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Em 5 de janeiro de 2023, foi sancionada a lei que inscreveu o nome de Antonieta de Barros no livro de ‘Heróis e Heroínas da Pátria’. Pioneira como mulher negra na educação, literatura, jornalismo e ativismo pelo voto feminino em Santa Catarina, ela nasceu em 1901.Antonieta de Barros foi a primeira deputada negra do Brasil, criou o Dia do professor e teve papel de destaque na educação brasileira.

Barros teve na mãe, que era lavadeira e filha de ex-escravizados, o incentivo para estudar, formando-se, aos 20 anos, na Escola Nacional Catarinense. “Nós estamos falando de uma educação de um estado majoritariamente branco, segregado fortemente numa perspectiva racial, e onde o acesso à escola não era para todos”, explica a professora e autora do livro “Antonieta de Barros: Professora, escritora, jornalista, primeira deputada catarinense e negra do Brasil”, Jeruse Romão.

Dedicação à alfabetização

Antonieta de Barros dedicou-se, especialmente, à alfabetização. Em 1922, fundou o Curso Particular Antonieta de Barros, em Florianópolis (SC), com esse propósito. “Ela vai fazer esse movimento de alfabetizar adultos e ela participa, na década de 1930, do movimento nacional contra o analfabetismo”, destaca Romão. O curso foi dirigido por Barros até sua morte, em 1952.
A professora disputou, ainda, a primeira eleição em que as mulheres brasileiras puderam votar e serem votadas para o Executivo e Legislativo, no ano de 1934. Exerceu dois mandatos como deputada na Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina. Em 1948, apresentou o projeto de lei que criou o Dia do professor no estado.

Detalhe de cartaz do filme ‘Antonieta’, de Flávia Person, documentário de 2016 (crédito: divulgação)

“Antonieta diz que não existe sociedade sem o importante papel de um professor. Ela apresenta a necessidade de valorização desse profissional; atua não só na valorização da data, mas, também, na valorização da carreira”, revela Romão.

A parlamentar foi ainda a primeira mulher negra a lançar um livro em Santa Catarina. Com o pseudônimo de Maria da Ilha, escreveu “Farrapos de Ideias”, relançado no ano passado.

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Pensadores na Educação: o ensino como ferramenta de transformação social 

Transcrição do Áudio

Música: “Ingênua” (Noel Rosa) fica de fundo

Jeruse Romão:
Antonieta de Barros é uma das mulheres pioneiras na imprensa catarinense e é aquela que, com certeza, no período dela ocupou mais tempo nas colunas; ela escreve várias crônicas sobre a importância da educação, o fato da educação transformar o mundo… A utopia dela é que uma sociedade só poderia ser melhor pela educação.
Então com esse motor pessoal interno, com essa ideologia autoimposta para a época, porque era dela, não é?, ela então vai lidar com vários movimentos.
Eu sou Jeruse Romão, nascida em Florianópolis, professora, escritora e biógrafa da professora, deputada, jornalista e escritora Antonieta de Barros.

Vinheta: Instituto Claro – Educação

Música instrumental, de Reynaldo Bessa, fica de fundo

Walkíria Brit:
Em 5 de janeiro deste ano de 2023 foi sancionada a lei que inscreve o nome de Antonieta de Barros no livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. Nascida em 1901, negra, órfã de pai desde muito cedo, tem na mãe – lavadeira – o incentivo para estudar.

Jeruse Romão:
Ela forma-se em 1921 e em 1922 ela funda uma escola, que é o Curso Particular Antonieta de Barros. Aí então ela começa sua função de educação. Mas, antes, ela já alfabetizava pessoas, em dinâmicas noturnas, porque a primeira escola em Florianópolis, oficial, ela é fundada em 1911, para poucas pessoas.
Nós estamos falando de uma educação de um estado majoritariamente branco, segregado fortemente numa perspectiva racial, e que o acesso à escola não era para todos. Então, ela vai fazer esse movimento de alfabetizar adultos e ela participa, na década de 30, do movimento nacional contra o analfabetismo: Antonieta faz parte da direção executiva da seção do movimento em Santa Catarina, junto com outros renomados professores da história da educação catarinense.

