Animar significa dar alma. Os desenhos animados sempre dão vida a animais, coisas ou personagens criados. O contrário dos filmes de animação é o que se chama live-action (trabalhos realizados por atores reais), animar significa DAR ALMA.
A animação teve início do século XX e demandava muito tempo e trabalho. É claro que no Brasil o processo foi ainda mais trabalhoso, pois a indústria cultural custou a ser constituída por aqui.
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História da Animação
Os primeiros animadores eram verdadeiros heróis, pois fizeram os seus trabalhos sem financiamento, apoio ou escola para aprender. Também não tiveram qualquer financiamento para um trabalho tão detalhado e demorado (os quadros eram desenhados um a um). Por isso mesmo, é importante observar o trabalho desses criadores e homenageá-los. Vamos conhecer os pioneiros da animação no Brasil:
- Álvaro Marins, um cartunista conhecido como Seth, realizou o primeiro desenho animado no Brasil denominado Kaiser (1917). Como o desenho se perdeu, a partir de registros nos jornais, vários animadores brasileiros contemporâneos resolveram recriar essa animação coletivamente. Um comentário sobre a homenagem pode ser visto no vídeo Luz Anima Ação – Trailer Kaiser.
- Gilberto Rossi e Eugênio Fonseca Filho realizaram um desenho animado chamado As Aventuras de Bille e Bolle, em 1918, inspirados nos personagens Mutt e Jeff, de Bud Fisher. Segundo a Cinemateca Brasileira, embora o desenho tenha se perdido, a história girava em torno de dois bonecos que desciam de um avião no Viaduto do Chá, em São Paulo, e visitavam as casas comerciais, fazendo travessuras.
- Luiz Seel e João Stamato realizaram uma animação de 5 minutos em 1929, chamada Macaco Feio, Macaco Bonito, cuja estética era bastante inspirada nos desenhos dos irmãos Fleischer. A produção conta a história de um macaco que foge do jardim zoológico e é perseguido por um guarda.
- Anélio Latini demorou 6 anos, com trabalho diário, para realizar os desenhos do primeiro longa de animação do Brasil, chamado Sinfonia Amazônica (1953). Seu irmão Mário Latini fotografou os desenhos. A história é uma coletânea de lendas folclóricas da Amazônia. O filme está em processo de restauração.
Em 1972, o imigrante japonês Ypê Nakashima, que desenhava para publicidade (entre outros ele fez os desenhos dos cobertores Parahyba, para a televisão) realizou o primeiro longa-metragem colorido de animação, chamado Piconzé que, felizmente, está totalmente preservado e pode ser conhecido.
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As cores de Nakashima
Maurício de Sousa e a Turma da Mônica
Nos anos 1960 os quadrinhos brasileiros ganharam um novo perfil com a chegada aos jornais das tirinhas de Maurício de Sousa. Os primeiros personagens foram Piteco e Horácio, que contavam histórias engraçadas ambientadas na pré-história. Os primeiros gibis de Maurício surgiram nas bancas em 1970, com a Turma da Mônica, e o sucesso foi absoluto. Foi uma ousadia muito grande lançar um gibi com personagens brasileiros, num mercado totalmente dominado pela Disney. Foi exatamente a identificação das nossas crianças com personagens como Cascão, Magali, Cebolinha, Mônica, Franjinha, que conquistou o público.
Depois de entrar na vida das crianças brasileiras com as histórias em quadrinhos, é que a Turma da Mônica chegou às produções audiovisuais. O primeiro desenho animado da Turma da Mônica nos cinemas foi As Aventuras da Turma da Mônica, em 1982. O filme é uma mistura de animação com live-action. No ano seguinte, foi lançado o longa de animação A Princesa e o Robô. Os dois desenhos fizeram muito sucesso no cinema e são considerados clássicos da animação. Infelizmente não foram lançados em DVD (apenas em VHS), mas podem ser vistos, na íntegra, no youtube.
