Leonardo Valle

O dançarino Flip Couto nutria o desejo de desenvolver um espaço em que as comunidades negras e LGBTIs pudessem se sentir em casa. “Queria um ambiente onde as pessoas não se sentissem agredidas por serem negras. Quando vamos a um lugar LGBTI, onde você tem liberdade de expressar o seu afeto, encontramos um espaço branco e classista. Assim, queria criar um local de acolhimento, de encontro e de trocas”, relembra.

Em 2016, o sonho se tornou realidade quando ele fundou a festa itinerante Amem. Cada edição possui uma temática e é precedida por uma roda de conversa sobre o tema escolhido. “Quando chegou dezembro, decidimos fazer uma edição sobre o Dia Mundial de Luta Contra a AIDS, comigo falando em primeira pessoa, já que vivo com HIV. Foi quando chegaram outros colaboradores e, aos poucos, percebemos que éramos um coletivo de artistas, intelectuais e ativistas negros”, completa.

Atualmente, fazem parte do coletivo a artista plástica soropositiva Micaela Cyrino, os dançarinos Félix Pimenta e Fênix Negra, a bailarina Isis Virgílio, a atriz Dani Glamurosa, entre outros. O objetivo é dialogar, principalmente, com a comunidade negra, mas também criar pontes com outros públicos.

“Nossa principal atividade é festa, entendida como espaço de socialização e para criar uma rede de afetos. A partir desse encontro, a gente alimenta o grupo com performances artísticas que falam sobre identidade, rodas de discussão para que todos tenham um local para se expressar, depoimentos dados durante a festividade, entre outros”, sintetiza Couto.

Rodas de debate e manifestações artísticas fazem parte das atividades presentes na Festa Amem (Crédito: reprodução Facebook)

 

“Nossos desafios são: como circular em diferentes espaços, falar sobre a importância da luta, como traduzir nosso conhecimento e criar canais de diálogo para discutir temas que atingem diretamente nossa comunidade”, lista.

Fortalecimento em grupo

A epidemia de HIV ainda atinge mais a população afrodescendente, motivo pelo qual o tema se tornou uma das principais bandeiras levantadas pelo coletivo Amem. Segundo dados do Boletim Epidemiológico de 2016 do Ministério da Saúde, entre os casos de infecção por HIV registrados de 2007 a 2015, 44% são entre brancos e 54,8% são entre pretos e pardos. A diferença é maior quando o recorte é entre mulheres: 39,2% dos casos de novas infecções ocorrem entre brancas e 59,6% entre pretas e pardas.

“Há um racismo institucional que torna a população negra não apenas vulnerável à epidemia do HIV, mas também a outros tipos de violências e silenciamentos, que impactam nas nossas vidas. Por isso, a importância de discutir prevenção, acesso à medicação e tratamento”, lembra Couto.

Já Micaela Cyrino busca, em suas falas e manifestações artísticas, enfatizar a intersecção entre negritude, mulher e HIV. “Procuramos discutir o fetiche que recai sobre o corpo negro e criar linguagens para dialogar com nosso público, que talvez não tenha acesso a outros espaços”, reforça.

Segundo Couto, o retorno vem geralmente de outros jovens que vivem com HIV ou convivem com pessoas soropositivas. “Na roda de conversa, temos os momentos de tratar de assuntos silenciados e oferecer um espaço de fala e de escuta. Mas o feedback também vem com um simples abraço na hora da festa “, finaliza.

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