A chamada “economia azul” consiste na realização de atividades econômicas no oceano ou que dependam de seus recursos de forma sustentável. “Pesca, aquicultura, transporte marítimo, geração de energia, turismo, entre outras, são executadas para garantir inclusão social e conservação de ecossistemas costeiros e marinhos”, resume a mestre em Economia pela Universidade de Brasília (UnB) e analista ambiental Mariana Graciosa Pereira.
Nem toda prática econômica que passa ou depende dos oceanos, porém, se enquadra nesta classificação, como explica o docente da Escola de Gestão e Recursos Ambientais da Universidade Simon Fraser, no Canadá, Andrés Cisneros-Montemayor. “Por definição, toda economia azul deveria ser sustentável, mas o termo é usado hoje para se referir a qualquer tipo de indústria do oceano”, alerta.
Além de garantir o equilíbrio dos ecossistemas, também é fundamental que a prática seja democrática. “Ou seja, que os benefícios gerados alcancem as populações locais que praticam a atividade. O desafio é justamente evitar que apenas poucas sejam contempladas com os recursos produzidos”, acrescenta. Para incentivar esse desenvolvimento sustentável, podem ser promovidas infraestruturas, tecnologia e práticas sociais e ambientalmente conscientes.
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“A pesca pode ser uma atividade da economia azul se não exceder os limites de capturas e cumprir as regras adotadas para proteger o oceano e a renovação das espécies”, exemplifica o mestre em Direito e Economia do Mar Álvaro Máximo Sardinha. “Em outras palavras, economia do mar tem a ver com conhecer, proteger, viver do e com o oceano”, enfatiza ele.
Transição é desafio
De acordo com Pereira, o tema é sensível ao Brasil, país com 7mil km de costa e uma área de mais de 3 milhões de km quadrados. “Nossa economia depende dos recursos marinhos e das indústrias que se desenvolvem no mar. Algo particularmente importante para os municípios costeiros do país”, aponta. “A economia azul precisa ser estimulada para que as próprias indústrias marítimas continuem operando, com preservação e envolvendo as comunidades que dependem do mar para subsistência e manutenção de suas tradições culturais”, acredita.
No entanto, fazer com que indústrias já estabelecidas revejam processos realizados há décadas é desafiador. “Requer compromisso daqueles que praticam essas atividades e entendimento de que os impactos ambientais causados podem, inclusive, acabar com elas. É o caso do esgotamento de recursos pesqueiros por conta de pesca excessiva”, adverte a pesquisadora. “As principais ameaças têm origem na sobrepesca e na perda de biodiversidade, provocando redução de espécies e destruição de habitats”, diz Sardinha.
Lixo marinho, poluição por plástico, contaminação por resíduos industriais, domésticos e agrícolas também atravancam a economia azul. “Da mesma forma que o impacto das alterações climáticas, como aumento da temperatura e nível da água, acidificação e desoxigenação”, lista o pesquisador.
A transição, porém, já é realidade em alguns setores. “Um exemplo é o turismo de base comunitária em regiões costeiras. Ele garante o protagonismo das comunidades, gera benefícios coletivos e busca preservar o ambiente do qual todos dependem”, ilustra. A geração de energia a partir de ondas, de marés e correntes oceânicas é considerada sustentável por gerar poucos impactos negativos. “Prática importante a ser implementada e expandida futuramente é a venda de créditos de carbono gerados pela proteção de ecossistemas costeiros, como os manguezais. É o chamado ‘carbono azul’”, indica Pereira.
Financiamento
De acordo com Montemayor, estimular essa economia oceânica sustentável exige planejar em conjunto com as comunidades locais práticas que as beneficiem.“Acontece de uma atividade gerar empregos precários e subpagamento para os trabalhadores locais e pessoas externas serem beneficiadas”, denuncia.
Consumidores podem apoiar a economia azul sabendo a origem do que compram. “Do turismo à pesca, escolha locais em que as atividades sejam lideradas pelas comunidades locais”, indica Montemayor.“Vale ainda pesquisar na internet ou perguntar nos mercados locais se os peixes e frutos do mar vendidos são sustentáveis”, completa.
Governos também tem papel importante em estimular a transição para a economia azul por meio de políticas públicas, fiscalização, regulação das atividades e também financiamento. “Existe a necessidade de investimentos em projetos que visem reduzir emissões de carbono e poluição”, diz Pereira. Por fim, é fundamental educar todas as camadas da população, não apenas os jovens. “Alertar que existe apenas um oceano que liga a todos e que este tem de ser protegido”, diz Sardinha.
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