O 11° Relatório de Monitoramento Global de Educação para Todos, foi publicado em janeiro pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Não vamos aborrecer o leitor com muitos números, iluminamos somente alguns, necessários para ancorar nossos comentários.
 
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Cerca de 84% da população do mundo sabe ler e escrever. O total de analfabetos com 15 anos ou mais vem caindo no mundo. São, hoje, 774 milhões. Ainda é muito, mas a perspectiva é de queda. O Brasil está entre os dez países com maior número de analfabetos.
 
O quadro indica que não será possível cumprir as metas firmadas no acordo de Dakar "Educação para Todos", de 2000, do qual o Brasil é signatário. Nele firmou o compromisso de reduzir à metade o número de analfabetos, até 2015. 
 
Vamos nos aproximar um pouco para olhar só para os números do Brasil. Segundo a Pesquisa Nacional de Domicílios (Pnad), do IBGE, o número de analfabetos cresceu 0,1% entre 2011 e 2012. São 13,2 milhões de brasileiros, com 15 anos ou mais, que não sabem ler e escrever, ou 8,7% da população. Ainda é cedo para falar em aumento ou de inversão da tendência de queda, pois a variação é pequena. 
 
Em 20 anos, foi possível reduzir quase à metade o percentual de analfabetos. Permanecem, no entanto, desigualdades entre as regiões brasileiras. A região Nordeste concentra mais da metade dos analfabetos do país. Embora o índice venha caindo (5% em oito anos), ali a taxa é de 17,4% contra 4,4% na região Sul.
 
Um elemento que chama a atenção é a idade dos analfabetos. Se entre os jovens de 15 a 19 anos, somam 1,2%, isso muda muito entre os mais velhos. Com idade maior do que 25 anos, o índice atinge 10,7%.  Essa diferença indica que as atuais políticas públicas que visam a inserção de todas as crianças na escola (como Fundeb e Ideb), somadas a um cenário econômico favorável, vêm contribuindo para a melhoria do quadro, entre os jovens, porém elas não alcançaram os mais velhos. Portanto, o analfabetismo, no Brasil é um problema no plural. Trata-se de analfabetismos, que demandam olhares e projetos diversos.
 
De um lado, temos aqueles que ainda estão em idade produtiva e precisam ser reinseridos em alguma modalidade de educação, para poderem ter mais oportunidades num mercado em que as vagas para analfabetos são escassas e as condições de trabalho, geralmente, ruins. São pessoas que têm idades entre 30 e 40 anos, sem acesso às políticas de inclusão.
 
De outro, temos adultos e idosos que não tiveram acesso à escola ou lá ficaram por pouco tempo, seja pela exigência do trabalho, seja pela precariedade do sistema que, somente nas últimas décadas, deu passos mais firmes para garantir o acesso de todos à educação básica. A maioria dos idosos analfabetos está na zona rural nordestina.
 
Gestores e formuladores de políticas públicas para a educação têm diante de si um imenso desafio. Um desafio plural, na medida em que demanda políticas com focos em públicos diversos: as crianças que frequentam a escola, porém sem a qualidade necessária para alfabetizá-las, jovens que abandonaram a escola e precisam retomá-la, adultos que estão inseridos no mundo do trabalho e idosos que passaram a vida longe do ensino e demandam um  estímulo extra para trilhar o caminho escolar.

 

O Instituto Claro abre espaço para seus colunistas expressarem livremente suas opiniões. O conteúdo de seus artigos não necessariamente reflete o posicionamento do Instituto Claro sobre os assuntos tratados.

Autor Zilda Kessel

Zilda é educadora, mestre em Ciência da Informação pela ECA (USP) e doutoranda em Educação na PUC-SP. Professora da pós graduação do Senac, atua em projetos na área de difusão cultural e tecnologia educacional. Também, é assessora pedagógica do portal NET Educação.

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