Já abordamos a história da animação em outros artigos publicados no portal NET Educação (História da Animação, Disney primeira fase e Disney segunda fase). Abordamos o surgimento da linguagem, o papel de Walt Disney e também as animações canadenses e japonesas. Agora vamos falar sobre animações francesas, que tem peculiaridades que muito interessam aos educadores.

O mais conhecido realizador atual é Michel Ocelot, que nasceu na França, em 1943, mas passou a infância na Guiné, na África Ocidental. Ele sempre se dedicou à animação, tendo cursado a Escola Belas Artes em Rouen, a Escola Superior de Artes Decorativas em Paris e o Instituto de Artes da Califórnia.  Ele escreve os roteiros, desenha todos os personagens e cenário de seus filmes. Entre 1994 e 2000, destacou-se como presidente da ASIFA (Internacional Animated Film Association, em inglês). Embora tenha se tornado conhecido internacionalmente a partir do sucesso de “Kirikou e a Feiticeira” (1998), ele já havia recebido prêmios importantes por trabalhos anteriores, pois começou a fazer animação nos anos 1980. Seu primeiro curta é uma verdadeiro primor. Feito com papel recortado, “Os três inventores” fala de pessoas criativas, que querem compartilhar suas invenções com o mundo, mas acabam destruídas. Embora não tenha legenda, as falas são poucas e o filme é perfeitamente compreensível inclusive por quem não entende francês. O filme tem quase 13 minutos e pode ser visto abaixo:

 

Em 1983, Ocelot ganhou o prêmio Cesar de melhor animação com o curta “A Lenda do pobre Corcunda”. Ele diz que sua infância na África foi fundamental para “alargar sua mente”, pois tinha contato com cinco diferentes religiões. Ele diz que até os 12 anos sentia-se negro quando estava na escola e, quando voltava à França, nas férias de verão, tornava-se branco de novo… Seus filmes trazem as lendas de várias regiões do mundo e os personagens negros, o que é raríssimo nas produções que nos chegam. Utiliza técnicas de animação diferentes a cada projeto (como silhuetas, papel recortado, animação tradicional, animação digital). Uma constante em seu trabalho é a retomada de contos de fadas e contos populares, que reescreve e atualiza. O uso de cores é muito sofisticado e encanta crianças e adultos, trazendo uma estética muito diferente daquela a que estamos acostumados nas animações dos EUA.  Os temas que são sempre libertários.

Em “Kirikou e a Feiticeira” (1998), o cineasta adaptou um conto do África Ocidental em que um pequeno garoto luta para que seu povo possa se libertar de uma terrível feiticeira. Premiado no festival de Animação de Annecy, o filme mostrou às crianças de todo o mundo essa nova forma de se fazer animação. Depois, lançou “Príncipes e Princesas” (2000), produção que levou dez anos para ser concluída. A partir do teatro de sombras, o filme aborda 6 contos de príncipes e princesas que vão do Egito Antigo, à Idade Média, ao Japão e ao futuro. Esse filme pode ser trabalhado com os contos separadamente, caso os educadores assim prefiram. Neste link (clique aqui), a arte educadora Mariana Hashimoto conta como tem aproveitado o filme para propor às crianças atividades que se valem de luz e sombras, recortes de papel, silhuetas, etc.

Em 2005, o personagem Kirikou retorna as telas agora em “Kirikou e os animais selvagens”, quando volta a enfrentar a malvada bruxa Karabá, desta vez com os animais que a servem, como uma hiena, um búfalo e uma girafa. Logo depois, é lançado outro desenho primoroso – “As Aventuras de Azur e Asmar” (2006), que conta a história de dois meninos que foram amamentados pela mesma mulher (a mãe de Asmar é babá de Azur). Desde pequenos eles ouviam histórias de fadas e viviam como irmãos. Serão brutalmente separados e só vão se encontrar em situações de rivalidade, um representando o ocidente e o outro o oriente. Como os seus outros desenhos, a história trata de paz, tolerância e igualdade.

 

 


 

Em 2011, Ocelot realizou em 3D uma animação para adultos (mas também possível de ser vista por crianças), baseada em teatro de sombras, chamada “Contos da Noite”. Trata-se de da adaptação de 6 fábulas de alcance universal, passadas em países e épocas diversas.

                         

Outras animações francesas
Ainda sobre a animação francesa e sua estética muito própria, é bom lembrar Sylvain Chomet que realizou, em 2002, “As Bicicletas de Belleville” (co-produção com Reino Unido, Letônia, Bélgica e Canadá). Realizou também (em co-produção com o Reino Unido) o filme “O Mágico”, baseado em roteiro de Jacques Tati. Ambas as produções são delicadas e engraçadas, sendo mais voltadas para jovens e adultos.

                                

A premiada animação franco-belga “Persépolis” (2007), muito indicada também para adolescentes, conta a história do Irã  (co-produção com a Bélgica). O filme é inspirado no romance gráfico autobiográfico de Marjane Satrapi e relata sua vida, desde a adolescência, um pouco antes da Revolução Iraniana, até os 22 anos, quando está expatriada. O filme tem direção da própria Satrapi e de Vincent Paronnaud.

Outros filmes franceses de animação que podem cair no gosto dos jovens são os da série “Asterix & Obelix”, escritos e dirigidos por René Goscinny e Albert Uderzo, inspirados nos quadrinhos dos mesmos autores. Com histórias muito divertidas passadas na História Antiga, mais precisamente na Gália, dominada pelo império romano. Muitos professores de História têm se valido (dos filmes e dos quadrinhos) pra tratar dessa época com seus alunos.

 

O Instituto Claro abre espaço para seus colunistas expressarem livremente suas opiniões. O conteúdo de seus artigos não necessariamente reflete o posicionamento do Instituto Claro sobre os assuntos tratados.

Autor Cláudia Mogadouro

Cláudia é doutora em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da USP. Graduada em História, especialista em Gestão de Processos Comunicacionais, mestre em Ciências da Comunicação pela ECA-USP e pesquisadora do Núcleo de Comunicação e Educação da USP.

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