“Com perdão da palavra, sou um mistério para mim.”
(Clarice Lispector, em A descoberta do mundo)
Há aproximadamente 40 anos, pouco depois do lançamento do livro “A hora da estrela”, em 9 de dezembro de 1977, morria a escritora Clarice Lispector. Nesta edição do Livro Aberto, a doutora em Letras e professora da Universidade de São Paulo (USP) na área de Literatura Brasileira, Yudith Rosenbaum, fala sobre a vida desta que é considerada uma das mais importantes representantes da literatura brasileira.
Autora dos livros “Folha explica Clarice Lispector” e “Metamorfoses do mal: uma leitura de Clarice Lispector”, Yudith considera Clarice muito atual e ressalta que sua obra dela ainda é publicada em muitas línguas, com boa repercussão na crítica internacional.
Lispector criou romances, contos, crônicas e livros infantis e, segundo Yudith, resiste a todas as tentativas de enquadramentos, classificações ou definições. “A sua condição de judia, de estrangeira, alimentou sua literatura, mas sua identidade é do Brasil”. Ao longo de três décadas dedicadas à escrita, Clarice torna a relação com língua portuguesa algo fora do habitual além de trazer um olhar de estrangeiro, de quem estranha tudo e espanta-se com o cotidiano.
No áudio, Yudith elenca alguns dos temas centrais da obra da autora. Um dos mais recorrentes, mas sempre apresentado por novos ângulos, é a condição da mulher. Clarice discute em diversos de seus textos, “a mulher e o feminino, a mulher na sociedade mais patriarcal dos anos 40 e 50, a mulher dentro de um cotidiano aprisionante, os papéis da mulher, a mulher esposa, a mulher mãe”.
Como característica marcante da obra de Clarice, a professora destaca a epifania: “as descobertas, as iluminações no meio do cotidiano, sempre fugazes, transitórias… a personagem descobre algo novo dela mesma e muitas vezes ela volta ao cotidiano anterior à descoberta”. Outro aspecto presente é o jogo entre identidade e alteridade: “o outro sempre me reflete como um espelho, mas, portanto, reflete quem eu sou, – a minha identidade -, e também a minha diferença”.
Ainda nesse Livro Aberto, Yudith comenta e lê um trecho de Amor, extraído do livro “Laços de família”. Para a entrevistada, esse conto é uma boa porta de entrada para o universo de Clarice, que certa vez afirmou que seus livros “não são superlotados de fatos e sim da repercussão dos fatos nos indivíduos”.
Links
Aqui você pode acessar o artigo “As metamorfoses do mal em Clarice Lispector”.
Acesse uma experiência educativa dirigida ao Ensino Médio, a partir de uma das obras de Clarice.
Créditos:
As músicas utilizadas nesta edição do Livro Aberto, em ordem de entrada, são: “O Que será (À Flor da Pele)”, de Chico Buarque, “O estrangeiro” (Caetano Veloso), “A hora da estrela” (John Ulhôa), com Pato Fu, “Diáspora” (Arnaldo Antunes), com Tribalistas, “Os Cegos do castelo” (Nando Reis), com Titãs, e “Joana” (Claudio Frêp).