Especialistas da área da educação reunidos, um rico debate sobre aprendizagem e tecnologia e a exposição de diferentes pontos de vistas que se complementam. Foram esses os principais componentes do 1° Fórum do Instituto Claro, promovido no dia 6 de junho, no Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária), sob o tema “Tecnologias, aprendizagem e desenvolvimento humano”. O evento abriu a série de debates presenciais que serão realizados até outubro, quando um seminário reunirá as principais questões levantadas pelos especialistas nesses encontros e aqui nas seções do portal.

O que falta à escola de hoje para que ela seja mais aberta a novas experiências? Quais devem ser as mudanças no currículo atual? A partir da estrutura existente hoje, como se pode avançar na busca por uma educação mais colaborativa? Essas foram algumas das questões discutidas no evento que aconteceu em formato de debate com a participação dos professores José Manuel Moran (Instituto Sumaré de Ensino Superior-SP), Maria Elizabeth de Almeida (PUC-SP), Paulo Gileno Cysneiros (Universidade Federal de Pernambuco-PE) e que contou com mediação do coordenador da Rede CEP, Alexandre Sayad.

O evento, idealizado pelo Instituto Claro com a proposta de fomentar e ampliar os espaços de discussão sobre o uso de novas práticas e tecnologias na educação, como destacou a vice-presidente da instituição, Carime Kanbour, expôs ao público alguns caminhos percorridos e sugeridos por educadores que, há anos, demonstram à sociedade, seja por meio de livros, teses ou projetos práticos, que o modelo educacional ainda dominante necessita ser revisado. Eles defendem: nesse processo de mudança, os ambientes de aprendizagem e a tecnologia têm que manter uma relação de simbiose.

“No passado, aprendemos de um jeito onde a escola era o centro do conhecimento, mas hoje o mundo é todo muito informativo.  Isso tem que ser levado em consideração. Mas, aqui no Brasil,  o descaso começa já na formação dos professores. Como em muitos lugares ninguém quer fazer o menor esforço para realizar mudanças, muitos professores entram e saem da graduação no mesmo modelo arcaico”, disse o espanhol José Manuel Moran, o qual, naturalizado brasileiro há 11 anos, conhece bem a realidade educacional do país.

Para Maria Elizabeth de Almeida e Paulo Cysneiros, a realidade, hoje, já é bem mais animadora do que ambos encontraram há décadas. “Quebramos muitas pedras. Estamos começando a colher os frutos, vemos alunos nossos multiplicando projetos, mas ainda faltam mudanças no currículo, por isso considero tão importante a reflexão sobre o web currículo”, diz a educadora.

Material Didático, defende Maria Elisabeth, tem de ser apoio. As experiências possíveis na web precisam ser estimuladas e integradas às disciplinas. Não somente porque essa união dinamizará a prática do ensino, mas porque os alunos, como frisou Paulo Cysneiros, “não se contentam mais em apenas permanecerem sentados, assistindo a aulas. Eles querem participar e desejam que haja vários canais de informação na escola, pois assim é o mundo deles fora dali”.

Reflexões fundamentais

Em meio às defesas de interação da escola com a web e da formatação de um modelo em que o aluno possa ter uma postura mais ativa no processo de aprendizagem, o professor José Moran demonstrou receio com a superficialidade das ações. “É muito importante estar conectado, mas se você suprime o seu tempo de fazer análises, de reflexão, e apenas navega, tuita [faz uso das mensagens curtas no microblog Twitter], isso também não vai provocar mudanças”, avaliou.

Paulo Cysneiros comentou a sua experiência de integrar os pais a projetos de educação. Ele afirmou que a escola tradicional ainda é muito restrita a alunos, professores e coordenadores. Diz que, se esse cenário for mais flexível, a colaboração pode acontecer de formas transversais, entre aluno/professor, pais/escolas, escolas/alunos. Mediadas pelas tecnologias, essas relações tendem a fornecer a todos maior conhecimento do mundo virtual e presencial. “Qual o espaço que as escolas abrem para a participação dos pais? Nenhum. Eles precisam estar a par de mudanças pensadas para a educação dos seus filhos, isso ajuda a qualificar o processo”, comentou Cysneiros. Na sequência, Moran não só reforçou a importância dessas relações casa/escola/aluno como definiu como “fundamental” a inserção dos pais nos projetos.

No primeiro Fórum do Instituto Claro, debatedores e plateia não pouparam críticas ao poder público. Para eles, mudar a escola depende bastante de políticas públicas bem estruturadas e de sistemas menos falhos, que estimulem o ímpeto inovador de professores com recursos, salários bons e projetos que tenham força para ir além de mandatos. Enquanto mantêm a cobrança para que tudo isso aconteça, resta aos pensadores e protagonistas desse processo “ajudar as escolas e universidades a formar a sua cultura tecnológica com circunstâncias favoráveis para estimular o processo”, como defendeu Maria Elizabeth de Almeida.

Fotos: Maíra Soares

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