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Em 2020, com a adaptação das aulas para o ambiente online, o Laboratório de Investigação Fonoaudiológica em Voz, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), passou a acompanhar as adaptações que professoras e professores tiveram de fazer para lidar com essa mudança. Para a coordenadora do laboratório, Katia Nemr, a volta à sala de aula exige um novo preparo vocal.

Volta às aulas presenciais

“Nós estamos agora nos readaptando a esse convívio social. Se esse professor está andando na sala e a sala é muito grande ou muito cheia, ele pode ter de elevar muito o tom da voz para que possa ser ouvido. E isso gera um esforço muito maior”, exemplifica.

No podcast, a fonoaudióloga traz dicas para manter a voz saudável, mesmo diante de fatores de risco, como trânsito, poeira do giz, jornadas exaustivas e, inclusive, sequelas em quem teve covid-19.

Cinco dicas

Confira abaixo um resumo dos apontamentos que Nemr detalha no podcast:
1. Usar microfone, sempre que possível, ajuda a projetar a voz com menos esforço;
2. Adaptar a aula para utilização de recursos audiovisuais, mapas mentais e slides faz com que a voz seja poupada em alguns períodos;
3. Diante de jornadas muito longas, faça alongamentos nos intervalos e mantenha o corpo hidratado. Tome água pelo menos meia hora antes do início das aulas;
4. Em salas de aula que usam giz, limpar a lousa com pano umedecido e tomar cuidado para que o pó não se espalhe, ajuda muito;
5. Bebidas e cigarro, inclusive o eletrônico, são prejudiciais também à garganta.

Veja mais:

Em aulas remotas, professores devem tomar ainda mais cuidado com a voz

Problemas de voz fazem parte da rotina do professor

Vídeos do Lif Voz sobre cuidados vocais para as aulas

Transcrição do Áudio

Música: Introdução de “O Futuro que me Alcance” (Reynaldo Bessa) fica de fundo

Katia Nemr:
Rouquidão não é um estado normal. E muitos professores se surpreendem quando eu falo isso, porque eles acham que a rouquidão faz parte da profissão. E não pode fazer parte. Se tem rouquidão, se tem falhas na voz, há alguma coisa acontecendo e nós temos que estar atentos a isso. Cuide da alimentação, do lazer, do sono, do descanso…
Então, tudo isso, é fundamental pra você cuidar da voz. Fora, obviamente, aqueles fatores de risco já conhecidos: o fumo, álcool, o cigarro eletrônico, que tem mostrado aí alterações importantes pulmonares, que vão repercutir na voz e na comunicação.
Eu sou Katia Nemr, livre-docente pela faculdade de medicina da USP, coordenadora do Laboratório de Investigação Fonoaudiológica em Voz (Lif Voz), aqui da Faculdade de Medicina da USP.

Vinheta: Instituto Claro – Educação

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

Marcelo Abud:
Nos últimos dois anos, quem dá aula passou por diferentes adaptações. E agora, com o retorno às escolas, muitos voltam a lidar com salas cheias, lousa de giz e, em alguns casos, jornadas de trabalho intensas. Neste momento, os cuidados com a voz são ainda mais importantes.

Katia Nemr:
É um grande desafio, porque nós estamos todos vindo de um período de grande estresse. Enquanto o ensino remoto poupou, de alguma maneira, a voz de uma boa parte dos professores (foi isso que nós vimos nos nossos estudos preliminares) – nesse retorno presencial, um certo medo permanece: nós estamos agora nos readaptando a esse convívio social. Se esse professor está andando na sala e a sala é muito grande ou muito cheia, enquanto ele está falando num determinado canto da sala, o outro canto pode estar perdendo essa mensagem. E ele pode ter que elevar muito o tom da voz pra que ele possa ser ouvido. Isso gera um esforço muito maior.

