O uso das redes sociais como ferramenta educacional está cada vez mais vivo nas escolas. E para falar sobre o assunto, o doutor em educação pela Unicamp e professor da Universidade Federal da Bahia, Edvaldo Couto, falou com exclusividade com o NET Educação sobre a importância de construir em conjunto e compartilhar conhecimento.

O tema também será abordado no Congresso InovaEduca 3.0, que acontece em 1º de outubro, na cidade de São Paulo.

NET Educação –  O Brasil é um dos países que mais utilizam as redes sociais, porém, em contrapartida, ainda há escolas e professores avessos a esse tipo de ferramenta. Como você analisa este cenário? Essa cultura está mudando?

Edvaldo Couto – Esse é um fato: nossas crianças, adolescentes e jovens vivem cada vez mais conectados e as redes sociais são ambientes preferidos da garotada. Como boa parte da população acessa internet por meio de dispositivos móveis, como os smatphones, independentes da infraestrutura tecnológica das escolas, a sala de aula já está conectada por meio da conexão dos alunos.

Ou seja, já não depende da vontade ou escolha dos professores e eles ficam para trás, pois os alunos estão cada vez mais conectados e fazendo coisas incríveis na rede. Então, é preciso recuperar esse atraso e formar professores para a cultura digital, fazer com que eles se sintam bem e seduzidos para vida online. As redes sociais são ambientes especiais que nos aproximam e nos permitem tecer essas relações criativas e, digamos, educacionais.

NET Educação – E como mobilizar os professores para se integrarem à cultural digital?

Edvaldo Couto – Só com a vivência incessante na cultura digital é que os professores irão desenvolver suas práticas docentes em rede, por meio da colaboração e compartilhamento como meios criativos de produção e difusão de conhecimento. Nesse contexto estão as redes sociais que despertam imenso fascínio nas pessoas. Os professores estão descobrindo que não podem ignorar mais essa realidade de milhares de pessoas na cibercultura.

NET Educação – As redes sociais podem ser consideradas uma ferramenta educacional?

Edvaldo Couto –
 É preciso ter certo cuidado com essa ideia de usar e incentivar usos diversos das redes sociais como ferramenta educacional. Vejo dois problemas aqui: o primeiro é o risco da escola e professores quererem ‘pedagogizar’ esses ambientes de redes. É como se dissessem “tá bem, permitimos usar as redes sociais na aula, mas só para fazer pesquisa e realizar tarefas escolares”. Essa redução é completamente empobrecedora, chata e os alunos tiram sarro. O que todos querem é usar as redes para criar, conversar, opinar, criticar, construir subjetividades e modos de ser, produzir e compartilhar experiências, dentre elas, aquelas vividas em sala de aula;

O segundo problema é a própria ideia de ferramenta, as redes sociais fazem parte de tudo aquilo que hoje estruturam a nossa vida cultural e pessoal, elas organizam a nossa vida e falam daquilo que nós somos. Nesse sentido, elas podem ser consideradas como ambientes propícios para fazer educações no plural, para aproximar as pessoas, para estabelecer laços importantes entre as pessoas.

São as pessoas conectadas, compartilhando experiências, criando coletivamente soluções para os problemas cotidianos, que são agente educacionais ativos. Ou seja, a escola não é mais a sala de aula apenas, ela é todo e qualquer lugar ou ambiente de rede onde as pessoas produzem umas com as outras e aprendem o prazer de compartilhar o que descobre. E a educação não se faz mais apenas na sala de aula, a educação é tudo o que fazemos quando produzimos e compartilhamos saberes.

NET Educação – Qual objetivo de integrar as redes sociais e a educação?

Edvaldo Couto – Alguns objetivos são criar e incentivar a cultura da colaboração e do corpartilhamento entre as pessoas, é assim que vivemos e fazemos parte da cultura digital. Tudo o que fazemos juntos, por meio das conexões e das redes, são importantes porque circulam livremente e podem ser acessadas por milhares de pessoas que, por sua vez, também transformam esses saberes em novas e múltiplas experiências e relatos.

As redes sociais se integram às nossas ações pedagógicas quando os sujeitos aprendem a valorizar as articulações coletivas, o fazer junto com o outro, quando os saberes não são mais acumulados nas estantes ou arquivos digitais para essas ou aquelas pessoas.

NET Educação – E qual a essência dessa nova era da educação?
Edvaldo Couto – O que está em questão agora é que não se pode mais fazer educações sem a circulação sideral dos saberes disponíveis democratizamente para todos. Compartilhar saberes é o segredo extraordinário da nossa época. Na cibercultura não se faz mais educações sem redes sociais digitais dinâmicas, sem fluxo de conhecimentos.

NET Educação – Como integrar essas ferramentas às escolas com pouco acesso a internet?

Edvaldo Couto – Em muitas escolas o acesso às tecnologias conectivas é dramático. Ainda temos muitas escolas no país sem água potável, sem luz elétrica, sem computadores e internet. Então, nós precisamos de políticas públicas que sejam rápidas e eficientes para garantir a infraestrutura tecnológica nas escolas, precisamos de políticas públicas que garantam máquinas com preços mais acessíveis, precisamos de banda larga de verdade na escola — a infraestrura é um drama a ser vencido com políticas públicas.

Simultaneamente precisamos de formação adequada para professores, para que todos façam parte da cultura digital. Por fim, mas tudo junto e ao mesmo tempo, precisamos de gestores, professores e alunos sintonizados com a cultura da conexão e do compartilhamento. E aqui nada está pronto e definido. O nosso desafio é articular os conteúdos com o nosso exercício docente. Ensinar e aprender são experiências mais fascinantes quando estamos conectados, sempre criando novas redes e possibilidades.

Clique aqui e saiba como participar do InovaEduca 3.0.

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