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Para celebrar os 100 anos da Semana de Arte Moderna, a animação Tarsilinha vai levar às telas de cinema o fantástico universo das obras de um dos mais importantes nomes da primeira fase do movimento: Tarsila do Amaral. A animação, que estreia em 17 de março, pode ser usada pelos professores para despertar interesse pelo tema e apresentar a arte da pintora.

“O conceito do filme foi criar um mundo mais complexo como se você tivesse entrado naquele universo que estava na cabeça da Tarsila no momento que ela criou aquelas obras. Então você pode ver que todas as obras dialogam muito. Tem, por exemplo, pedras, árvores, plantas, folhas, cores. Toda obra é um universo”, explica a codiretora do filme Celia Catunda.

Mergulho no Abaporu

Na animação, Tarsilinha e seus amigos mergulham nas profundezas do Abaporu para recuperar as memórias de sua mãe e de muitas outras pessoas. A obra, que se tornou um símbolo do Movimento Antropofágico, representa a ideia de devorar as diferentes culturas para produzir algo genuinamente brasileiro.

tarsilinha
Tarsilinha entra no mundo fantástico das obras da pintora (crédito: divulgação/Pinguim content)

“Quando ela entra dentro do Abaporu aparentemente ameaçador, é como entrar na memória, é um caos. É um museu desorganizado. Ele engoliu tudo e ali está tudo! E a memória da mãe, provavelmente, está lá também. E aí eu acho que nós temos um personagem bem brasileiro, que não é bem do folclore, é dela, mas é quase folclore já, né? O Abaporu está em capa de caderno escolar”, analisa um dos roteiristas do filme, Fernando Salem.

O áudio ainda traz Zeca Baleiro revelando detalhes da música-tema do filme, criada juntamente com Zezinho Mutarelli e interpretada pelo próprio Zeca juntamente com Ná Ozzetti.

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Dossiê: Semana de Arte Moderna

Transcrição do Áudio

Música: Trilha do filme Tarsilinha (Zezinho Mutarelli)

Celia Catunda:
A gente queria – isso foi o conceito do filme, né? – criar um mundo mais complexo como se você tivesse entrado naquele universo que ‘tava’ na cabeça da Tarsila, no momento que ela criou aquelas obras. Então você pode ver que todas as obras elas se dialogam muito. Tem, por exemplo, pedras, árvores, plantas, folhas, cores… Então, toda obra ela é um universo.
Eu sou a Celia Catunda, sócia da Pinguim Content, e diretora do filme Tarsilinha, junto com o Kiko Mistrorigo.

Vinheta: Instituto Claro – Educação

Música Trilha do filme Tarsilinha (Zezinho Mutarelli), fica de fundo

Marcelo Abud:
Tarsilinha é uma animação inspirada na obra de Tarsila do Amaral, artista marcante da primeira fase do movimento modernista brasileiro. O longa-metragem aproxima ainda mais crianças da obra da artista, que já é muito conhecida entre este público.

Celia Catunda:
O filme é uma aventura fantástica de uma menina, que é a Tarsilinha, que sai em busca das memórias perdidas da mãe. No começo do filme, subitamente, tem uma ventania e as lembranças dela são roubadas, tanto os objetos como as lembranças que estão dentro da cabeça. E o tema “memória” ele está ao longo do filme todo porque ela vai catando esses objetos e ela descobre que existe uma lagarta ladra de memórias, né? E essas são memórias de todos nós. Então o filme é sobre isso.

Áudio de trecho da animação:
Lagarta: Quando der meia-noite, essas lembranças serão minhas!

Marcelo Abud:
Um dos conceitos ligados ao Modernismo é a antropofagia, metáfora que faz paralelo com o canibalismo para defender que, na arte, a influência cultural de outros países deve ser devorada e assimilada, resultando em uma identidade brasileira.
Um dos roteiristas da animação, Fernando Salem descreve como como essa antropofagia é representada em Tarsilinha.

Fernando Salem:
Onde o Brasil se lembra dele mesmo? Como é que você pode dizer isso pra uma criança? Quando ela entra dentro do Abaporu aparentemente ameaçador, é entrar na memória, é um caos. É um museu desorganizado. Ele engoliu tudo e ali ‘tá’ tudo! E a memória da mãe, provavelmente, ‘tá’ lá também. E aí eu acho que nós temos um personagem bem brasileiro, que não é bem do folclore, é dela, mas é quase folclore já, né? O Abaporu ele está em capa de caderno escolar.

Celia Catunda:
Os valores que vieram naquela altura, né, do modernismo, eles estão muito presentes hoje. Mais do que nunca. E o filme fala sobre a memória; fala sobre construção de uma coisa nova a partir de elementos que são a suas influências, né? Você não está copiando coisas, você está criando algo novo. E o filme traz muito isso também, que é essa proposta e essa visão do modernismo, né, que a nossa cultura ela é formada de múltiplas influências, né, e que a gente teria que materializar isso em uma coisa que é genuinamente brasileira.
E ela é formada de influências francesas, portuguesas, europeias, de forma geral, mas também africanas – e os índios brasileiros. E tudo isso a Tarsila soube muito bem colocar, tanto que os personagens, né, são personagens que trazem isso.

Marcelo Abud:
A diretora do filme cita que é muito comum ouvirmos falar em jornada do herói. Tarsilinha, no entanto, valoriza a jornada de duas heroínas, uma das telas de artes, outra das telas de cinema.

