Leonardo Valle
Em 2017, a França se tornou o terceiro país a acionar judicialmente a Apple por reduzir a vida útil de seus aparelhos intencionalmente e forçar os consumidores a comprarem modelos novos – prática conhecida como “obsolescência programada”. Na ocasião, a empresa confirmou que os modelos antigos de seus smartphones tinham seu desempenho reduzido pelas atualizações do sistema operacional.
A obsolescência programada, contudo, não se restringe somente aos smartphones, abrangendo toda a produção de eletrônicos e bens de consumo. “Na prática, a empresa projeta um equipamento para quebrar antes do que poderia. Tal método data dos anos 1920, quando as primeiras lâmpadas, projetadas para durar décadas, passaram a funcionar por apenas um ano”, contextualiza a coordenadora geral do Laboratório de Sustentabilidade (Lassu), da Universidade de São Paulo (Poli-USP), Tereza Cristina Melo de Brito. “As empresas perceberam que, se produzissem bens mais duráveis, não haveria consumo e não aqueceria a economia. Essa se tornou a justificativa”, complementa.
Quem sofre com o consumo desenfreado e a produção acelerada de eletrônicos, contudo, é o meio ambiente. Segundo a engenheira ambiental e professora da Universidade do Oeste Paulista (Unoeste), Nelissa Garcia Balarim, a obsolescência programada é uma das causas do aumento na produção de lixo eletrônico em todo o mundo.
“Além disso, caso esses resíduos sejam descartados inadequadamente, podem causar a contaminação do solo, da água e do ar, devido a presença de substâncias tóxicas que acabam afetando todos os seres vivos”, destaca. A lista de elementos com potencial contaminante inclui chumbo e mercúrio, presentes em itens eletroeletrônicos.
Outro problema causado pela prática é o consumo de recursos naturais para a produção de novos aparelhos. “Computadores e smartphones, por exemplo, utilizam ouro e cobre, além de muita água”, reforça Brito.
Driblando o problema
Para adquirir produtos mais duradouros, a principal dica é pesquisar sobre a qualidade do item na internet, assim como a reputação da empresa em relação ao tema. Além disso, vale a pena checar se há assistências técnicas com preços acessíveis na sua cidade. Isso porque outra face da obsolescência programada é dificultar o conserto de itens quebrados.
“É comum, por exemplo, a jarra do liquidificador ser mais cara do que um aparelho novo. Ou a assistência técnica oficial colocar o preço do conserto de um determinado item lá no alto, para desencorajar que a pessoa peça o reparo”, adverte Brito.
Outra recomendação é somente comprar um item novo quando o antigo realmente deixar de funcionar. Para isso, atente-se aos recursos que as empresas lançam mão para estimular o consumo, como relançar anualmente o mesmo produto com pequenas mudanças de design, acessórios e de software.
“Outros artifícios são as propagandas exaltando os avanços tecnológicos a fim de induzir o consumidor da necessidade de adquirir outro bem. Além disso, também são criadas estratégias de venda, como promoções e formas de pagamentos que facilitam a venda”, orienta Balarim.
E quando chegar a hora de consumir um item novo, cheque também de onde vêm os recursos utilizados na sua produção. “Já há um movimento de ‘garimpar’ o ouro e cobre em equipamentos eletrônicos antigos e reutilizá-los. Assim, não é necessário extraí-los novamente das minas”, informa Brito.
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