Leonardo Valle

Diminuir em 25% a desigualdade de gênero no mercado injetaria R$ 382 bilhões na economia brasileira até 2025, segundo projeções da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Pois das áreas de atuação em que as mulheres ainda estão sub-representadas, destaques negativos são ciências, tecnologia, engenharia e matemática (STEM, na sigla em inglês).

“É um problema antes de tudo econômico. Se metade da população mundial é composta por mulheres e elas estão sendo deixadas de lado, temos uma geração que ficará à margem”, adverte a idealizadora do projeto Mulheres na Computação, Camila Achutti. Para fomentar mais mulheres em STEM, é preciso começar um trabalho desde cedo. “Não adianta as empresas quererem 50% das vagas de tecnologia para mulheres hoje, se essas profissionais não estão sendo formadas. Há turmas apenas com uma garota”, assinala Achutti.

Plantar para colher

Visando melhorar esse quadro, a diretora na DXC Technology, Cláudia Braga, direcionou o projeto Aprendiz apenas para meninas de 16 a 18 anos, vindas de escolas públicas e de famílias de baixa renda. O objetivo é que elas vivenciem a tecnologia na prática. “Elas chegam sem saber nada sobre a área e a nossa tarefa é encantá-las. Além disso, cada uma delas também influencia as amigas, família e pessoas à sua volta”, comemora.

Cada aprendiz é “apadrinhada” por um profissional da empresa, que acompanha o seu desenvolvimento e dúvidas. “Houve casos em que pais queriam descontinuá-las do programa por considerarem a tecnologia um ambiente ‘para macho’ ou por medo de elas se tornarem lésbicas. O acompanhamento próximo ajuda na retenção”.

Já selecionar e patrocinar talentos femininos nas faculdades de STEM foram as iniciativas da diretora comercial América Latina da GE, Lívia Silva. Além disso, a empresa desenvolveu uma maior preocupação com a retenção das carreiras femininas. “Estamos elaborando o piloto de um programa voltado para mulheres que abandonaram a carreira por conta da maternidade ou outros problemas pessoais. Seis anos depois do afastamento, elas encontram dificuldades de reinserção no mercado de trabalho”, relata. “Atraí-las novamente é um ganho, pois são profissionais competentes, com garra e que precisam apenas de uma oportunidade”, decreta.

Cuidados educativos

Para a professora do Insper, Regina Madalozzo, o principal fator de afastamento é cultural e se inicia ainda na escola. “Estudos mostram que, após os sete anos, as próprias crianças classificam os meninos como espertos e as meninas como legais. Inconscientemente, isso vai influenciando nas ambições profissionais das mulheres ao longo dos anos”, relembra.

“Quando eu era pequena, meu pai levava os meninos para ver como o motor do carro funcionava e eu e minhas irmãs ficávamos descascando batatas. Ou seja, as mulheres são condicionadas a não ocupar esses espaços e a não desenvolver habilidades tecnológicas na infância”, denuncia Achutti.

Atrair mulheres que nunca pensaram em tecnologia para a área de programação é um dos objetivos de Camila Achutti. Para isso, ela desenvolveu um olhar minucioso para os materiais pedagógicos e peças de comunicação dos cursos que promove. “Na minha primeira aula de algoritmo, durante a faculdade, o exemplo utilizado pelo professor foi um jogo de pôquer – algo totalmente fora da minha realidade. A partir daí, vi a importância de conteúdos didáticos que não afastem as mulheres”, justifica. “Reforçamos nos títulos, por exemplo, que ela não precisa realmente saber nada de programação para dar o primeiro passo. Para completar, temos cuidados com os pronomes femininos. Como, por exemplo, escrever ‘encontre o seu ou a sua CTO [diretor de tecnologia]’, ao invés de usar apenas no masculino”, finaliza.

*As falas das entrevistadas foram retiradas do Painel “Mulheres em STEM”, do Fórum Mulheres em Destaque, ocorrido no dia 30 de novembro de 2017.

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