. O trabalho teve como foco as plantas sagradas do candomblé como instrumento no combate à intolerância religiosa dentro do espaço escolar
 

Durante o ano de 2012 uma série de situações ocorridas no estado de Pernambuco me deixou bastante chocado, entre elas: A destruição de um templo de candomblé no município de Brejo da Madre de Deus e tentativa de invasão de um terreiro no município de Olinda. Todos os relatos acima mencionados ocorreram por um único motivo: A intolerância religiosa. A minha preocupação aumentou ainda mais quando uma das alunas do ensino médio (C.B.S) de 16 anos começou a faltar as aulas por estar sendo perseguida e segregada dos trabalhos em equipe por pertencer a um terreiro de candomblé na comunidade. Na minha concepção era inadmissível que em pleno século XXI, justamente em um espaço inclusivo e igualitário, alunos fossem discriminados simplesmente por possuir uma religião diferente da eurocêntrica. Sabia claramente que as religiões afro-brasileiras são vítimas de perseguição e de intolerância, mais precisaria sair da inércia e colocar o tema em foco.

Como sou professor de biologia e os alunos gostavam muito das aulas de botânica, surgiu uma ideia que para muitos poderia ser maluquice: Trabalhar as plantas sagradas do candomblé no combate à intolerância religiosa. O projeto foi vivenciado no ensino médio durante o ano de 2012, envolvendo cerca de 320 estudantes, tendo como principal objetivo combater à intolerância religiosa contra os povos tradicionais de terreiro, promovendo o respeito e a igualdade. Os estudantes puderam construir a aprendizagem de diversas formas: Oficinas teóricas, pesquisas na internet, visitas ao terreiro de candomblé da comunidade, montagem e preservação das plantas sagradas dos Orixás em herbário (local que se guarda plantas desidratadas) e construção de um jardim didático “in natura” das folhas sagradas do candomblé. Um dos resultados mais surpreendentes do trabalho foi o resgate da aluna (C.B.S.) para a escola, contribuindo com a diminuição da evasão escolar por conotação religiosa. Hoje o herbário intitulado imoye e o jardim didático ilê axé (sabedoria e casa de força) na língua yorubá, estão abertos para toda comunidade escolar e membros externos, inclusive para cientistas como: biólogos e antropólogos, constituindo um espaço permanente de pesquisa e preservação, onde as folhas do candomblé consagradas aos orixás, contam a saga do povo afro-brasileiro na conquista do seu espaço. Inaldo do Nascimento Ferreira – Escola Polivalente de Abreu e Lima – Abreu e Lima/PE.

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