Leonardo Valle

A bibliotecária Lorisa Pinolevi era atendida mensalmente por um psicólogo na Unidade Básica de Saúde (UBS) perto de sua casa, na cidade de São Paulo (SP). A necessidade de consultas semanais – não oferecidas no serviço público – fez com que seu terapeuta a encaminhasse para uma clínica vinculada a uma faculdade. Nesse modelo, estudantes de psicologia atendem gratuitamente a população e são supervisionados por professores.

“Todas as pessoas deviam ter esse espaço para serem ouvidas e conseguirem lidar com os problemas. Muitas sentem-se sozinhas e sem esperança por não terem acesso a esse tipo de serviço”, explica.

As clínicas sociais vinculadas a universidades públicas e particulares podem ser encontradas em diferentes cidades do Brasil. Geralmente, a pessoa interessada passa por uma triagem, onde são considerados aspectos socioeconômicos. O tratamento costuma durar de um semestre a um ano.

Na clínica da Universidade de São Paulo (USP), os serviços variam de acordo com os estágios oferecidos pelos professores aos seus estudantes de psicologia. “Há serviços abertos para a população, outros para moradores do bairro ou para a comunidade acadêmica”, contextualiza a professora e coordenadora do Laboratório de Estudos em Fenomenologia Existencial e Prática em Psicologia (LEFE), Henriette Tognetti Penha Morato.

O local costuma atender 300 pessoas mensalmente, entre serviços individuais e em grupos, que ocorrem entre 8h e 17h. Além disso, um dos estágios idealizados por Morato funciona como um plantão terapêutico, voltado para situações urgentes.

“Nesse caso, não há triagem e o aluno-plantonista fica à disposição no período do fim da tarde e noite. O profissional acolhe o paciente e ajuda a dar o melhor encaminhamento”, relata a docente, cujo serviço realizou 800 consultas em 2018.

Para Morato, esse modelo vinculado à extensão universitária beneficia tanto as pessoas quanto os estudantes que nele atuam. “Ele devolve para a sociedade o que é investido na universidade pública. É um trabalho delicado que ajuda a entender as necessidades da comunidade, a produzir pesquisa e formar bons profissionais”, revela ela, cujas orientações de mestrado e doutorado são vinculadas à clínica.

Ex-aluna da Universidade Estadual Paulista (Unesp-Assis), a psicóloga Hanna Lima atuou por dois anos na clínica social da sua faculdade quando estudante. Para ela, a experiência foi fundamental para a sua formação.

“É por essa prática que se tem os primeiros contatos, a oportunidade de conhecer demandas sociais e unir teoria e prática. O terapeuta começa a ter a vivência do manejo clínico e a pensar sua posição na relação com o paciente”, analisa. “Para completar, pode observar alguns conteúdos próprios que deve trabalhar em análise pessoal e que pode ajudar em seus atendimentos “.

Preço acessível

Além das clínicas de extensão universitária, há modelos de atendimentos realizados por centros de formação para psicólogos já graduados. É o caso da clínica-escola da Associação Brasileira de Psicodrama (ABPS), em São Paulo, que oferece atendimentos individuais e em grupos a baixo custo. Os profissionais que atendem são psicólogos que passam pela formação de dois anos na técnica, na qual a representação dramática é utilizada como forma de tratamento.

“São recém-formados, com conhecimento acadêmico e pouca prática. O é benéfico porque costuma ser seu primeiro ensaio para entrar no mercado de trabalho. Ele aprende a fazer a avaliação socioeconômica, a trabalhar com valores, horários e a ter um relacionamento ético com outro”, ressalta o presidente da associação, Lucio Guilherme Ferracini. Ele próprio foi paciente da instituição, na década de 90, quando estudante de psicologia.

Na ABPS, os pacientes costumam ser atendidos durante um ano. Depois, têm a oportunidade de migrar para o atendimento particular com o psicólogo que os atende, a um preço mais em conta.

A professora Gislaine Andrade teve seu primeiro contato com a psicoterapia justamente nesse modelo social. Ela é ex-paciente da Clínica Aberta de Psicanálise na Casa do Povo, em São Paulo, onde um grupo de profissionais se reveza para atender gratuitamente pessoas da comunidade.

“Estava em uma atividade de costura no local e fiquei sabendo dos atendimentos por acaso. A experiência ajudou a espantar um receio que eu tinha relacionado à terapia que era o de ser julgada”, confessa. “Além disso, a questão do acesso é benéfica, porque esse tipo de serviço costuma ser caro e elitizado em outros espaços”, opina ela, que hoje faz, de forma particular, psicoterapia individual.

Para pessoas que desejam buscar uma clínica social, Ferracini recomenda pesquisar o histórico da instituição escolhida e checar se o paciente se sente bem atendido naquele espaço.
“Se o sofrimento está em demasia e atrapalha a sua rotina, é hora de buscar um acompanhamento psicológico. O benefício da psicoterapia é ajudar a pessoa a ser protagonista da sua história, potencializando a sua autonomia”, esclarece.

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Crédito da imagem: fizkes – iStock

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