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O texto teatral é uma forma de trabalhar a fluência leitora de estudantes nos anos iniciais do ensino fundamental. É o que acredita a doutora em educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenadora de projetos no Instituto Avisa Lá Renata Frauendorf. Para a educadora, a prática social originada a partir da leitura dramática tem características que motivam o desenvolvimento de competências para melhorar a compreensão e o sentido do que se lê.

“A fluência leitora tem essa relação com a intencionalidade da leitura, e ela vai se construir na relação com o outro e tantos outros. Não é só a fluência oral, que é ler rápido e compreender, mas também a fluência semântica, que está nesse lugar da constituição dos sentidos”, analisa.

Frauendorf ressalta que, para estudantes dos terceiro, quarto e quinto anos do ensino fundamental, a proposta não é encenar a peça, mas estimular a leitura dramática com o grupo.

“O trabalho com o texto teatral coloca os estudantes nesse lugar de realizar a leitura em voz alta para os outros, que dependem dele para compreender aquela história que eles estão contando e que está organizada com o texto teatral”, explica.

O texto teatral se organiza em cenas e diálogos. A educadora ressalta outra particularidade que torna ainda mais interessante a leitura em voz alta desse estilo de texto: as rubricas.

“É uma informação que vem entre parênteses. E essa informação é determinante para você compreender a ação, o jeito daquele personagem, por exemplo, responder a uma pergunta. Então, a inferência e a antecipação são colocadas o tempo todo em jogo, porque se eu não considero o que está de informação entre parênteses, eu dificilmente vou compreender [o conteúdo] no contexto geral”, argumenta Frauendorf.

A docente aponta ainda no podcast como a leitura dramática se torna uma prática inclusiva em sala de aula e traz dicas de textos teatrais para trabalhar em sala de aula com alunos dos anos iniciais do ensino fundamental.

Veja mais:

Textos dramáticos: leitura e encenação teatral

Crédito da imagem: FatCamera – Getty Images

Transcrição do Áudio

Música: Introdução de “O Futuro que me Alcance”, de Reynaldo Bessa, fica de fundo

Renata Frauendorf:

Algumas das características do texto teatral contribuem com a fluência leitora, se a gente tomar como referência essa concepção que envolve não só fluência como rapidez ou como compreensão, mas colocar em jogo os diferentes saberes, as diferentes estratégias de leituras, diferentes capacidades de um leitor para construir o sentido do texto.

É a situação de leitura pela professora, a situação de leitura colaborativa para compreender esse texto que eles vão fazer a leitura dramática, a leitura em pequenos grupos onde eles ensaiam, eles experimentam esse texto.

Eu sou a Renata Frauendorf, doutora em educação pela Unicamp e sou coordenadora de projetos no Instituto Avisa Lá.

Vinheta: Instituto Claro – Educação

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

Marcelo Abud:

O texto teatral pode ser uma forma de contribuir para estratégias que levam à fluência na leitura. As características desse gênero narrativo estimulam estudantes a buscarem a compreensão e o sentido daquilo que leem.

Renata Frauendorf:

A fluência leitora, ela se relaciona não só com a capacidade de compreensão – compreender o texto -, mas ela envolve um conjunto de estratégias que se relacionam, que implicam, que contribuem para essa compreensão.

Que estratégias são essas? A estratégia de antecipação, quando o leitor antecipa o que pode estar ali no texto; a verificação, quando aquilo que ele antecipou, ele vai buscar no texto se a hipótese dele fazia sentido ou não; a inferência, generalização, entre outras estratégias.

A fluência leitora tem essa relação com a intencionalidade da leitura, e ela vai se construir na relação com o outro e tantos outros. Não é só a fluência oral, que é ler rápido e compreender, mas também a fluência semântica, que está nesse lugar da constituição dos sentidos.

Marcelo Abud:

O texto teatral tem características próprias. Para que faça sentido, quem lê precisa entender a forma como esse texto é apresentado.

Renata Frauendorf:

Ele vai se organizar por cenas, na forma, na grande maioria das vezes, de diálogo entre diferentes personagens. Tem uma especificidade que são as rubricas. É uma informação que vem entre parênteses. E essa informação, ela é determinante para você compreender a ação, o jeito daquele personagem, por exemplo, responder a uma pergunta. Então, a inferência e a antecipação, elas são colocadas o tempo todo em jogo, porque se eu não dou bola, vamos dizer, né, se eu não considero o que está de informação entre parênteses, eu dificilmente vou compreender no contexto geral.

