora Carla Campos, da Escola Municipal Nicomedes Theotônio Vieira, percebeu o potencial do sarau em uma delegacia. “Ao acompanhar uma vizinha que iria fazer um BO, notei que o policial estava lendo Friedrich Nietzsche e perguntei sobre o livro. Para surpresa, ele contou que era poeta, já havia produzido 2 livros e fazia parte da Academia de letras de Arraial do Cabo (RJ). Voltei com várias ideias na cabeça: e na nossa escola? Será que, além de alunos, na cozinha da tem alguma merendeira que escreve poemas ou que goste de poemas?”, conta Carla.
 
Foi então que, em homenagem ao Dia do Poeta (20/10), em 2013, foi realizado o 1º Sarau de poesia da Biblioteca Maurício de Souza, organizado pelas professoras Carla Campos,  Juliana Arantes,  Maria Irene Morais e a Andrea Barroso. Além dos alunos, alguns funcionários da escola também declamaram seus próprios poemas emocionando cada um a seu modo a plateia. 
 

1º Sarau de poesia da Biblioteca Maurício de Souza, da Escola Municipal
Nicomedes Theotônio Vieira
 
O evento contou com o apoio e presença de integrantes da Academia Cabista de Letras, Luciana Netto, e Rodrigo Noval; do professor Eraldo Ravasco, da Faculdade de Letras da Região dos Lagos; da professora Vera Lílian, coordenadora das salas de leitura do Município, e de Marcos Sodré, integrante da Academia Buziana de Letras.
 
“O que posso dizer sobre a experiência? Foi simplesmente emocionante. O comportamento dos alunos foi impecável, um ‘silêncio poético’. Todos, sem exceção, ficaram envolvidos com cada palavra dita. Minha surpresa foi o comparecimento dos poetas da academia. Apesar de todos terem confirmado presença, honestamente, não imaginei que eles fossem de fato aparecer. Os alunos aplaudiam com entusiasmo”, ressalta Carla.
 
Após a primeira de experiência de sucesso, ficou acordado que anualmente, sempre em homenagem ao Dia do Poeta, a Escola Municipal Nicomedes Theotônio Vieira realizará um sarau, com o objetivo de lançar os poetas da comunidade escolar e da região. “Percebemos que após o evento os alunos ficaram mais interessados em ler mais livros de poesias, bem como escrever seus próprios poemas. Funcionários e professores deixaram a timidez de lado e ousaram recitar seus poemas. Ou seja, o sarau passou a fazer parte dos projetos da escola” finaliza a idealizadora.
 
Confira algumas dicas para organizar um sarau:
  • Planejamento: saber quais manifestações artísticas irá contemplar (poesia, dança, música, entre outros);
  • Local: escolher um local amplo e quais equipamentos serão necessários (microfone, telão, caixa de som, etc);
  • Envolvimento: na escola, é importante envolver alunos e funcionários para construir o movimento em conjunto;
  • Parceria: Buscar parceria com a comunidade do entorno de onde o evento será realizado – às vezes são descobertos grandes artistas na vizinhança;
  • Divulgação: fazer uma boa divulgação do evento;
  • Opinião: deixar sempre um espaço para opiniões e sugestões.
     
Conheça alguns saraus tradicionais:
Sarau do Binho: Ocorre há mais de 8 anos, reúne poetas, cantores, músicos, atores e outros artistas populares e pessoas da periferia, tornando-se um marco no calendário cultural da cidade de São Paulo.

Cooperifa: Comandado por Sérgio Vaz, o Sarau da Cooperifa reúne, há 12 anos, em torno de 300 pessoas para ouvir e falar poesia todas às quartas-feiras, no Bar Zé Batidão, no extremo sul de São Paulo.

Sarau dos Mesquiteiros: Criado em 2009 pelo coletivo artístico e cultural, formado por jovens e adolescentes de Ermelino Matarazzo, O Sarau dos Mesquiteiros acontece todo último sábado de cada mês, entre as 17hs e 20hs, nas dependências da Escola Estadual Jornalista Francisco Mesquita, Zona Leste da São Paulo (SP).

Sarau de Letras da Favela: Realizado na Biblioteca Parque da Rocinha, e organizado pelo poeta, letrista e escritor, Joilson Pinheiro que mora na Rocinha, o “Sarau de Letras da Favela” ocorre sempre no segundo sábado do mês, com grupos de teatro, poesia, dança e microfone aberto para quem quiser recitar poemas.

Sarau Poético de Manguinhos: Realizado sempre no 1º sábado de cada mês, o Sarau Poético de Manguinhos surgiu em 2001, após iniciativa de professores e alunos do Pré-Vestibular Comunitário de Manguinhos (PVCM) com o objetivo de realizar um movimento de educação popular, laico e apartidário, com foco na capacitação para o vestibular de estudantes economicamente desfavorecidos de Manguinhos e de outros bairros do entorno. Atualmente acontece no hall do cineteatro da Biblioteca Parque de Manguinhos.

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