Leonardo Valle
Segundo a última edição do relatório anual do Global Wind Energy Council (GWEC), publicada em abril de 2019, a capacidade instalada no mundo de energia eólica era de 591 GW (gigawatts). Os maiores produtores eram respectivamente China (36%), Estados Unidos (17%), Alemanha (9%), Índia (6%), Espanha (4%) e França (3%), estando o Brasil em 7º lugar, com 2,6%. No nosso país, ela representa 8% da matriz elétrica.
“Isso é muito bom, pois o custo do MWh [megawatts-hora] da energia eólica já é inferior ao da despachada pelas hidrelétricas, e ela ajuda a suprir as deficiências de geração de algumas regiões do Brasil, principalmente no Nordeste”, explica o professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), Demetrio Cornilios Zachariadis.
O crescimento da energia eólica no Brasil também reflete positivamente no meio ambiente, como destaca o coordenador do curso de engenharia mecânica do Instituto Mauá de Tecnologia, Joseph Youssif Saab Júnior.
“Existem duas matrizes energéticas: a total e a elétrica. Na matriz total, a eólica representa apenas 1,2% da demanda, porém, com ela, já deixamos de queimar quase quatro milhões de toneladas equivalente de petróleo ao ano. Isso é mais do que consome toda a frota de veículos da Grande São Paulo”, compara. “Lembrando que os gases de efeito estufa são os principais responsáveis pelos efeitos do aquecimento global, e eles são principalmente emitidos pela conversão via queima de combustíveis fósseis”, assinala.
Opinião semelhante possui Zachariadis. “Após a construção de um parque eólico, sua operação e manutenção demanda um consumo insignificante de combustíveis fósseis, de modo que a energia despachada pode ser considerada limpa”, ressalta.
“Durante a fabricação da turbina eólica e a logística envolvida no transporte de seus grandes componentes, é inevitável que ocorra a queima de combustíveis fósseis e a emissão de poluentes para a atmosfera. Ainda assim, os impactos ambientais são menores que a energia proveniente desse processo”, reforça o professor.
Crescimento esperado
A energia eólica possui algumas vantagens frente a outras fontes limpas. “Ela tem conversão bastante eficiente devido à constância dos ventos, principalmente na costa do Nordeste. Além disso, não se limita à produção durante o dia, como a solar, sua entrada em operação é muito mais rápida e com impacto ambiental bem menor do que uma hidrelétrica, por exemplo, a quem ela complementa bem nos ciclos brasileiros”, elenca Júnior.
De acordo com Zachariadis, considerando a energia despachada pelos grandes produtores, o preço do MWh da elétrica de fonte eólica já é o mais barato dentre as fontes renováveis. “A energia solar fotovoltaica é aproximadamente 60% mais cara que a eólica”, pontua.
A situação se inverte quando são comparados os custos dos pequenos produtores, que geram e consomem energia localmente. Nesse caso, a eólica costuma ser mais cara. “Há pouca oferta de pequenas turbinas para esse fim no Brasil, enquanto que os painéis fotovoltaicos são importados em grandes quantidades, o que acaba barateando o custo “, analisa.
Questões operacionais, contudo, fazem com esse tipo de energia ainda não esteja disponível para toda a população, principalmente por conta de problemas de conexão dos parques eólicos aos centros consumidores por meio do Sistema Integrado Nacional (SIN).
“Isso tem sido resolvido com a realização de leilões de concessão de linhas de transmissão de energia. Superados esses problemas, as demandas energéticas poderão ser atendidas independentemente da fonte”, diz Zachariadis.
“Não se pode esquecer a intermitência da geração, que varia ao longo do tempo, de modo que, dependendo do horário e da estação do ano, a oferta de energia eólica será insuficiente para atender à demanda”, contrapõe.
Para o futuro, espera-se o crescimento desse tipo de energia na matriz energética brasileira. “A partir de 2030 está prevista também a construção de parques eólicos offshore (fora da terra). A Petrobrás já está realizando testes no litoral do Nordeste, e outros investidores também têm demonstrado interesse nesses parques no Ceará”, adianta o professor da USP.
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