O avanço das tecnologias está encurtando distâncias em vários setores da sociedade, e com a educação não é diferente. Segundo dados da Abed (Associação Brasileira de Educação à Distância), em 2010 cerca de 2,2 milhões de pessoas estavam matriculadas em cursos à distância. Em 2006, o número não alcançava os 800 mil. Estamos diante de uma modalidade relativamente nova de ensino que exige mais capacitação e novas habilidades por parte de professores e tutores.

Margarete de Macedo Monteiro, professora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) atua desde 2000 com educação à distância e coordena o Curso de Extensão em EaD (Educação à Distância) com Ênfase na Tutoria do CEDERJ (Centro de Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro). Em entrevista ao portal NET Educação, a profissional fala sobre o funcionamento do curso e os principais desafios para a área de EaD no Brasil.

Como surgiu o curso de formação de tutores em ensino a distância do CEDERJ (Centro de Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro)? Qual o seu propósito?
O curso surgiu da necessidade de se promover a formação continuada de tutores e docentes que compõem o corpo de profissionais do CEDERJ, visando ao conhecimento e aprofundamento de questões centrais que caracterizam a modalidade de aprendizagem à distância.

O curso atendeu a um anseio de todos os profissionais do Consórcio CEDERJ, tanto que o presidente da fundação CECIERJ (Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro), Carlos Eduardo Bielschowsky, e a vice-presidente de EaD, Masako Masuda, decidiram assumir o curso pela instituição sob a coordenação da professora Vera Ribeiro de Souza, especialista em mediação pedagógica em EaD e assessora pedagógica da Diretoria de Tutoria da fundação CECIERJ.

Como o curso funciona na prática? Qual tipo de treinamento as pessoas recebem?
O curso é constituído por três disciplinas: Fundamentos em EaD, Material Didático Impresso em EaD e Tutoria, num total de 140 horas. Os conteúdos são desenvolvidos na Plataforma Moodle/CEDERJ [software livre de apoio à aprendizagem], por meio de atividades apoiadas em leituras de textos teóricos, interações nos fóruns e produção de textos. A mediação é permanente, feita pelo tutor de cada turma, com o objetivo de acompanhar e apoiar o processo de aprendizagem dos alunos.

A atuação de um professor de curso à distância difere da atuação de um professor em sala de aula?
Tanto no EaD quanto na educação presencial, a tarefa mais importante do professor consiste em mediar a relação dos alunos com os saberes envolvidos no processo. Mas é neste ponto que uma importante distinção se apresenta: enquanto na educação presencial esse contato do professor com os alunos é direto, no EaD precisa ser mediado por recursos didáticos que utilizam diversas mídias, suportes e tecnologias disponíveis.

No EaD, o professor terá de antecipar dúvidas, propor previamente alternativas e construir textos e atividades de tal modo que, sem a sua presença, o aluno seja capaz de compreender, se apropriar e reelaborar os conteúdos a partir das leituras, pesquisas e atividades propostas para, enfim, construir os conhecimentos esperados.

É importante lembrar que mesmo em materiais e ambientes virtuais de alta qualidade, os estudantes possivelmente terão dúvidas ou dificuldades inerentes à metodologia, à modalidade, à forma de conduzir os estudos e de avaliar os avanços e as falhas. E é aí que se torna importante a presença de outro ator do EaD: o tutor.

Professor e tutor não são sinônimos, e no EaD esse é um tema que gera grandes discussões. O professor tem uma ação mais voltada à seleção e à produção de conteúdos. Já o tutor é mais voltado à operação, à aplicação de estratégias pedagógicas durante o curso, ao uso de instrumentos de comunicação e à criação de clima favorável aos estudos. Isso não exclui, é claro, a possibilidade de um profissional ser professor e tutor ao mesmo tempo, o que é desejável em muitas situações, mas de difícil operacionalização.

Qual é o papel da educação à distância no contexto da educação brasileira?
O Brasil se caracteriza por ser um espaço de desigualdades no que se refere à oferta de ensino entre suas diferentes regiões e em diversas escalas. É principalmente neste contexto que o EaD se apresenta como uma das mais importantes ferramentas de atendimento aos excluídos, difundindo conhecimento e informação para muitos, colaborando para superar os desafios educacionais e para o desenvolvimento social do país.

De que maneira a tecnologia pode suprir a ausência de um espaço físico de interação entre professores e alunos?
O EaD hoje vive um momento privilegiado, tecnologicamente falando. A disseminação de computadores multimídia conectados à internet trouxe novas possibilidades de interação. Proporcionou aos programas de EaD uma dinâmica há muito desejada: tutor e aluno podem interagir em tempo real. Podem, ainda, respeitados os tempos e ritmos próprios, cooperar, estabelecer debates, disponibilizar contribuições, comentários, exemplos, links, questões, explicações, enfim, o que for necessário para melhorar as condições de aprendizagem.

Quais os principais desafios para um educador à distância? Como superá-los?
Nesse momento em que o EaD se apropria das novas TICs (tecnologias de informação e comunicação), toda uma nova metodologia de aprendizagem se apresenta. O educador precisa sair da zona de conforto da modalidade presencial com a qual se acostumou durante muito tempo, inclusive na condição de aluno, e adaptar-se às novas formas de aprendizagem online. Precisa desenvolver habilidades técnicas e pedagógicas no uso das ferramentas dos AVA (ambientes virtuais de aprendizagem) e da internet, precisa conhecer as especificidades dos materiais didáticos criados para um curso à distância e, principalmente, estabelecer com os alunos distantes fisicamente uma relação de confiança e afetividade.

De maneira geral, esse é um grande desafio para o educador de EaD hoje. Nesse sentido, a capacitação continuada, as observações sobre as várias experiências na modalidade EaD, a atualização dos estudos da literatura da área e, sobretudo, a constante autoavaliação da sua prática são, sem dúvida, os caminhos para o enfrentamento desses e de outros desafios.

Quais os principais resultados alcançados pelo curso a distância da CEDERJ?
Encerramos a primeira edição do curso com 322 alunos certificados. Embora não tenhamos finalizado um estudo claro e completo sobre o impacto da formação na prática dos tutores e docentes, temos registrado no ambiente de avaliação do curso, depoimentos de alunos que relatam que a aprendizagem não só abriu novos horizontes para a melhoria da qualidade do trabalho na tutoria ou na docência, mas também aprofundou o olhar sobre estrutura e fundamentação do EaD.

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