O cinema nos encanta há mais de um século! Nos faz sonhar, nos leva a lugares nunca vistos, nos faz viver amores sequer sonhados, nos faz estar na pele de personagens que nada têm a ver conosco. O cinema é um fenômeno cultural muito particular e complexo: tem largo alcance de público e é produzido por uma equipe de artistas e técnicos, o que o difere de outras obras de arte, boa parte produções solitárias. O cinema vive um paradoxo em sua essência: para que exista, precisa ter bom resultado de bilheteria, por isso tem que gerar um produto lucrativo, caso contrário não se paga (o cinema é BEM caro); mas também tem claros elementos que o definem como obra de arte: necessita de autoria, trabalha com a sensibilidade do espectador e é imprevisível quanto aos seus resultados.

Seu sucesso nem sempre é garantido. Há alguns filmes que repetem fórmulas de sucesso para agradar o público, trazidas pelo cinema hollywoodiano: final feliz, embate entre mocinho e bandido, histórias de amor que permeando a aventura, cenas mais duras entremeadas com pitadas de humor para dar um “respiro” ao espectador, atores e atrizes consagrados e amados pelo público são alguns deles. Mas, assim mesmo, há fracassos e sucessos inesperados, porque o cinema é uma produção coletiva e conta com muitas variáveis para o seu resultado final.

Vamos conhecer alguns dos profissionais que, em equipe, transformam sonhos e ideias em produto cinematográfico. 

Vamos começar pelo produtor. O
produtor propriamente dito é o dono do estúdio ou quem investe dinheiro no filme (apostando no seu êxito mercadológico). Ele pode ter um produtor executivo que é quem faz a gestão financeira da produção: cuida do orçamento, controla os custos de cada etapa e toma decisões importantes diante do inesperado. As decisões do produtor executivo impactam todo o processo e também o produto final.. E há, ainda, o diretor de produção. É ele que cuida das providências práticas das filmagens, o que envolve a alimentação da equipe, a locação de espaços, equipamentos, figurinos, estúdios, etc. Ele trabalha em sintonia com o diretor do filme, garantindo o respeito à concepção artística da obra. O diretor de produção é quem deve construir o orçamento do filme. Para isso levanta junto aos outros profissionais (figurinista, cenógrafo, fotógrafo, diretor de arte) os custos necessários para a realização do filme. A partir daí, elabora o orçamento a ser aprovado pelo  produtor. Ele ainda deve zelar para que o orçamento aprovado seja cumprido à risca. Para isso é fundamental que tenha um cronograma de produção detalhado. Dependendo do orçamento e da grandiosidade da obra, o diretor de produção pode ter vários assistentes.

Não há filme sem
diretor. Nos primórdios do cinema, sua função se misturava com a do realizador. Ele fazia absolutamente tudo. À medida que o cinema foi se desenvolvendo, os papeis passaram a se diferenciar e, especialmente na concepção europeia, o diretor passou a ser considerado o verdadeiro autor da obra. Ele deve conhecer cada detalhe do roteiro, planejar a filmagem de cada plano e, ainda, conhecer todos os aspectos técnicos. Isso é necessário para que possa extrair o melhor da direção de arte, da fotografia, da trilha sonora, etc. É o diretor que responde pela concepção artística, coordena a dramaturgia e a estética visual e sonora do trabalho. Cabe à direção, a escolha do elenco e o ensaio dos atores. Ao final do processo, o diretor participa da montagem e dá os arremates finais. O diretor está presente em todas as etapas, mas não aparece!

A importância atribuída ao diretor e ao produtor varia de país para país. Com o desenvolvimento da indústria do cinema nos EUA, o
produtor ali tornou-se a figura mais importante e decisiva do processo de produção. Os grandes cineastas, os diretores, podem ter ótimas ideias, mas precisam convencer os produtores de que a realização é viável, no ponto de vista de mercado. Na Europa, é dado um peso muito maior ao diretor, ele é reconhecido como o grande autor do filme. Em outros países como os da América Latina ou Ásia, essa predominância vai depender da concepção do filme e do desenvolvimento cinematográfico do país. O produtor é mais importante se o foco da produção está no seu aspecto mercadológico. Já o diretor ganha importância se a produção está voltada para o valor artístico. No cinema brasileiro temos filmes autorais, com maior peso do diretor, e filmes excessivamente comerciais, que seguem o modelo de fórmulas de sucesso. 

É comum que o diretor tenha ao menos dois assistentes. Um é o
assistente de direção, que o auxilia a coordenar todas as ações, anotando cada etapa da filmagem em planilhas, e o outro é o continuísta, que cuida para que os planos, mesmo que filmados em dias diferentes, sejam coerentes quanto a figurino, iluminação, cenário, etc.

