“O amor cura, o amor nutre, o amor pulsa, o amor educa, o amor encoraja, o amor movimenta, o amor motiva, o amor faz nascer, o amor mobiliza, o amor alivia, o amor possibilita a vida!”. O trecho faz parte da peça “Gandhi – um Líder Servidor” e ganha destaque como um dos momentos da apresentação de que a plateia mais gosta. O ator que interpreta o Gandhi nos palcos, João Signorelli, também confessa ser a sua fala favorita do texto. Em junho, a peça completa 11 anos de resgate das histórias e reflexões do líder indiano.

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Em entrevista ao NET Educação, Signorelli ressalta que a peça possibilita colar conceitos e exemplos com a realidade atual das pessoas. “É possível levar ensinamentos para as pequenas coisas do dia. Tento retratar um cara que conseguiu fazer isso, o Gandhi”, afirma o ator.
A peça “Gandhi – um líder servidor” esteve na programação da Virada Educação, que aconteceu em São Paulo (SP), no último final de semana (veja fotos da apresentação na Escola Caetano de Campos acima). A temporada de apresentações do primeiro semestre encerrou no domingo (25/5), mas será retomada em agosto, para a segunda etapa de mais quatro meses, quando passa a se chamar “Gandhi e a ética inspiradora”.
Conhecido popularmente por Mahatma Gandhi, que significa a “grande alma”, ele foi um dos líderes da independência da Índia em relação aos ingleses. Defensor da crença hindu, baseada na verdade e não-violência, e também pela simplicidade de seus valores, chamou atenção do mundo e inspirou gerações de ativistas como Martin Luther King Jr. e Nelson Mandela.

NET Educação – Quais as principais temáticas abordadas na peça?

João Signorelli – A questão da cultura da convivência e não violência é a principal delas. Também, ser um agente no mundo espalhador de verdades, atuar com transparência e amor. Tem uma ideia de que estamos aqui para servir ao outro. Além disso, saber um pouco mais da história e algumas ações do próprio Gandhi, já que abordamos momentos da vida dele.

NET Educação – São conceitos que podem ser trabalhados com crianças e jovens? 
Signorelli – Mais ainda com jovens. Sinto que no geral eles estão muito carentes de valores e faltam exemplos. Então, pegar personagens históricos como [Martin] Luther King, Madre Tereza [de Calcutá], e o próprio Gandhi para que se mirem, percebo que eles gostam muito.
Também, toca muito os adultos. Pessoas saem da peça e depois me contam exemplos, como um diretor de uma grande empresa que disse ter se lembrado de abaixar para falar com uma criança, para ficar na mesma altura dela, porque eu conto esse episódio do Gandhi na peça.
NET Educação – Grande parte da abordagem trata de questões atuais ainda. Você faz essa ligação com casos que estejam ocorrendo no momento, no Brasil. Seria possível, para além da peça, ampliar as discussões em um grupo ou sala de aula?
Signorelli – Acho que sim. A peça possibilita trazer, por meio de acontecimentos, as noções mais para perto da gente. É possível levar ensinamentos para as pequenas coisas do dia. Dar passagem com o carro no trânsito, não mentir ou ser gentil. Tento retratar um cara que conseguiu fazer isso, o Gandhi. Acaba não ficando uma realidade muito distante, de um homem longe, na Índia, que viveu no século passado. São coisas que estão acontecendo agora e podemos pensar que é possível agir diferente. Basta querer tentar.
NET Educação – A peça é um monólogo. Como foi pensado o texto? São palavras do próprio Gandhi?
Signorelli – Cerca de 20% são falas baseadas na atualidade. Cito acontecimentos que estão ocorrendo e vou substituindo isso com o tempo, para deixar sempre relacionado com o momento. Já os outros 80% foram tirados de trechos de discursos, de escritos e entrevistas do próprio Gandhi, mais as interpretações das historinhas que aconteceram mesmo com ele, para não ficar algo tão teórico. São pensamentos e reflexões dele, mas que eu coloco com outras palavras, em linguagem mais contemporânea.
NET Educação – A peça completará 11 anos em 17 de junho. O que as pessoas mais captam das apresentações?

Signorelli –
 Do retorno que tenho a maioria gosta do texto que falo das características do amor. Toda apresentação alguém comenta ser a parte que mais chamou atenção. Uma passagem que coloquei recentemente, faz um mês, é a história do shopping center, porque critica o consumo exacerbado. Gandhi está em Londres, olhando lojas, e alguém da comitiva pergunta se ele quer comprar algo. Ele responde “não, não. Apenas estou observando tudo o que não preciso comprar”. A plateia morre de rir e ele tinha esse humor bem peculiar, uma lógica diferente da nossa que é a ocidental.
NET Educação – Para interpretar o personagem, você pesquisou e leu muito sobre o Gandhi. O que poderia dizer sobre ele?

Signorelli –
 Enxergo o Gandhi como um homem que buscou e tentou a vida inteira ser honesto com ele mesmo, além de ter se dedicado muito em prol da comunidade, o que acabou fazendo com que deixasse a família mais em segundo plano. Em alguns momentos, era muito duro no sentido da disciplina. Tinha uma questão de cumprir horário de forma inflexível, por exemplo. Mas também se olharmos o contexto histórico, se não tivesse essa firmeza, talvez não resultasse nas conquistas que ele teve. Ainda, ele era uma pessoa que amava profundamente e tinha uma vontade grande de viver.
NET Educação – A peça traz muitas coisas ligadas ao amor. A palavra ética aparece várias vezes. Tem a pregação a não-violência. Mas quando se olha para a TV, para o dia a dia, a realidade muitas vezes é outra. Como não cair em algo muito idealista?

Signorelli –
 Não é fácil, mas é possível. O que fazemos não é dizer que o mundo é um conto de fadas, a realidade é cruel. É necessário ficar atento. Agora, entender que cada ser humano é mensageiro, já estou tentando aplicar na realidade. Olhar para um garoto que assalta e pensar como chegou naquele ponto é algo interessante. Desde 2006, me apresento uma vez por mês na Fundação Casa. Muitas vezes os garotos tem história de violência doméstica na família, alcoolismo…
NET Educação – Em todos esses anos, o que você aprendeu com a peça? O que destacaria?

Signorelli –
 Duas coisas principais: tentar falar a verdade sempre e cumprir com o que eu prometo. Porque tive retorno das pessoas nesse sentido. São coisas que percebi serem importantes e peguei para mim.
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