Inseri em minhas aulas de Língua Portuguesa a produção de vídeos. Usei esse recurso para diversificar as aulas, incentivar a produção escrita, leitura e dicção. A experiência foi positiva, através dela foram muitos textos sobre diversos assuntos, em diversos gêneros e, consequentemente, muitos vídeos.

Nesse meio ainda exercitamos a criatividade e o improviso, criando estúdios e fazendo milagres com equipamentos amadores que eu disponibilizei aos alunos para a produção dos vídeos. O “faça com o que tem” cria oportunidades diante das limitações da escola pública, é o que chamo de “educação fora da caixa”, uma vez que ultrapassa os conteúdos tradicionais ao mesmo tempo em que reforça o ensino desses e ainda desenvolve habilidades.

Já nas últimas semanas de aula, contatei a ONG Cinema Empreendedor e pedi que realizassem uma oficina de cinema com meus alunos. Foi criada uma proposta especialmente pra gente e em dois dias de oficina vi os olhos dos meus alunos brilhando diante de um mundo novo que se abriu diante deles. Com uma abordagem bem prática e para além das atividades do cinema, a experiência foi uma oportunidade de aprendizado e reflexão sobre a satisfação, o sucesso, gostos pessoais, novas possibilidades profissionais e “o que eu REALMENTE quero ser quando crescer?”.

A sala de informática da escola foi transformada em um set de filmagens, uma preparadora de elenco dividiu os alunos em equipes, cada uma responsável por atividades específicas daquele universo: operar a câmera, cuidar da iluminação, som, atuação, cenário etc. Fiquei longe o máximo possível, quis testar a autonomia e o comportamento dos meus alunos, também quis livrá-los dos vícios da minha metodologia e deixá-los livres para experimentar o método proposto. Tive certeza mais uma vez do quanto essa escola tradicional os obriga a viver sonhos que não são deles, aprendendo coisas que, diante das particularidades de cada um, são só coisas mesmo.

Se eles se tornarão profissionais do mundo do cinema não é possível saber. Talvez sucumbam à pressão das carreiras tradicionais e tornem-se pessoas frustradas. É tudo muito incerto, porém, creio que esses alunos poderão dizer que, ao menos uma vez, a escola ofereceu-lhes uma chance real, prática e, principalmente, relevante de aprendizado onde puderam experimentar a satisfação de investir em algo que tem a ver com quem são de verdade. É preciso levá-los a terrenos desconhecidos, mas não se deve, jamais, tentar fazer peixes voar como falcões.

Me chamou a atenção um aluno que tem problemas de comportamento e concentração durante as aulas. Normalmente ele não demonstra interesse ou comprometimento com as tarefas propostas, mesmo as tarefas “fora da caixa”. Nessa oficina, porém, ele foi designado para cuidar da iluminação do set improvisado, e a semente germinou e se desenvolveu. O menino simplesmente se envolveu, concentrou-se na cena, ouviu as informações passadas, pegou dicas e, como quem nasceu para operar aqueles equipamentos, brilhou.

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