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Com o desaparecimento dos dinossauros, grandes mamíferos passaram a ocupar o planeta. O livro “Gigantes do Passado” traz uma aprofundada pesquisa de quem foram esses animais que habitaram, inclusive, o atual território brasileiro, na Idade do Gelo.

“Há mais ou menos uns dois milhões de anos, tivemos momentos de glaciações e entre uma glaciação e outra, há um momento que nós chamamos de interglacial, que é o momento mais quente. Então quando a gente pensa em glaciação, pensa em gelo, mas no miolão do mundo, lá na linha do Equador e nessa região tropical, não tivemos gelo praticamente”, explica o professor de paleontologia na Universidade Estadual do Norte do Paraná Ariel Milani Martine, um dos autores do livro.

Várias espécies surgiram nesse período. Onde hoje fica o Brasil, viviam preguiças-terrestres, ursos-de-cara-curta, cavalos pré-históricos e poderosos tigres-dentes-de-sabre.
“O tigre-dente-de-sabre era do tamanho de um tigre, um pouco maior, mais robusto, talvez com a cauda mais curta, mas com aqueles dentes caninos superiores enormes que eles utilizavam para abater a presa. Foram encontrados fósseis em Minas Gerais”, descreve o biólogo, professor e escritor Guilherme Dominichelli, do Canal Animal TV do Youtube.

Ilustrador e autores durante atividade para crianças no lançamento do livro no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (crédito: divulgação)

O livro “Gigantes do passado” é ilustrado por Pábulo Domiciano e permite saber onde esses animais viviam, do que se alimentavam e como era a convivência entre eles. Os autores apresentam também os parentes atuais desses animais do passado. “Na dedicatória, a gente colocou ‘para que as crianças conheçam o passado e tenham um exemplo para o presente e para a preservação do futuro’. Essa é a mensagem principal que a gente quer passar com o livro. Lógico que a curiosidade é a locomotiva para motivar isso”, completa Dominichelli.

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Transcrição do Áudio

Música: abertura de “O Futuro que me Alcance”, de Reynaldo Bessa, fica de fundo

Guilherme Dominichelli:
É muito bacana imaginar esses animais andando pela fauna brasileira, pelo ambiente hoje brasileiro, né? Existiram tigres-dentre-de-sabre no Brasil, animais como mastodontes, que são elefantes da época, essas preguiças grandonas… então é algo que eu gosto bastante assim, de falar desses animais que existiram no passado que surpreende as pessoas, né, eles eram bem diferentes dos modelos de animais que nós temos hoje no Brasil.
Meu nome é Guilherme Dominichelli. Eu sou biólogo, professor, escritor e, também, youtuber, eu tenho um canal no youtube chamado ‘Animal TV’.

Ariel Milani Martine:
Mas sempre tem a questão humana também que é muito curiosa, né? Os primeiros fósseis de preguiça gigante – esses bichos ocorrem no Brasil também –, mas as primeiras coletas foram feitas na Argentina, final de 1700 mais ou menos, e na época não se tinha o conceito de extinção que nós temos hoje. Então quando essas ossadas de preguiça foram levadas para a Espanha – porque a Argentina era colônia da Espanha – o rei Carlos III ficou admirado com aquilo e quis de qualquer forma ver uma preguiça viva. Ele está até hoje esperando a preguiça (ri).
Pouco tempo depois esse material de preguiça foi estudado por um naturalista francês chamado Georges Cuvier e ele foi um dos naturalistas que propuseram essa questão das extinções, que alguns animais vivos também podem deixar de existir.
Meu nome é Ariel Milani Martine e eu sou paleontólogo e professor universitário.

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Música instrumental de Reynaldo Bessa fica de fundo

Marcelo Abud:
Você sabia que com o desaparecimento dos dinossauros, os mamíferos gigantes passaram a ocupar o planeta na chamada Idade do Gelo, inclusive onde hoje fica o Brasil?

Ariel Milani Martine:
Há mais ou menos uns dois milhões de anos tivemos momentos de glaciações e entre uma glaciação e outra, há um momento que nós chamamos de interglacial, que é o momento mais quente. E isso vai intercalando aí nos últimos dois milhões de anos até chegar na última, que começou mais ou menos há uns 100 mil anos e acabou há uns dez mil anos atrás.
Nessa glaciação o homem chegou a ir para o hemisfério norte e aí sofreu as intempéries do frio extremo, lá da Europa principalmente.

Música: “Abominável Homem das Neves”, com Omar e os Cianos
Abominável homem das neves
Quero quebrar esse gelo
Vou começar esquentando de leve
Até incendiar seu corpo inteiro

Ariel Milani Martine:
Então quando a gente pensa em glaciação, a gente pensa em gelo, mas o miolão do mundo, lá na linha do Equador e nessa região tropical, não tivemos gelo praticamente. A água ficou absorvida em forma de gelo, então o nível do mar baixou, aumentando a linha da costa do Brasil e tinha menos umidade. E isso fez com que florestas tropicais recuassem, dando espaço a grandes áreas de cerrado, caatinga, pampa e nesse contexto de áreas mais abertas é que esses animais prevaleceram. A gente tem até um ditado na biologia que diz que ‘quanto maior o aquário, maior fica o peixe’. Então quanto maior o espaço de planície, maior os animais que vão ocupar essa planície. Eles passaram a ocupar melhor esse espaço.

