Leonardo Valle
O Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, sofreu o pior incêndio da sua história entre os dias 10 e 25 de outubro de 2017. Foram afetados mais de 66 mil hectares – o equivalente a 28% da unidade de conservação. As principais áreas atingidas foram campos e florestas.
“A flora costuma rebrotar com facilidade, após a chegada da chuva e da umidade. O mesmo não acontece com as matas nativas. É uma vegetação mais sensível, com tempo de crescimento e de recuperação longo”, descreve o coordenador de prevenção e combate a incêndios do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Christian Berlinck.
Outro agravante é que o incêndio, ocorrido na primavera, destruiu as sementes das espécies da região. “Após o final da seca, com a chegada da chuva, há a queda de sementes. Além disso, a queima dos grãos impede a germinação de novas vegetações”, contextualiza César “Sat” Barbosa, químico especializado em agroecologia do Instituto Biorregional do Cerrado (IBC).
Segundo Berlinck, a restauração das florestas exigirá o apoio de bancos de sementes – estabelecimentos que guardam exemplares das espécies nativas da região. “Já as áreas fora das unidades de conservação podem receber agroflorestas, que incorporam sementes de outras espécies não-nativas”, complementa Sat.
Quando o assunto é a vegetação da região, as chamas ainda impactaram as veredas – área do cerrado onde há predomínio de palmeiras da espécie Mauritia Flexuosa, mais conhecidas como Buritis. “Veredas possuem um solo que funciona como uma esponja, armazenando água. Algumas das veredas mais simbólicas da Chapada foram atingidas, como a do Jardim de Maytrea. É uma perda imensurável, podendo haver consequências diretas no regime de águas na região”, adverte a coordenadora no IBC, Juliana Torres.
Animais sem comida
Já no caso da fauna, o impacto do incêndio persiste mesmo após o controle das chamas. “Os animais perdem a disponibilidade de água, alimentos e refúgio contra predadores nos meses seguintes”, pontua Christian Berlinck.
Além disso, a reprodução de diversas espécies também acontece na primavera. O fogo, ao destruir os ninhos, também prejudicou a cadeia ecológica da região em longo prazo. “Filhotes de pássaros e pequenos animais, principalmente da fauna rasteira, possuem pouca mobilidade para fugir de um incêndio. Porém, com o abalo na cadeia da região, todos são significativamente atingidos”, lamenta o vice-presidente da Fundação MAIS Cerrado!, Marcus Saboya.