Leonardo Valle

A tecnologia tem transformado a defesa dos direitos humanos em todo o mundo, segundo o pesquisador do Centro de Ciência dos Direitos Humanos, da Universidade Carnegie Mellon (EUA), Enrique Piracés. Há mais de uma década, ele estuda a intersecção entre direitos humanos, ciência e inovação tecnológica.

Entre as experiências já colocadas em prática, ele destaca projetos de sucesso com criptografia, inteligência artificial e aprendizagem de máquina. “Para o futuro, o código aberto pode fortalecer a infraestrutura disponível para o movimento civil e global de direitos humanos. Essa troca entre pares deve ser vista como um ato de solidariedade entre as organizações cívicas internacionais, tecnoativistas, cientistas e defensores de políticas”, analisa.

Como é o trabalho do Centro de Ciência dos Direitos Humanos, da Universidade Carnegie Mellon?

Enrique Piracés: O centro reúne cientistas e profissionais vinculados à defesa dos direitos humanos, comprometidos em investigar como se encontra o tema em todo o mundo. Incentivamos a colaboração entre diversas áreas para promover métodos científicos que coletem, analisem e comuniquem sobre direitos humanos. Também fornecemos assistência para pessoas físicas e organizações, seja por meio de consultorias, programas educacionais ou pesquisas.

O quão importante é a tecnologia para os direitos humanos nos dias de hoje?

Piracés: Como em todas as áreas da existência humana, ela tem se tornado cada vez mais importante para a prática dos direitos humanos, tendo-a transformado. Cito a utilização da tecnologia de DNA para identificar corpos abandonados, o uso de imagens de satélite para acessar crises em locais remotos, a criptografia para proteger dados confidenciais, o uso de sensores para monitoramento ambiental, entre outros. Além disso, inovações tecnológicas podem melhorar nossa capacidade de pesquisar, documentar e avançar em questões relacionadas à temática. Por exemplo, ela ajuda a investigar fatos e auxilia em ações judiciais.

Sobre as tecnologias que já estão sendo aplicadas, quais merecem destaque?

Piracés: Vídeos gravados pelos cidadãos e outras imagens disponíveis publicamente fornecem evidências importantes de violações de direitos e crimes de guerra. Contudo, a quantidade desse material pode sobrecarregar os pesquisadores que atuam fazendo sua averiguação. O que temos visto é que aumentaram as iniciativas que procuram usar inteligência artificial e o aprendizado de máquina (método de análise de dados automatizado) para melhorar a checagem de grandes volumes de vídeos. Também aumentaram os projetos que visam tornar a documentação e a troca de mensagens mais segura, por meio da criptografia. A adoção do código aberto tem sido primordial para um melhor intercâmbio entre pesquisadores, pessoas e organizações que trabalham com os direitos humanos. Por fim, a inteligência artificial poderia ser usada para descobrir padrões nas decisões judiciais, auxiliando advogados na elaboração de suas defesas.

Direitos humanos, ciência e inovação tecnológica: Enrique Piracés estuda há mais de uma década relação entre essas áreas (crédito: arquivo pessoal)

 

Quais populações podem se beneficiar com a tecnologia aplicada à defesa dos direitos humanos?

Piracés: De um modo geral, os pesquisadores e organizações se beneficiam das tecnologias de averiguação de fatos e que tornam as ações judiciais mais eficientes. Já a criptografia é talvez a inovação que beneficiou mais os cidadãos. Dois recentes exemplos foram a sua adoção como padrão pelo WhatsApp e a criação do Let’s Encrypt, um projeto que fornece certificados Secure Sockets Layer (SSL) e Transport Layer Security (TLS) gratuitos (protocolos de segurança que protegem comunicações entre browser e servidor). Ambos tiveram milhões de beneficiários. Sobre segmentos específicos, a tecnologia se espalha e atravessa todas as populações. Contudo, grupos que são marginalizados podem se beneficiar mais, pois tendem a ser excluídos das discussões sobre como a área pode impactá-los e também costumam viver em situações onde seus direitos não são preservados.

O que pode podemos esperar para o futuro?

Piracés: Bem, o futuro é imprevisível, uma vez que as tecnologias estão sendo desenvolvidas e introduzidas na sociedade em uma frequência nunca vistas anteriormente. De forma otimista, o código aberto pode fortalecer a infraestrutura disponível para o movimento civil e global de direitos humanos. Essa troca entre pares deve ser vista como um ato de solidariedade entre as organizações cívicas internacionais, tecnoativistas, cientistas e defensores de políticas.

Veja mais:
Vídeo: Direitos Humanos – o que significam e como promovê-los?
Podcast: Declaração Universal dos Direitos Humanos comemora 70 anos
Podcast: 30 anos da constituição cidadã e os dias de hoje – crianças, mulheres e direitos humanos

Crédito da imagem: ipopba – iStock

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