Leonardo Valle
Você se lembra de quantos computadores e aparelhos celulares teve na última década? Com o avanço da tecnologia, os eletroeletrônicos passaram a ficar obsoletos mais rápidos. “Mesmo que o consumidor não queira descartá-lo, muitos programas deixam de rodar, o que estimula a substituição”, lembra a presidente do Instituto GEA Ética e Meio Ambiente, Ana Maria Domingues.
Além disso, há empresas que apostam em produtos com durabilidade pequena. Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumir (Idec) revelou que 32% dos computadores apresentaram defeito com apenas 2,6 anos de uso, enquanto 22% dos celulares deixaram de funcionar corretamente com 3,1 anos de atividade. Tudo isso impacta no meio ambiente.
“Há duas questões: a matéria-prima usada e o descarte. Os eletroeletrônicos exigem água na sua produção e possuem mais de 60 tipos de componentes, entre metais nobres, plásticos e metais pesados. Ou seja, estamos jogando nossos recursos pelo lixo muito rapidamente”, pondera Ana Maria.
“O segundo problema é que computadores e celulares contam com elementos tóxicos e altamente contaminantes, como chumbo, cromo, cádmio e mercúrio. E nem todos os municípios possuem locais para o descarte correto”, aponta.
Capacitação é caminho
Descarar esse tipo de resíduo, aliás, ainda é um desafio para o consumidor comum. “Muitas pessoas deixam monitores na calçada. O sol e a chuva podem abri-los e fazer com que contaminem a água e o solo”, adverte a ambientalista. Para completar, encaminhar computadores, celulares, baterias, controle remotos e afins para a coleta de lixo reciclado também não é garantia que o produto tenha um destino correto, pois nem todas as cooperativas estão capacitadas a desmontar os equipamentos e fazer a seleção de peças.
Foi pensando em reverter o problema do descarte que o Instituto GEA e o Laboratório de Sustentabilidade (Lassu) da Universidade de São Paulo (USP) se uniram para orientar catadores e cooperativas a separar adequadamente os componentes dos eletrônicos.
“Isso preserva recursos, evita problemas de saúde e ainda gera renda para os trabalhadores, que podem vender separadamente peças e metais”, explica Ana. Mais de 180 cooperativas de diversos locais do país já passaram pelo treinamento. Além disso, o site da instituição disponibiliza endereços de locais onde os eletrônicos podem ser deixados para a reciclagem.
Cada componente, um destino
“Outro desafio do “lixo eletrônico” é que o seu ciclo de reciclagem é extenso”, conta a coordenadora do Ecotecno, Andreza Carvalho. O projeto é especializado em triar todos os materiais dos computadores recebidos e encaminhar cada um deles para companhias credenciadas.
“Por exemplo, HD e memórias podem ser vendidos e retornar ao mercado. Um mesmo notebook possui diferentes tipos de plástico no seu teclado ou cooler [responsável pelo arrefecimento do aparelho], que possuirão destinos diferentes”, esclarece. “Monitores precisam ser encaminhados para empresas que façam a abertura em local livre de contaminação, enquanto certas partes do computador são exportadas, pois não há empresas aptas no Brasil a retirarem metais como ouro e a prata delas”, complementa.
Por fim, Andreza conta que cerca de 5% dos materiais dos computadores não possuem utilidade e são encaminhados para serem incinerados nas usinas. “A triagem é uma parte importante de toda a cadeia”, finaliza.