Animação significa DAR ALMA. Fazer animação significa dar vida a algo que não tem vida própria, que pode ser um objeto, um desenho.  

A animação é tão antiga quanto os primeiros desenhos feitos pelo homem nas cavernas, na pré-história: animais desenhados com mais patas do que o real, dando a ilusão de movimento. Pesquisadores encontraram vários desenhos que representam verdadeiras narrativas animadas. 

A animação se baseia numa ilusão de ótica, a chamada “persistência retiniana”, explicada por Peter Mark Roget, num artigo científico publicado em 1824. Ele explica que uma imagem captada pelo olho humano persiste na retina por uma fração de segundo. Se várias imagens forem projetadas de forma sequencial rapidamente, a retina as associa e a ideia é de movimento ininterrupto. Anos mais tarde, Joseph Plateau descobriu que o tempo que a imagem fica retida na retina é de  um décimo de segundo, o que torna o movimento mais rápido que essa fração imperceptível para o olho humano.

O desenvolvimento da óptica somada às invenções da fotografia, em meados do século XIX, e  do cinema, em 1895, contribuíram para o desenvolvimento das técnicas de animação.  

No início, elas eram demoradas e trabalhosas. Demandavam muitos desenhos para produzir segundos de uma narrativa. Desenhistas de histórias em quadrinhos e ilustradores buscaram maneiras de tornar a produção dos desenhos animados economicamente viável. Em 1914, Earl Hurd criou a tecnologia de se usar, no processo, folhas de celuloide – o acetato. Os personagens eram ali desenhados sobrepostos ao cenário que, assim, não precisava ser desenhado diversas vezes.  Pequenas inovações como esta, que nos parece óbvia, revolucionaram a animação e contribuíram para a popularização da linguagem, o termo “desenho animado” entrou no cotidiano. Outros pioneiros desses tempos são o desenhista de histórias em quadrinhos John Bray, que criou um estúdio para desenvolvimento tecnológico da animação; Windsor McCay, que realizou as primeiras produções de sucesso nos EUA, como Little Nemo (1908) e Gertie the Dinosaur (1914); o estadunidense Bill Nolan e o canadense Raoul Barré (que se radicou nos EUA). Uma das animações mais conceituadas dessa época, tendo sido a primeira exibida em um projetor moderno, é Fantasmagorie (1908), do francês Emile Cohl. Ela pode ser assistida aqui

O primeiro longa metragem de animação – El Apóstol – foi feito na Argentina, em 1917, por Quirino Cristiani, um italiano lá radicado. O filme, que satirizava o presidente argentino Yrigoyen, fez muito sucesso levando o animador a abrir seu próprio estúdio e realizar muitos curtas metragens. Em 1930, Cristiani retoma o tema e realiza o primeiro longa metragem sonoro de animação Peludópolis. 

Outros nomes importantes do início da animação no mundo foram os irmãos Max e Dave Fleischer, que se tornaram muito populares com a criação do personagem Palhaço Koko, na série Out of the Inkwell. Como os projetores estavam mais acessíveis, eles criaram a rotoscopia, que é uma técnica de filmar uma imagem real, projetá-la frame a frame (quadro a quadro) em uma chapa de vidro, ampliando os efeitos especiais. É de autoria dos irmãos Fleischer os personagens Gato Félix (1920) e Betty Boop (1930), cujo sucesso provocou a comercialização de brinquedos com suas imagens, mostrando a potencialidade comercial dos personagens da animação no mercado de entretenimento.

Walt Disney criou Mickey Mouse, em 1928, para competir com o sucesso do Gato Félix. Logo em seguida criou seus outros personagens e teve início a mais bem sucedida empreitada no reino da animação. Pode-se dizer que Walt Disney criou a linguagem da animação ao desenvolver narrativas tão criativas em seus desenhos. Sobre a importância de sua obra, há dois artigos no portal NET Educação, um sobre os clássicos da Disney … e outro sobre a fase Disney-Pixar.

O estúdio dos EUA que mais conhecido entre as crianças de muitas gerações, a partir dos anos 60,  foi Hanna & Barbera, dos cartunistas William Hanna e Joseph Barbera. A partir do sucesso de Tom e Jerry, na década de 1940, tornou-se um dos maiores estúdios do mundo e ocupou grande espaço na televisão, com desenhos esteticamente não tão elaborados, mas com personagens marcantes como Jambo & Ruivão, Zé Colmeia, Pepe Legal, Bob Pai e Bob Filho, Olho Vivo e Faro Fino, Os Flintstones, Os Jatsons, Manda Chuva. No final dos anos 1960 veio o sucesso de Scooby-Doo. O estúdio foi comprado pela Turner Enterprises e, depois pela Warner Bros. Animation. Hoje se chama Cartoon Network. 