Em 1985, Maurício de Sousa se une a Renato Aragão e lançam o filme Os Trapalhões no Rabo do Cometa, com direção de Dedé Santana, combinando animação com live-action. Todos os outros filmes de animação lançados pelos estúdios Maurício de Sousa fizeram muito sucesso: As Novas Aventuras da Turma da Mônica (1986); Mônica e a Sereia do Rio (1987, novamente animação misturada com live-action, com participação de Tetê Espíndola); Cine Gibi (2004).
O filme mais recente da Turma da Mônica foi Turma da Mônica – Uma Aventura no Tempo (2007). Uma produção ousada, com uma narrativa atrativa para crianças e adultos e muito potencial para ser utilizado na sala de aula. Tudo começa com uma acidentada experiência de Franjinha, que pretende juntar os quatro elementos da Terra – fogo, ar, água e terra – para fazer uma viagem no tempo, mas os elementos escapam e, para impedir que o tempo e a História sejam interrompidos, os personagens devem buscar os quatro elementos em épocas diferentes.
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Cinema e Educação: Turma da Mônica – Uma Aventura no Tempo
Pode-se dizer que, quando se fala de histórias em quadrinhos, os personagens da Turma da Mônica estão muito mais presentes no imaginário das nossas crianças do que os da Disney. Seus personagens são bem construídos, ligados à cultura brasileira, o que provoca forte identificação. Além de gibis e filmes de animação, há muitos jogos e atividades educativas no portal da Mônica.
Outras animações, outras estéticas
Há outros animadores no Brasil que merecem destaque.
Outro belo desenho animado, muito elaborado foi O Grilo Feliz, com direção do publicitário Walbercy Ribas. O personagem do grilo apareceu primeiramente em um comercial da Sharp nos anos 1980. O filme demorou 20 anos pra ficar pronto, estreando nos cinemas em 2001. Em 2009, a mesma equipe lançou a continuação no filme O Grilo Feliz e os Insetos Gigantes. As duas produções foram lançadas em DVD. Há um portal com muitas atividades educativas, além de trailer dos filmes e o making of.
A animação BRichos, de Paulo Munhoz, foi lançada em 2007 e também valoriza a cultura brasileira e a consciência ecológica, com personagens que são animaizinhos da nossa fauna (um jaguar, um quati e um tamanduá). Em 2012, foi lançada a continuação nos cinemas chamada BRichos – A Floresta é Nossa. BRichos se transformou também em série de TV.
O diálogo entre o cinema e a TV fez com que a série Peixonauta saísse da TV para o cinema. No final de 2012, estreou nos cinemas Peixonauta, Agente Secreto da Ostra, realizado pelos mesmos diretores da série televisiva, grande sucesso entre as crianças.
Outra criação de animação brasileira para crianças é a série Historietas Assombradas (para crianças malcriadas), de Victor Hugo Borges, que começou com um curta metragem bastante premiado em 2005, disponível no portacurtas. Há, também, o plano de aula com foco neste título.
Atualmente essas histórias podem ser assistidas em formato de série no cartoon-network.
Para a sorte de crianças e educadores, a animação brasileira tem se desenvolvido muito. Possivelmente, esse avanço se deu em virtude das leis de incentivo ao audiovisual e pelo barateamento dos dispositivos tecnológicos de produção e edição. Outra iniciativa que foi fundamental para a animação brasileira foi a criação do Festival Anima Mundi, que, em 2013, teve sua 21ª edição, exibindo filmes do mundo todo, além de dar espaço à nossa animação. Vale a pena conhecer o site http://www.animamundi.com.br/.
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Cláudia é doutora em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da USP. Graduada em História, especialista em Gestão de Processos Comunicacionais, mestre em Ciências da Comunicação pela ECA-USP e pesquisadora do Núcleo de Comunicação e Educação da USP.