“Eu tenho muitos livros infantojuvenis que foram produzidos
para tornar os personagens mitológicos mais conhecidos.
Quando você conhece, cria uma empatia e isso ajuda
a assimilar o que é diferente”
(Reginaldo Prandi)
Reginaldo Prandi é autor de dezenas de livros sobre o tema. Na foto,
o mais recente: Aimó (Crédito: Marcelo Abud)
Professor titular de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP) e escritor, Reginaldo Prandi começou a se dedicar à Sociologia das religiões em 1971, no CEBRAP – Centro Brasileiro de Análise e Planejamento. Lá havia grupos que estudavam diferentes setores da sociedade e Prandi ficou responsável pelas pesquisas das religiões brasileiras, onde fez levantamento daquelas de origem africana.
Anos depois, já na livre-docência, o sociólogo fez uma incursão por 60 terreiros localizados na cidade de São Paulo. Essa pesquisa resultou no livro “Os candomblés de São Paulo”, que está esgotado, mas pode ser baixado gratuitamente no site do professor (faça o download do texto completo). “Essas religiões se baseiam no conhecimento oral e grande parte desse conhecimento são mitos dos orixás, que foram mantidos vivos no Brasil com a chegada dos escravos, que traziam a sua própria cultura”, afirma Prandi.
Com mais de 30 livros publicados, com destaque para “Mitologia dos orixás”, o autor escreveu alguns títulos para o público infantojuvenil. O objetivo é popularizar esse tipo de assunto e tornar os personagens mitológicos mais conhecidos, auxiliando crianças e jovens a perceberem e a assimilarem as diferenças. De acordo com ele, os orixás permitem que se trabalhe a diversidade cultural, já que “cada um deles está ligado à natureza e, ao mesmo tempo, cuida de algum aspecto que faz parte da nossa vida em sociedade e, às vezes, até aspectos da constituição do indivíduo”.
Apresentar os orixás por meio da mitologia é uma forma de combater o preconceito, ao mostrar que o Brasil é muito plural quando se trata de cultura. “Você tem outras formas de enxergar a vida, de enxergar a morte, como é que o mundo se organiza, outras versões para a criação e o fim do mundo, tudo isso mostra que nós não somos um monolito cultural”.
Entidades das religiões afro-brasileiras, os orixás, trazem, além de sua mitologia, uma extensa representatividade cultural expressa em vestes, danças, pratos e sonoridades. Em visitas a escolas para conversar com alunos e pais, Prandi se depara com diferentes trabalhos realizados a partir de seus livros. “Há escolas que fazem cenários, outras que fazem as comidas que são narradas”.
Reginaldo Prandi ressalta que os livros que escreve não devem ser vistos com enfoque na religião, quando estudados na escola, mas sim, pelo viés da Cultura. “Escola não é lugar de religião. Religião é uma escolha pessoal, de herança familiar”, conclui.
Em três volumes destinados a crianças e jovens, Prandi apresenta a mitologia básica de todos os principais orixás cultuados no Brasil: Exu, Ogum, Oxóssi, Logum Edé, Ossãe, Omulu, Nanã, Oxumarê, Euá, Xangô, Obá, Iansã, Oxum, Ibejis, Iemanjá, Oxaguiã, Ifá, Ajalá, Odudua e Oxalá.
Links:
– Acesse o site oficial do sociólogo Reginaldo Prandi.
– O grupo Corpo está viajando pelo Brasil com o espetáculo Gira, que também tem o objetivo de desmistificar a imagem em torno dos orixás.
– Leia o relato do professor Inaldo do Nascimento Ferreira, sobre como o estudo de folhas sagradas do candomblé em uma escola de Pernambuco combateu a intolerância religiosa.
Créditos:
As músicas utilizadas nesta edição, em ordem de entrada, são: “Odara Elegbara” (Kiko Dinucci/Juçara Marçal), com Metá Metá, “Meu pai Oxalá” (Vinicius e Toquinho), “Iansã”, com Clara Nunes, “Canto de Xangô” (Baden/Vinicius), “Serafim” (Gilberto Gil), “Saudação aos orixás” (Os Tincoãs).