Marcelo Abud:
A fonoaudióloga traz dicas para que professoras e professores consigam cuidar e preservar a voz, mesmo diante de situações adversas.

Katia Nemr:
Uma primeira dica, que dependerá, obviamente, das condições do local, é o uso de microfone. Se houver essa possibilidade, ótimo pra poupar a voz. Caso não tenha (nós sabemos que muitos locais não têm essa possibilidade), manter um tom de voz confortável; lançar mão de recursos didáticos-pedagógicos que você poupe mais a voz, então recursos audiovisuais, mapas mentais, slides (adaptar a sua aula de uma maneira que você se desgaste menos com a sua voz).

Música: “Minha voz, minha vida” (Caetano Veloso), com Gal Costa
Minha voz, minha vida
Meu segredo e minha revelação
Minha luz escondida
Minha bússola e minha desorientação

Katia Nemr:
Diante de períodos com muita demanda de aula… Você sabe que vai dar aula o dia todo ou você sabe que vai dar aula nos três períodos, não deixe de se alongar nos intervalos, de se hidratar muito bem. Tão importante quanto manter a hidratação durante as aulas, é a hidratação, pelo menos meia-hora antes do início das aulas. Manter esse corpo hidratado vai fazer com que sinta menos sensação de secura, menos pigarro, menos tosse, menos agressão para as pregas vocais. Se você está pigarreando, se você está com a sensação de garganta seca, já passou da hora de você tomar água.

Marcelo Abud:
E o que fazer em escolas em que a lousa ainda é de giz e a sala fica com muito pó?

Katia Nemr:
Limpar a lousa com pano umedecido diminui essa dispersão desse pó (ajuda muito) e a hidratação. Teve que usar o giz? Ok, se hidrate, tenha cuidado com a limpeza do quadro para que não espalhe esse pó (isso pode ajudar muito).

Música: “Dono do pedaço” (Gilberto Gil)
Dono do pedaço
Escrevo e driblo amor e dor
Soberano, traço
Quem eu quero, eu sei ser
Quadro, giz e apagador

Katia Nemr:
Cigarro já está mais do que provado na literatura o malefício (a minha aérea de origem é câncer de cabeça e pescoço). Então, fumo e álcool (e quando associados) potencializam o risco de câncer de cabeça e pescoço. Então, essa nova fase aí que nós estamos entrando com esse cigarro eletrônico é, de fato, bastante preocupante. Não tem o mesmo cheiro e o mesmo gosto, mas, naquele líquido, tem de tudo. Até aqueles líquidos que falam que não têm nicotina, foi encontrado. Então, é sempre desaconselhável.

Marcelo Abud:
O Lif Voz, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo tem desenvolvido uma série de estudos sobre o impacto da pandemia na voz. A pesquisa coordenada atualmente por Katia Nemr avalia os efeitos da chamada covid longa no cotidiano da sala de aula.

Katia Nemr:
Nós recebemos ainda pacientes relatando rouquidão persistente, um cansaço pra falar. Então, se este professor teve Covid e percebe essas alterações mais tardias, é muito importante que ele tenha um retorno paulatino a essa demanda vocal. Então pra esse professor fazer uso de instrumentos didáticos, de recursos audiovisuais, é ainda mais importante. Se ele puder usar o microfone, ele vai se beneficiar muito mais. Manter-se hidratado; manter-se em controle médico, fazendo exames periódicos, é muito importante pra que ele vá, paulatinamente, voltando a carga (digamos assim) de demanda vocal, que ele tinha antes da Covid.

Música: “Devastador” (Marcelo Abud / Reynaldo Bessa), com Rita Benneditto e Reynaldo Bessa
Canta, ama, narra, doma, pega e cria
Trova, encanta, versa, entrega, concilia

Marcelo Abud:
Além de melhorar a comunicação na sala de aula, cuidar da voz evita a rouquidão, o pigarro e problemas mais sérios de saúde.
Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Instituto Claro.

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