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Max Dalarme tinha apenas 7 anos quando escreveu e desenhou seu primeiro livro, em 2019. “Eu sou o Max!” está sendo lançado agora e traz a história de um menino que ama sua família e o cachorro Maui. “Entrar em contato com o Max e com os desenhos e a escrita dele, pra mim, foi uma revolução, porque a minha experiência com o universo Down era de pessoas limitadíssimas, isoladas e sozinhas. Mas o Max, desde bebê, é estimulado e tem esse universo rico”. É assim que Cris Eich, ilustradora do livro, percebe o talento do garoto.

A artista conheceu Max e a mãe dele em uma livraria, no Rio de Janeiro. Era verão e Eich se surpreendeu ao ver a criança se enfiar no meio dos livros como se fosse a casa dele. “Max tem uma alma de artista. Ele não gosta apenas da leitura e de livros, ele gosta de pintar, desenhar, teatro”, revela Melissa Dalarme, mãe do menino.

menino com síndrome de down e cachorro
Max e seu cachorro Maui (crédito: acervo pessoal)

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Aventuras e diversidade

A narrativa do livro é simples e singela. Nela, Max apresenta a ele próprio e ao universo que o rodeia. Ao narrar essas aventuras cotidianas, constrói uma história em que o olhar infantil passeia pelas conquistas e alegrias da rotina, que inclui aulas de natação, treinos de capoeira, surfar com o pai e uma visão amorosa para a diversidade.

Eich conta um episódio que ilustra a personalidade de Max e que também foi parar no livro: “Um elevador cheio de gente e as pessoas se prensavam no canto para caber uma senhora na cadeira de rodas e o Max, que estava com o skate na mão, se aproximou dessa senhorinha e falou ‘não se preocupe, eu também tenho rodinhas e acho muito legal’. Eu imagino as pessoas dentro daquele elevador como é que se sentiram”.

ilustração cadeirante
Ilustração do livro “Eu sou o Max” (crédito: reprodução/ Cris Eich)

 

“Tudo bem ter rodas na cadeira! Eu tenho rodas na bicicleta, no skate, no carro, no caminhão.

O bebê tem rodas no carrinho… Eu amo pessoas e animais!”
(“Eu sou o Max!”, página 40)

De acordo com a mãe de Max, que participa ativamente de grupos sobre o assunto, no Brasil, há apenas três escritores adultos com Down, de cujas obras são coautores. Há também obras escritas por familiares de pessoas com Down que falam sobre o assunto. Foi um desses livros, inclusive, que inspirou Max em sua criação: “As aventuras de uma criança Downadinha”, de Alessandra Almeida Maltarollo. No entanto, a produção autônoma de um livro como “Eu sou o Max!” é única e tem inspirado outras pessoas a não limitarem a capacidade de alfabetização e inclusão de crianças como Max.

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Transcrição do Áudio

Música: “Futuro”, de Reynaldo Bessa, de fundo

Cris Eich:
Entrar em contato com o Max e com os desenhos e a escrita dele, pra mim, foi uma revolução. Porque a minha experiência com o universo down era de pessoas limitadíssimas, isoladas e sozinhas. Mas o Max ele desde bebê ele é muito estimulado e ele tem esse universo rico, né, e o tempo todo ele está trabalhando nisso. Ele não vê um problema na frente dele; ele não vê um limite.
Eu sou a Cristina, ilustradora. Assino meus trabalhos como Cris Eich, ilustrando livros para crianças há mais de trinta anos.

Melissa Dalarme:
Ele tem uma alma de artista. Ele não gosta apenas da leitura e apenas de livros. Ele gosta de pintar, desenhar, ele gosta de tela, teatro… Então é uma veia artística muito forte.
Sou a Melissa, mãe do Max, entre outras (risos) atividades. Max me deu o privilégio de uma maternidade, assim, maravilhosa.
E você, qual é o seu nome?

Max Dalarme:
Eu sou o Max!

Vinheta: Livro Aberto – obras e autores que fazem história
Som de página de livro virando

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, de fundo

Marcelo Abud:
Um livro escrito e ilustrado por um garoto de 7 anos. Nele, Max descreve a rotina e o mundo à sua volta de maneira cativante. O menino com Síndrome de Down, a ocorrência genética mais comum do mundo, mas ainda cercada de rastros de preconceito e desinformação.
A mãe, Melissa, explica como nasceu a ideia do livro.

Melissa Dalarme:
O Max ele leu uma biografia da Alessandra. O livro é “As aventuras de uma Downadinha”, que conta a história de uma criança que tem Síndrome de Down, que é a Clarice. Foi a mãe escrevendo com o olhar da filha. Ele terminou a leitura desse livro e ele falou: “Mamãe, cadê o meu livro?”. “Não, você não tem o seu livro”. ‘Como eu não tenho o meu livro, a Clarice tem o livro dela!’. Bom, ele correu para o quarto e ele tem acesso a papel, lápis, fez o desenho, a primeira ilustração dele – o primeiro desenhinho dele como pessoa – e ele escreveu em cima: “Eu sou o Max!”. Ele voltou e falou ‘olha, mãe, aqui eu começo o meu livro’. “Tudo bem, então, filho. Está ótimo!”. Eu confesso que nessa primeira página eu não prestei muita atenção. Mas ele guardou numa pasta especial e começou a escrever outras páginas contando a história dele, exatamente como está neste livro agora.

