Recentemente foram publicados os resultados do Ideb e como já estamos acostumados, começam a aparecem rankings, discursos inflamados e, num ano eleitoral, se juntam as soluções mágicas e as promessas duvidosas para “mudar isso tudo que está aí”, inclusive os resultados do Ideb. Vamos, então, olhar alguns dos resultados com olhar curioso, mas não embotado pela pressa de usá-los a favor de um discurso ou de um candidato. 

O Ideb, sigla de Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, foi criado em 2007, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Tem por objetivo medir a qualidade do aprendizado nacional e estabelecer metas para sua melhoria.  O índice é calculado considerando a taxa de rendimento escolar, baseada no fluxo aprovação, reprovação e abandono, e as médias de desempenho nos exames aplicados pelo Inep, que são a Prova Brasil e o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb).
 
Os exames são realizados junto a uma amostragem de alunos do 5º e 9º ano do ensino fundamental e do 3º ano do ensino médio, a cada dois anos. A partir do índice de cada escola, é estabelecida uma meta para aquela unidade. Espera-se que, até 2022, todas as escolas consigam chegar à nota 6, que é o padrão considerado aceitável pelos países desenvolvidos, integrantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (Ocde).  
 
Temos pouco a celebrar, diante dos últimos resultados, já que eles mostram um passo para frente e alguns passos para trás, o que fica visível nos resultados que ficaram abaixo da meta prevista ou que foram piores do que os publicados há dois anos. Mas temos o que aprender com esses dados, se olharmos para eles como olhamos para placas de direção numa estrada. Eles podem indicar caminhos a seguir, rotas a refazer e a redirecionar. 
 
Podemos dizer que o trabalho realizado nas séries iniciais do ensino fundamental vêm surtindo efeito. Este é o único segmento que ultrapassou a meta, atingiu 5,2, um pouco acima dos 4,9 previstos. No entanto, o resultado não significa que professores e gestores podem ficar sossegados. Em primeiro lugar, porque esse número é a média. Há escolas que pontuaram acima e outras abaixo. Mais do que ranqueá-las, é fundamental compreender os passos corretos dados pelas escolas que obtiveram melhor desempenho, partilhar a suas boas práticas e reorientar a rota das escolas com piores resultados. Planejar e construir o caminho para a melhoria de todos.
 
Nos demais segmentos, as metas não foram atingidas, as séries finais do ensino fundamental marcaram na média 4,2, menos do que os 4,4 esperados, e o ensino médio manteve a marca de 3,7, abaixo dos 3,9 previstos. Menos da metade dos estados melhorou os seus índices nas séries finais do ensino fundamental e só quatro estados avançaram no ensino médio.
 
Alguns elementos podem iluminar os problemas a enfrentar. Se olharmos o ensino médio, considerado o segmento mais problemático, o índice 3,7 esconde alguns dados interessantes. Na rede pública, que atende 97% dos estudantes, a média das escolas federais foi 5,6. Isso indica que o país teria condições de oferecer educação pública de qualidade, que ficou a frente inclusive, das médias das escolas particulares. Alguns dados podem explicar o quadro. O gasto por aluno matriculado nas instituições federais é quase o triplo daquele feito para cada aluno nas redes públicas. Outro dado é salário dos professores, bem maior do que o das demais escolas públicas, o que garante que muitos trabalhem numa só escola e tenham títulos de mestres e doutores.
 
Os resultados do Ideb devem ser entendidos como mais um instrumento que pode auxiliar a orientação do trabalho pedagógico nas escolas (ele não é o único!). A leitura e a compreensão desses dados ajudarão professores e gestores. Se a escola conseguir fazer disso um elemento que contribua para garantir o direito de todos os alunos à educação de qualidade, valerá o esforço e o dinheiro gasto para a realização do exame. Se não for para devolver o investimento feito em qualidade de ensino, a avaliação serve pouco.
 

O Instituto Claro abre espaço para seus colunistas expressarem livremente suas opiniões. O conteúdo de seus artigos não necessariamente reflete o posicionamento do Instituto Claro sobre os assuntos tratados.

Autor Zilda Kessel

Zilda é educadora, mestre em Ciência da Informação pela ECA (USP) e doutoranda em Educação na PUC-SP. Professora da pós graduação do Senac, atua em projetos na área de difusão cultural e tecnologia educacional. Também, é assessora pedagógica do portal NET Educação.

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