Celia Catunda:
A gente vê um paralelo entre a jornada da Tarsilinha – personagem, e a jornada da Tarsila do Amaral. O filme não é autobiográfico, mas as duas tiveram uma jornada de heroína, de sair do seu ambiente, da sua casa, da sua segurança, e se lançar num mundo desconhecido.

Música: “Tarsilinha” (Zeca Baleiro), com Zeca Baleiro e Ná Ozzetti
Dentro do Abaporu
Incrível, lindo, surreal, tão mágico
Tarsilinha não tem medo Lhe sobra coragem, lógico

Celia Catunda:
No caso da Tarsilinha, que entra nesse mundo, que ela vai conhecer personagens surreais, exóticos, e toda aquela paisagem, e ela vai ter que lidar com o desconhecido. Ela é uma menina que no começo do filme é insegura, um pouco medrosa e ela é obrigada a se lançar, né? E eu acho que a Tarsila do Amaral foi também muito corajosa e se lançou no mundo, que era predominantemente masculino.
E pra isso ela teve que romper com muita coisa na vida (naquela época, ainda mais).

Marcelo Abud:
O outro roteirista da animação é Marcus Aurelius Pimenta. Ele reforça a visão de Celia Catunda sobre o que aproxima a personagem da artista.

Marcus Aurelius Pimenta:
A ligação ‘tá’ mesmo com a imaginação dela, eu acho, que a imaginação dela foi corajosa, foi audaciosa, rompeu ali com padrões estéticos da época. E a menina tem também esse mesmo tipo de atrevimento, de ousadia, de coragem, de entrar num mundo novo ali e se arriscar com a proposta de salvar a mãe, né, resgatar as memórias da mãe.
O personagem Tarsilinha se ligaria mais à audácia da imaginação da Tarsila do Amaral…

Celia Catunda:
E eu acho que para as crianças e, particularmente, para as meninas, né, é muito inspirador você saber o quanto ela conquistou, até onde ela chegou e como esse trabalho depois de cem anos está tão atual. As formas e toda a linguagem visual ela é muito original hoje ainda.

Passagem instrumental da música-tema do filme

Marcelo Abud:
A trilha sonora do filme foi criada por Zezinho Mutarelli, que convidou Zeca Baleiro para compor a música-tema. Zeca nos conta como o modernismo está presente na canção, que ele interpreta junto com Ná Ozzetti.

Música: Tarsilinha, com Zeca Baleiro e Ná Ozzetti
Vai, Tarsila
Leva na mochila
Coragem sem fim

Zeca Baleiro:
Todo filme remete, de certo modo, a esse ideário modernista. O sapo, que é um personagem muito importante, que está na canção também, é um personagem meio oswaldiano, assim, que gosta de brincar com as palavras, de fazer trocadilhos e graças e tal, com a língua, né, com a língua mãe. Personagens como o Saci e a Cuca, que são personagens extraídos do imaginário popular brasileiro e que era uma coisa também muito cara ao modernismo, né? Reavivar esses símbolos nacionais e tal. Então, todo o filme tem um pouco essa aura que remete à cena da Semana de Arte Moderna e o que há além disso tudo, da letra da canção, o que há de musical, de estritamente musical, que remete…. é uma certa alusão à obra de Villa-Lobos, com uma pequena citação ao Trenzinho Caipira, às Bachianas e tal, na canção.
Então é isso. É uma história muito nossa, né? Profundamente brasileira.

Música: “Tarsilinha” (Zeca Baleiro), com Zeca Baleiro e Ná Ozzetti
Debaixo do azul do céu
Uma menina brinca, ela abraça a vida
Lá vai ela correndo, garoteca, uma moleca
Eita mina sabida

Marcelo Abud:
Celia conta que a animação foi exibida em escolas da rede pública de Florianópolis e que pode constatar que Tarsila é a artista do movimento modernista mais estudada e conhecida pelas crianças. Ela traz algumas ideias de como o filme pode gerar atividades no ambiente escolar.

Celia Catunda:
Tem um lado que pode ser realmente ligado à história do modernismo, a quem foi a Tarsila?; o Oswald de Andrade; o jeito que o Sapo fala é uma forma que ele e a Tarsila se comunicavam, de inventar palavras. Então essa brincadeira com a língua portuguesa…

Áudio de trecho da animação:
Sapo: Uma largatosa roubou os lembramentos da mãe dela! Onde essa lagarta ela mora?

Celia Catunda:
A representação das figuras, como ele é, o sapo da Tarsila?; como você pode fazer o seu próprio sapo? Então no sentido de a criança se desapegar daquelas reações estereotipadas e tentar fazer coisas que sejam realmente diferentes. E também essa questão toda da memória, porque que é importante você catalogar e estudar o que aconteceu, conhecer o passado, qual é o significado disso na vida de nós todos, né?

Música: Trilha sonora do filme Tarsilinha (Zezinho Mutarelli)

Marcelo Abud:
Tarsila do Amaral é ainda hoje um grande nome da pintura no cenário internacional e traz na sua obra elementos e temáticas populares em uma arte genuinamente brasileira. A criação da artista traz um novo colorido em oposição aos moldes estéticos mais tradicionais, um traço que encanta também as crianças.
Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Instituto Claro.

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