O
diretor de fotografia é quem escolhe a iluminação, decide pelo enquadramento, cuida dos movimentos de câmera, enfim, ele dá a “cara” do filme. Também trabalha em sintonia com o diretor e com a concepção da obra, pois ele é o responsável pela atmosfera do filme.  Seu principal apoio é chamado de primeiro assistente de câmera, ou cameraman (nome mais comum nas produções televisivas), que acompanha o resultado da filmagem por um visor. Com ele trabalham um ou mais assistentes, que respondem pelo foco, pela integridade da câmera e pelo controle dos negativos virgens e dos já filmados (diz-se “negativos expostos”), ou fitas magnéticas e mídias digitais, quando o trabalho é feito em vídeo.

O
diretor de arte é responsável pelo visual do filme, dando os parâmetros e participando da definição de figurinos, maquiagem, escolha dos lugares de filmagem, decoração dos ambientes e, principalmente, da criação dos cenários. Ele coordena uma equipe de artistas como: aderecistas, que cuidam dos objetos que aparecerão em cena; figurinistas, responsáveis pela roupa e acessórios dos atores/atrizes e maquiadores, que, dependendo do tipo da produção, são fundamentais para dar credibilidade aos personagens.

A
cenografia, se a produção for simples, pode ser assumida pelo diretor de arte. O cenógrafo ou cenografista é responsável por tudo o que se refere ao ambiente onde se passará a ação do filme. Existem dois tipos básicos de ambientes, do ponto de vista cenográfico: estúdio e locação. O primeiro é aquele em que se constrói um cenário ou um ambiente, um grande local fechado, em geral um galpão ou estúdio de grandes proporções. A vantagem da opção pelo estúdio é o controle total sobre a luz e a disponibilidade de passar muito tempo seguido com o cenário à disposição. No estúdio, a criatividade do cenógrafo é mais exigida.  É preciso desenhar uma planta e construir todo o ambiente cenográfico, desde as paredes, portas, janelas, até a mobília, eletrodomésticos, quadros, enfeites e decoração em geral. As locações são localidades pré-existentes, casas, apartamentos, ruas, praia, enfim ambientes já existente, escolhidos previamente e decorados pelo cenógrafo. As locações costumam impactar menos no orçamento, sendo necessário apenas adaptar o ambiente à concepção artística do filme.

Os
técnicos de som são profissionais que fazem toda a diferença. O som pode ser captado diretamente nas filmagens, mas, para isso, é necessário equipamento complexo, nem sempre  acessível para produções de baixo orçamento. O som direto permite um sincronismo perfeito com a imagem e traz a vantagem de contar com o ator apenas no momento da filmagem. Quando não é usada a captação direta ou alguma cena tem que ser reparada, a solução é usar a dublagem. O ator é chamado em estúdio para completar as lacunas ou gravar sua fala.. A narração também é gravada depois, assim como todos os outros sons (ruído e trilha sonora). A inserção de todo esse trabalho feito em estúdio é feita pelo editor de áudio.

O
montador ou editor é o responsável pelo mais importante arremate da produção cinematográfica: a ordenação das cenas. O filme raramente é filmado na ordem em que as cenas são exibidas. Cabe ao montador dar sentido aos planos filmados de acordo com o desejo do diretor que, quase sempre, trabalha junto no processo de montagem, escolhendo e ordenando planos. Cabe ao montador também imprimir o ritmo e a harmonia nos cortes de cada plano, de tal maneira que as mudanças de um plano para outro fiquem tão naturais que passem despercebidas pelo espectador.  Antigamente, chamava-se de editor aquele que fazia a montagem em vídeo e o montador, pois ele literalmente montava a sequência colando os trechos dos filmes, mas hoje esses termos não são mais diferenciados, até porque quase toda montagem de cinema é feita por suporte eletrônico, no que chamamos ilha de edição.

As funções descritas acima são as mais importantes da produção cinematográfica. Existem muitas outras figuras que também compõem o processo coletivo de se fazer cinema e, conforme sua destreza, podem determinar a qualidade artística ou o sucesso comercial de um filme. O cinema é essencialmente uma arte coletiva. 

O Instituto Claro abre espaço para seus colunistas expressarem livremente suas opiniões. O conteúdo de seus artigos não necessariamente reflete o posicionamento do Instituto Claro sobre os assuntos tratados.

Autor Cláudia Mogadouro

Cláudia é doutora em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da USP. Graduada em História, especialista em Gestão de Processos Comunicacionais, mestre em Ciências da Comunicação pela ECA-USP e pesquisadora do Núcleo de Comunicação e Educação da USP.

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