Então, não basta só dizer qual é o seu nome, por exemplo, se é essa a fala da personagem, se entre parênteses vem escrito com raiva, por exemplo, não é apenas “Qual é o seu nome?”, mas é o [muda tom] “Qual é o seu nome?”. E isso implica na compreensão desse personagem.

Marcelo Abud:

Renata Frauendorf indica o trabalho mais aprofundado com o texto teatral a partir dos terceiro, quarto e quinto anos do ensino fundamental. Ela explica como a leitura dramática contribui para a formação leitora.

Renata Frauendorf:

A leitura em voz alta é o cerne da questão, né? É o coração da proposta. Normalmente é o professor que faz a leitura em voz alta. Quando a criança, o estudante, ele é convocado para fazer a leitura em voz alta, normalmente é numa situação de avaliação.

Então o trabalho com o texto teatral coloca os estudantes nesse lugar de realizar a leitura em voz alta para outros, que dependem dele para compreender aquela história que eles estão contando e que está organizada com o texto teatral.

Marcelo Abud:

Para trabalhar a fluência e o entendimento do texto com os alunos, a educadora vê na leitura dramática uma prática social eficiente.

Renata Frauendorf:

Os leitores, eles não encenam. Essa é a grande questão do trabalho com o texto teatral pra desenvolvimento da fluência leitora. Eles leem o texto. Cada personagem vai fazendo a sua entrada, a sua leitura, incorporando no seu ato de ler as características desse personagem que ele foi conhecendo ao longo do trabalho com o texto.

Então, a leitura dramática, ela é uma prática que a gente tem realizado na sala de aula, ela demanda um estudo do texto, porque os meninos sabem que eles vão ler para outros, né? Os estudantes sabem que eles vão se expor e ninguém quer se expor sem estar preparado. Então ele demanda essa leitura diversas vezes. E não é porque o professor mandou, é porque tem um sentido ensaiar.

A leitura dramática, ela envolve outros. Ele não está sozinho nesse desafio de se deparar com aquele texto e resolver tantos problemas, que, às vezes, são colocados para ele como leitor. E essa relação dele com esse outro para ajudar a compreender esse texto e conferir um sentido que, no conjunto, possa impactar aquele que está ouvindo, é algo que está presente na leitura dramática.

Marcelo Abud:

Frauendorf aponta a leitura dramática de textos teatrais como uma atividade que tem caráter de inclusão. Ela avalia que essa prática costuma ser bem recebida, também, entre crianças que têm algum tipo de deficiência.

Renata Frauendorf:

É que alunos que não se sentem confortáveis em realizar a leitura em voz alta, porque eles sabem que estão sendo avaliados; numa situação em que eles vão participar de um momento de leitura dramática com outros colegas, eles se sentem altamente incluídos e desejam participar, mesmo aqueles alunos que são leitores menos autônomos.

A gente tem vários relatos de professores de crianças autistas, crianças que têm algum tipo de deficiência e que, geralmente, nessas situações de exposição preferem não se colocar, que nesse trabalho, elas se encontram. E isso é muito bonito da gente pensar, né, que é um trabalho que também tem essa possibilidade altamente inclusiva com os diversos estudantes. Isso é extremamente respeitoso.

Marcelo Abud:

A educadora cita alguns textos teatrais para trabalhar nos anos iniciais do ensino fundamental.

Renata Frauendorf:

A gente tem uma grande contribuição que é toda a produção da Maria Clara Machado, um texto que a gente costuma trabalhar muito com as crianças, é “Pluft, o Fantasminha”. As crianças se identificam, né, os meninos de terceiros, quartos anos.

Tem adaptações de contos, mas uma coisa é o professor fazer uma adaptação e virar teatro, e não é disso que eu estou falando. E a outra coisa é uma adaptação para o texto teatral. Tem textos, por exemplo, um que foi muito marcante na minha história como leitora, criança, “A Fada que tinha ideias”. Ele é um conto, e ele foi adaptado para o texto teatral. A autora faleceu recentemente, Fernanda Lopes de Almeida. A gente tem Shakespeare, que tem textos teatrais adaptados para esse público de terceiros, quartos e quintos anos.

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

Marcelo Abud:

Renata Frauendorf acredita na leitura dramática de textos teatrais como prática para desenvolver competências leitoras nas crianças. Ao se prepararem para o momento da leitura coletiva, cada uma delas busca alcançar fluência para que possa ser entendida por toda a turma.

Marcelo Abud para o podcast de Educação do Instituto Claro

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