Mas a animação não vem só dos Estados Unidos. É muito importante conhecer a diversidade estética e cultural de outras partes do mundo. Vamos começar pelo Canadá, onde a  animação é muito valorizada. Lá foi criado a National Film Board of Canada (agência de cinema do governo do Canadá).  Por muitos anos, o diretor do departamento de animação da NFB foi o escocês, radicado no Canadá, Norman McLaren (1914-1987). Ele revolucionou a animação tratando de temas filosóficos, abordados por meio de imagem, som, cor e ritmo.  McLaren foi premiado com o Oscar, em 1953, por seu curta “Neighbours” (“Vizinhos”), de 8 minutos, que usa fotografias de atores com técnica de stop motion. Esta e muitas outras animações canadenses, podem vistas no site do National Film Board http://www.nfb.ca. O site traz também projetos educativos com animação, dirigidos a professores.

A animação no Japão cresceu muito ganhou o mundo a partir dos anos 1980, chamada de “animes” (lemos “animê”). O termo, para os japoneses, denomina qualquer animação, não só a que produzem. Muitos deles têm também sua representação nos mangás (quadrinhos japoneses). Uma de suas características é que os personagens têm olhos muito grandes, bem definidos, redondos ou rasgados. Os gêneros dos desenhos são os mais variados: infantil, romance, terror, aventura, ficção científica. Os que fazem sucesso transitam entre as várias mídias: televisão, cinema, mangás, não importando onde surgiram originalmente. Há séries que não são exibidas na TV e são lançadas apenas em DVD, são as chamadas OVA (Original Video Animation). 

Após o final da segunda guerra (1945) a animação do Japão passa a ser muito influenciada pelos desenhos norte-americanos, particularmente da Disney, e começaram a se ocidentalizar. Ainda assim há marcas claras da cultura oriental, já que muitos de seus desenhos e personagens são baseados em lendas da cultura local. O mercado de animação japonês está hoje em segundo lugar no mundo, perdendo apenas para os EUA. Uma das séries que iniciou a “febre” de desenhos japoneses no Brasil foi “Os Cavaleiros do Zodíaco”, em meados dos anos 1980. Em seguida vieram muitos outros, como “Dragon Ball” e “Pokèmon”, que aqui chegaram em desenhos na TV, vídeos, games, álbuns de figurinhas, mochilas, enfeites para festas e toda sorte de produtos de consumo para crianças.  Educadores podem usar os desenhos japoneses trazendo um contraponto à lógica consumista, investigando com seus alunos a origem das lendas representadas nas narrativas.

Outro fenômeno cultural advindo dos animês e mangás é o Cosplay (contração de costume play) que são encontros de jovens que se vestem como os personagens, Hoje, além dos monstros e super heróis dos mangás, há os que se vestem de ídolos da música pop ou do universo editorial. Esse fenômeno, segundo a pesquisadora Mônica Rebecca Ferrari Nunes, tornou-se um código cultural que remete a muitas outras experiências, especialmente um sentimento nostálgico, um desejo de reviver a infância. Nesse encontros há desde atividades de games, concursos, shows, até comercialização de produtos. Confira um artigo interessante sobre o tema e sua complexidade.  

No mundo ocidental, o mais conhecido cineasta da animação japonesa é Hayao Miyazaki. Ele produziu, em parceria com a Disney Pictures, o longa metragem “A Viagem de Chihiro” (2001), uma aventura muito delicada, com estética e ritmo bem diferentes da que estamos acostumados. Logo depois, chegou aqui, do mesmo diretor, “O Castelo Animado” (2004). Miyazaki, hoje com 72 anos, realizou neste ano de 2013, a animação “The Wind Rises”, que figurou no topo das bilheterias do Japão. O filme pacifista alerta para os perigos do nacionalismo exacerbado e da guerra.   

Para alegria dos amantes da animação, há 21 anos acontece no Brasil o Festival Anima Mundi, que oferece filmes de animação do mundo todo, para todas as idades, cujo site pode ser acessado pelo seguinte endereço: http://www.animamundi.com.br/pt/

Em futuros artigos, falaremos da Animação brasileira e francesa.

O Instituto Claro abre espaço para seus colunistas expressarem livremente suas opiniões. O conteúdo de seus artigos não necessariamente reflete o posicionamento do Instituto Claro sobre os assuntos tratados.

Autor Cláudia Mogadouro

Cláudia é doutora em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da USP. Graduada em História, especialista em Gestão de Processos Comunicacionais, mestre em Ciências da Comunicação pela ECA-USP e pesquisadora do Núcleo de Comunicação e Educação da USP.

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