Música: “Lute Como Antonieta” (Conrado Laurindo / Edson do Tamborim / Fred Inspiração / Jean Leiria / Tabajara Ortiz / Wagner Amaral / Willian Tadeu / Wilson Silva), samba-enredo da GRES Consulado
Ê Antonieta
Se Deus fez a pele preta
Por que tanto preconceito?
Anda, vai juntar os farrapos!
Ensinar aos sem-trapos
Anda, vai juntar os farrapos!
Ensinar aos sem-trapos
Conquistar os direitos

Walkíria Brit:
Em 1935, mesmo ano em que acontece o 1º Congresso Nacional contra o Analfabetismo, Antonieta de Barros toma posse como deputada na Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina.

Jeruse Romão:
Antonieta de Barros teve dois mandatos. Então ela foi eleita no primeiro mandato em 1934, tomou posse em 1935. É importante lembrar que ela é a primeira deputada mulher da região sul do Brasil, a primeira deputada mulher de Santa Catarina e a primeira deputada negra do Brasil.
Ela leva para a assembleia legislativa algumas pautas. A educação é o eixo-central, no discurso de posse ela diz isso: ‘Sou uma mulher catarinense e o que também me traz aqui é a minha categoria, o magistério’. Ela preocupou-se muito com o magistério catarinense a vida toda – o magistério e o funcionalismo público. Essas duas categorias tinham uma profunda admiração pela atuação de Antonieta de Barros.

Walkíria Brit:
Em 1948, Antonieta discursa durante a promulgação da lei que institui o Dia do Professor. Em um trecho, ela diz: “Educar é ensinar os outros a viver; é iluminar caminhos alheios”.

Jeruse Romão:
E dentre os projetos dela para a educação e para o magistério – porque ela foi relatora desses temas na constituinte – ela apresenta o projeto de lei, na década de 40, já no segundo mandato dela, que cria o Dia do Professor. É um movimento nacional que chega à assembleia legislativa através de um telegrama. Ela lê o telegrama recebido, como secretária da mesa diretora da casa e comunica que vai apresentar um projeto de lei, como pede aquele movimento oriundo de São Paulo.
E, de fato, no dia seguinte, ela protocola o projeto de lei para o qual pede urgência na tramitação. O partido dela era maioria na assembleia legislativa, o pedido foi atendido, as articulações políticas foram todas feitas e, em 4 dias, foi votado e aprovado.
O projeto de Antonieta de Barros refere-se à criação do Dia do Professor no estado de Santa Catarina e a nacionalização da data ocorreu na década de 60, né, pelo governo federal.

Música: “Lute Como Antonieta” (Conrado Laurindo / Edson do Tamborim / Fred Inspiração / Jean Leiria / Tabajara Ortiz / Wagner Amaral / Willian Tadeu / Wilson Silva), samba-enredo da GRES Consulado
Mulher, mete o pé nessa porta!
Mostra à Casa-Grande o que nos importa

Jeruse Romão:
Sobre as professoras e os professores, ela diz que não existe sociedade sem o importante papel de um professor. Ela apresenta a necessidade de valorização desse profissional; atua não só na valorização da data, mas ela atua, também, da carreira.
Ela é, por exemplo, uma das responsáveis pela regulamentação do concurso público para professores em Santa Catarina, no seu primeiro mandato.

Walkíria Brit:
O legado de Antonieta de Barros inspira a continuidade da luta por direitos relacionados à educação. A professora Jeruse Romão estudou para o magistério no Instituto Estadual de Educação em que Antonieta foi professora e diretora entre os anos de 1933 e 1951.

Jeruse Romão:
Esperamos que não só Antonieta se torne visível como heroína da pátria, mas que a população negra do seu território também, porque há uma invisibilidade muito aguda ainda para se olhar para os negros do sul do Brasil.
Mesmo com 70 anos do seu falecimento, eu acho que ela ainda vem sendo o carro-chefe para outro movimento importantíssimo que é dar visibilidade para os negros do sul do Brasil, nesse título que ela recebe como heroína nacional, porque não vai poder se falar de Antonieta, sem falar do seu território e da sua gente.

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

Walkíria Brit:
Desde que se forma na Escola Nacional Catarinense, aos 20 anos de idade, Antonieta de Barros dedica sua vida à alfabetização, inclusive de outras pessoas descendentes de ex-escravizados feito ela. Foi ainda a primeira mulher negra a publicar um livro em Santa Catarina.
Com roteiro e produção de Marcelo Abud, Walkíria Brit para o podcast de educação do Instituto Claro.

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