Publicado em
9 de março de 2017
A roda de capoeira pode ainda causar estranheza quando aparece nas aulas de educação física, mas não deveria ser assim. A capoeira é considerada um patrimônio da humanidade e foi criada em um contexto social e histórico tipicamente brasileiro. Na escola, ela é um convite para valorizar a cultura afrodescendente e, por tabela, desenvolver habilidades físicas e motoras.
Apesar de suscitar um amplo espectro de possibilidades pedagógicas, a prática da capoeira em ambiente escolar enfrenta resistencias pautadas, principalmente, no preconceito.“Ainda há dificuldade de aceitação devido à formação de professores de educação física voltados apenas aos esportes tradicionais e ao preconceito contra manifestações culturais de matriz africana. Contudo, essas dificuldades podem se tornar disparadoras para a formação de alunos críticos e conhecedores de sua própria cultura e história”, aponta o também professor de Educação Física Marcos Santos Mourão, o Marcola, professor da Escola da Vila, em São Paulo.
Ao ensinar capoeira em suas aulas, a professora da EMEF Mário Fittipladi (São Paulo), Cássia Czeszak, utiliza vídeos como Maré Capoeira e textos para situar os alunos historicamente. “Na sequência, eles experimentam os gestos (golpes) em duplas e ouvem as ladainhas, que são as músicas cantadas em roda. Eu ainda trago instrumentos como berimbau, agogô e pandeiro para, então, partimos para a roda”, descreve.
Confira, a seguir, 7 benefícios de ensinar a capoeira nas aulas de Educação Física.
1. É um exercício abrangente
A capoeira trabalha a força, ao exigir a sustentação do próprio corpo. Além disso, desenvolve flexibilidade – devido à amplitude dos movimentos – e resistências muscular e cardiorrespiratória. “Os golpes e as acrobacias estimulam o equilíbrio, o controle do próprio corpo e o ritmo, que são fundamentais para uma boa coordenação motora”, assinala Marcola.
2. Promove o sentimento de parceria
Do ponto de vista social e afetivo, a prática da capoeira pode promover a interação e integração do aluno no contexto de grupo, de roda e de parceria com os colegas.
3. É indicada para todos os níveis de ensino
As aulas de capoeira na Educação Infantil devem focar a motricidade básica (como arrastar, quadrupediar e apoiar) e a ludicidade, presente nas brincadeiras e músicas. Com as crianças do ensino fundamental, é possível enfatizar a regra, o jogo e a roda. Com os alunos maiores, a questão da cultura, da história, as discussões e o jogo são aspectos importantes.
4. Dialoga com as aulas de História
Os escravos brasileiros usavam a capoeira como uma forma de defesa corporal, já que não podiam portar armas. “Na Era Getúlio, uma proposta populista do presidente descriminalizou a capoeira. Até então, seus praticantes eram presos – daí o termo ‘vadiagem’”, ensina a professora Cássia Czeszak.
5. Relaciona-se com as Artes
Instrumentos musicais, ritmo e canto estão presentes na roda de capoeira. “As rimas podem ser observadas nas ladainhas”, sugere Cássia. Vale ainda resgatar as obras de pintores e desenhistas como Jean Baptista Debret e Carybé, que registraram a prática.
6. É matéria-prima para as aulas de Geografia
É possível localizar geograficamente a manifestação da capoeira no Brasil – como nos quilombos da Serra da Barriga (AL), por exemplo. O continente africano e o trajeto dos navios negreiros são outros temas a serem explorados. A aula de Educação Física pode, assim, disparar propostas também para a disciplina de Geografia, permitindo também esta possibilidade interdisciplinar.
7. Valoriza a cultura afrobrasileira
A lei nº 10.639, artigo 26, tornou obrigatório o ensino da história e da cultura afrobrasileira no currículo escolar. A aprendizagem da capoeira aborda aspectos históricos e culturais importantes e ainda é pode ser um instrumento para debater etnia, preconceito e racismo.

(Os alunos da EMEF Mário Fittipladi, de São Paulo, durante uma aula de capoeira da professora Cássia Czeszak)
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