Guilherme Dominichelli:
E esses ambientes atuais, parte também do Pantanal – beira do Pantanal –, da caatinga, como o Ariel falou, então a gente vê esses ambientes vazios. Isso, pra mim, choca bastante. A gente vê aquelas graminhas… grandes pastagens – nos pampas também – lógico que muitos lugares o homem usa hoje como criação de gado principalmente (o Brasil é um dos maiores produtores de gado do mundo), então usa essa pastagem natural pro gado. Natural porque ficou sem ninguém pra poder morar nesses locais, essa grande megafauna assim.
Então teve avanço depois das florestas que recuaram, como o Ariel falou, pois elas avançaram de novo – a floresta amazônica, a mata atlântica – essas grandes florestas assim onde é o Brasil hoje e aí essas pastagens também diminuíram. Mas o que tem hoje de grandes pastagens, principalmente no cerrado, a gente vê muito vazio assim, muito órfão de ter espécies animais – esses grandes pastadores – e, por consequência, os carnívoros que caçavam esses animais.

Som de página de livro sendo virada

Marcelo Abud:
No livro é possível saber onde esses animais viviam, do que se alimentavam e como era a convivência entre eles.

Guilherme Dominichelli:
Eu gosto muito dos proboscídeos. São os que têm aquele narigão, é a tromba, né, como tem o elefante asiático hoje, o elefante africano, então existiam muitos proboscídeos. Diversas espécies de mamutes, inclusive na Europa, na Grécia e tal.
E aqui na América do Sul nós tínhamos os mastodontes, bem semelhantes aos elefantes atuais, que eram bichos com poucos pelos, diferentes dos mamutes que são peludos porque no hemisfério norte era muito mais frio, com presas mais retas, não tão curvas como os mamutes que a gente conhece por gravuras. Outro animal lógico legal é o tigre-dente-de-sabre, que era do tamanho de um tigre, um pouco maior, mais robusto, talvez com a cauda mais curta, mas com aqueles dentes caninos superiores enormes que eles utilizavam para abater a presa e tudo mais – foram encontrados fósseis em Minas Gerais. Macrauquênia que é um animal diferentão aí, do tamanho de um camelo talvez, mas com uma tromba maior do que de uma anta.
E outros mais semelhantes, como a capivara maior do que a que existe hoje, um macaco chamado caipora que era maior do que existe hoje – o maior brasileiro é o mono-carvoeiro, chamado de muriqui – esse caipora era um pouco maior, mas mais semelhantes dos que têm na atualidade.

Ariel Milani Martine:
Quer dizer, a maioria desses animais extintos da megafauna tem parentes atuais, mas tinha bichos que não têm nenhum representante atual. Macrauquênia, por exemplo, é de uma ordem extinta de mamíferos. Tem outros bichos também que têm parentes atuais, mas são muito diferentes, como é o caso, por exemplo, dos gliptodontes, que são tatus, né? Então hoje os tatus são animais menores, mas antes haviam tatus muito grandes, que a carapaça deles lembrava um fusca assim, a cauda ficava dentro de um tubo e no final desse tudo tinha um porrete com espinho, que nem aquelas clavas medievais. Então esse bicho usava toda essa carapaça pra se defender e essa clava pra se proteger de predadores também e, às vezes, em disputas com outros machos pra conseguir harém, em disputa por fêmeas, né?
Nós tínhamos vários carnívoros – o Guilherme falou do tigre-dente-de-sabre – tínhamos matilhas de cães selvagens, muito parecidos com os lobos europeus, tínhamos urso da cara curta, que era um urso parecido com o urso de óculos hoje dos Andes, só que maior, é um bicho que em pé chegava a quase três metros de altura, né?

Música: “O Ursinho de pelúcia” (Toquinho), com Cláudio Nucci
Sou mais de frio do que de calor
E não preciso de cobertor
Se entro de férias vou hibernar
E quando sou branco, sou urso polar

Ariel Milani Martine:
Quando a gente fala desses bichos da megafauna brasileira quem brilha são as preguiças e, diferente das espécies atuais que são arborícolas, elas só vivem em árvores, na megafauna, eram bichos terrestres, por isso nós chamamos de preguiças terrícolas, as patas eram mais eretas; imagina um elefantão, mais ou menos assim, só que com as patas não tão colunares, então elas conseguiam dobrar mais as patas; a cabeça era pequena, tinha uma cauda gorda que se arrastava no chão e, às vezes, ela conseguia ficar bípede, conseguia ficar em pé pra pegar a vegetação, né? Nas mãos elas tinham grandes garras, dependendo da espécie pode ter uma, duas, três, quatro, cinco garras nas mãos, que eram usadas para baixar esses galhos pra pegar comida, para arrancar casca de árvore, porque elas comiam cascas de árvores e, também, para se defender de predadores. Então eram animais bem estranhos assim, bem diferentes do que temos hoje, mas eram parentes das nossas simpáticas preguiças atuais.

Som de página de livro sendo virada

Guilherme Dominichelli:
E se me permite, a gente tem aqui a dedicatória, a gente colocou ‘para que as crianças conheçam o passado e tenham um exemplo para o presente e para a preservação do futuro’. Essa é a mensagem principal que a gente quer passar com o livro. Lógico que a curiosidade que é a locomotiva pra motivar isso. E aí com essa curiosidade que é o gancho pra gente passar as informações que a gente deseja.

Ariel Milani Martine:
As informações elas não são informações corriqueiras. São informações tiradas de artigos, de estudos paleontológicos que às vezes o público em geral não tem acesso. A escrita foi pensada para o público infantojuvenil, mas um universitário pode ler isso e pode acabar se surpreendendo também.

Música instrumental de Reynaldo Bessa fica de fundo

Marcelo Abud:
O livro Gigantes do passado é repleto de fotos e ilustrações que revelam os mamíferos que viveram no Brasil durante Idade do Gelo e quem são seus parentes atuais.
Marcelo Abud para o Livro Aberto do Instituto Claro.

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