Aconteceu no último final de semana o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) 2014.  Os mais diretamente envolvidos devem estar falando sobre o tema da redação, a dificuldade das provas, as surpresas. Indagações sobre a correção, o critério de avaliação também já devem estar nas cabeças e nos corações dos que dependem deste resultado para dar os próximos passos na escolaridade e na vida.
 
Com um pouco de distância vemos outros cenários. São números impressionantes.  O Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), órgão do Ministério da Educação que realiza a prova, recebeu 8.721.946 inscrições, 21,6% a mais do que em 2013. Muitos países no mundo não têm esse número de alunos, em todos os segmentos da escolaridade.
Para organizar as provas e acolher os alunos foi necessária uma imensa estrutura que reuniu profissionais treinados especificamente para cada uma das funções (de atendimento telefônico, desde o lançamento do exame, até corretores das provas e seguranças locais).  
 
Foram preparados 17.367 locais de prova, em 1.700 cidades brasileiras. Detectores de metais foram instalados em todos eles e as equipes locais organizadas para orientar e acompanhar os alunos – inclusive os 93.843 inscritos que solicitaram atendimento especial: gestantes, mães que amamentam; deficientes visuais; pessoas com problemas de mobilidade; e religiosos que só puderam iniciar a prova depois do por do sol.  Outra equipe acompanhou, pelas redes sociais, publicações indevidas, que culminaram em desclassificações.  
 
Para garantir a segurança, foi colocado em campo, o mesmo programa utilizado nas cidades sede da Copa do Mundo de 2014: os Centros Integrados de Comando e Controle.  E, nos malotes com as provas, cadeados eletrônicos permitiram acompanhar trajeto, hora de fechamento e de abertura dos envelopes de provas. 
 
Ao juntar todos esses números, e pensando ainda nos sistemas desenvolvidos para gerir tantas informações, parece que não estamos falando do mesmo país em que escolas oferecem um ensino precário, onde faltam salas, banheiros, móveis, professores. Escolas rurais fecham suas portas, universidades precárias que atuam dessa mesma forma em relação à carreira de professores e à qualidade dos cursos que oferecem.  
 
Perguntas emergem: como o mesmo órgão governamental que faz a gestão do ENEM não consegue imprimir a mesma eficiência para que todas as crianças tenham vagas nas creches e na Educação Infantil?  Como a qualidade da educação oferecida no Ensino Fundamental avança a passos tão lentos?  Por que não temos um Ensino Médio com qualidades que convençam os jovens a não o abandoná-lo?  Enfim, por que conseguimos fazer esta empreitada tão complexa e não temos conseguido garantir a alfabetização na idade certa e a qualidade em todos os níveis da Educação Básica para todos os brasileiros?
 
Provas chegaram a mais de 17 mil locais, seria tão difícil fazer técnicos chegarem aos municípios para desvendar os desvios de verba e fazer a formação de gestores?  Educadores preparam e corrigem mais de oito milhões de provas. Será que uma força tarefa da mesma envergadura não poderia acompanhar o trabalho nas escolas?
 
Será que a potência que o Ministério da Educação tem para fazer o ENEM funcionar e garantir que jovens possam ascender ao curso superior não poderia ser mobilizada para que todos os alunos do Brasil tenham desfrutem da educação a que têm direito?

O Instituto Claro abre espaço para seus colunistas expressarem livremente suas opiniões. O conteúdo de seus artigos não necessariamente reflete o posicionamento do Instituto Claro sobre os assuntos tratados.

Autor Zilda Kessel

Zilda é educadora, mestre em Ciência da Informação pela ECA (USP) e doutoranda em Educação na PUC-SP. Professora da pós graduação do Senac, atua em projetos na área de difusão cultural e tecnologia educacional. Também, é assessora pedagógica do portal NET Educação.

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