Música: “Cananéia, Iguape e Ilha Comprida” (Emicida)
Crianças, risos e janelas
Namoradeiras, tranças, chitas amarelas
O vermelho das telhas, o luzir da centelha te faz sentir como dentro de uma tela

Melissa Dalarme:
Passados uns dez meses, ele me entregou o livro e falou: “Agora está pronto, pode fazer o meu livro virar de verdade” (risos). Foi um projeto todo dele. E assim foi feito o livro “Eu sou o Max!”.

Som de página de livro sendo virada

Marcelo Abud:
A partir do original escrito e desenhado pelo menino, Max pediu à mãe que procurasse uma ilustradora. Ele queria que “Eu sou o Max!” tivesse desenhos de Cris Eich.

Melissa Dalarme:
A busca pela Cris foi porque ele queria – no livro dele, que já estava pronto – a desenhista (risos), não ilustradora, do “Amigo do Rei”, da Ruth Rocha, que inclusive é uma das escritoras favoritas do Max.

Marcelo Abud:
O Instituto Claro conversou com a ilustradora. Cris faz uma audiodescrição da imagem que abre o livro.

Som de ondas do mar e latido de cachorro ao fundo

Cris Eich
É uma cena de praia, uma luz quente. A gente sabe que é um dia quente porque há muita cor amarela nesse desenho. O garoto ele está de camisa, ele está de calça, ele tem tênis, um cachorrinho ao lado, um cachorrinho branco; e ele está se apresentando, dizendo que ele é o Max.

Max Dalarme:
Eu sou o Max. Tenho 7 anos. Sou uma criança feliz e divertida. Sou um menino bonito, carinhoso, educado e valente. Eu sou o Max!

Cris Eich
Atrás dele, uma praia toda imersa em cor amarela também. É um dia de muito calor. A gente vê as ondas brancas, imagina o vai e vem das ondas; e a gente vê coqueiros, e eu imagino o vento batendo nas folhas do coqueiro.

Música: “O Sol’ (Vitor Kley)
Ô, sol
Vê se não esquece
E me ilumina
Preciso de você aqui
Ô, sol
Vê se enriquece
A minha melanina
Só você me faz sorrir

Max Dalarme:
Eu moro no Rio de Janeiro, com meu papai, minha mamãe e o Maui.

Som de latido de cachorro misturado ao de página de livro sendo virada

Cris Eich:
A gente vira a página e a gente vê um garoto agachado, ele está com a mesma roupa; ele tem uma camiseta, ele tem uma calça jeans, um tênis, e no colo dele tem um cachorro. O cachorro é quase do tamanho dele e o Max ele tem os dois braços envolvidos nesse cachorro e dá um beijo (ênfase) estalado no cachorrinho, que a gente quase consegue ouvir aquele barulho ‘smaaaaachhh’. E o coraçãozinho sai do beijo do Max e do seu cachorro. O c achorro chama Maui: ele é branquinho, tem um nariz preto e as orelhas pontudinhas.

Marcelo Abud:
O olhar infantil espelha um mundo repleto de amor, coragem e empatia. Cris destaca outra passagem do livro que se emocionou ao ouvir de Max e Melissa.

Cris Eich:
Eles me contaram uma história, assim, é de absoluta poesia. A imagem que eles me contaram era o elevador, cheio de gente, né, em algum lugar público; uma senhora lá dentro, de cadeiras de rodas, muito ‘timidazinha’, ela entrando acanhada – porque a cadeira de rodas ocupa muito espaço. Aí era um elevador cheio de gente, então as pessoas que prensaram num canto pra caber senhorinha com a cadeira de rodas e o Max, que estava com um skate na mão se aproximou dessa senhorinha e falou: ‘Olha, não se preocupe. Eu também tenho rodinhas e acho muito legal’.
Eu imagino as pessoas dentro daquele elevador como é que se sentiram, né? Esse é o cartão de visita, esse é o Max Dalarme, né? E é por isso que essa cena começa com uma senhorinha cadeirante, é real, isso aconteceu. Ele se aproximou, ele fez um carinho nela. Ele não usa isso, não é uma retórica vazia, um politicamente correto, ele pratica, ele acredita e funciona dessa forma. Isso que é fantástico. Eu, apaixonada por Max Dalarme.

Som de página sendo virada

Marcelo Abud:
Melissa lê esse trecho do livro escrito pelo filho.

Melissa Dalarme:
Tudo bem ter rodas na cadeira. Eu tenho rodas na bicicleta, no skate, no carro, no caminhão… O bebê tem rodas no carrinho! (Tsic) Ah…

Melissa e Max:
Eu amo pessoas e animais.

Max Dalarme:
Fim! Só que não!

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, de fundo

Marcelo Abud:
A narrativa em “Eu sou o Max!” é simples e singela. Ao contar essas histórias cotidianas, Max constrói uma história em que o olhar infantil passeia pelas conquistas e alegrias da rotina e cria um universo exuberante e cheio de graça.
Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Livro Aberto, do Instituto Claro.

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