Leonardo Valle

Quem viveu a década de 1980 deve lembrar dos esforços para reduzir as emissões do gás clorofluorocarbono, mais conhecido como CFC, que se fazia presente nas geladeiras e desodorantes em aerossol. “A substância contém cloro em sua molécula, que decompõe a camada de ozônio”, lembra o engenheiro mecânico e professor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Enio Bandarra.

Presente na estratosfera, há 25 quilômetros de altitude, essa cobertura de gás ozônio protege os seres vivos das radiações ultravioletas.

No caso dos cosméticos em aerossol, o CFC foi substituído pelo gás liquefeito de petróleo (GLP). Já os ares-condicionados e refrigeradores passaram a receber os gases HFCs ou hidrofluorocarbonos, opção, contudo, que ainda apresenta problemas ambientais.

“Eles não destroem a camada de ozônio porque não contêm cloro ou bromo em sua molécula. No entanto, eles têm um elevado potencial para o aquecimento global (GWP, sigla em inglês para Global Warming Potential). Alguns tipos mais altos que outros”, lembra a professora do Deprtamento de Ciências Atmosféricas, da Universidade de São Paulo (USP), Adalgiza Fornaro.

“A questão é que as concentrações atmosféricas desses gases estão aumentando rapidamente globalmente”, alerta.

Segundo Bandarra, o problema se origina porque todos os gases absorvem parte da radiação infravermelha, dificultando que essa radiação se disperse no espaço. “Esse fenômeno pode ser comparado com o que ocorre no carro. Os raios ultravioletas atravessam o vidro, atingem as superfícies, como banco, painel etc., e não conseguem sair. Isso deixa o veículo quente e abafado por dentro”, ilustra.

Opções no mercado

Pelo menos 200 países, incluindo o Brasil, se comprometeram a reduzir o HFC até 2045 em um acordo mundial firmado, em 2016, pela Organização das Nações Unidas. Entre os objetivos, está a redução de 20% entre 2020-2022.

A má notícia para os consumidores é que a maioria dos aparelhos de ar-condicionado comercializados hoje no Brasil utilizam o HFC 410A.

“Ele tem um alto poder de aquecimento global. Enquanto uma molécula de CO2 possui uma unidade de GWP, esse gás, se vazar para a atmosfera, equivale a aproximadamente 2000 unidades de GWP”, compara o engenheiro.

Para o futuro, as opções da indústria são investir em modelos que operem com hidrocarboneto ou, ainda, com hidrofluorolefinas, conhecidos como HFOs.

“O hidrocarboneto é um fluido natural, altamente inflamável. Como ele se encontra dentro do equipamento, não há perigo, uma vez que não existe contato com oxigênio e nem faísca”, explica o profissional. “Sua única desvantagem é que ele somente pode ser utilizado em sistemas de pequeno porte devido à carga máxima de fluido no sistema de refrigeração”, diz.

Já os gases HFOs são a quarta geração de gases refrigerantes à base de flúor. “Ele tem um GWP muito baixo. Portanto, esses produtos oferecem uma alternativa mais ecológica”, esclarece Fornaro.

“Esses produtos estão em um estágio inicial de desenvolvimento, mas estão começando a ser introduzidos no mercado. Quando disponíveis, eles seriam uma alternativa aceitável, desde que as máquinas sejam projetadas corretamente para levar em consideração sua inflamabilidade”, acrescenta a professora.

Ainda, segundo Bandarra, alguns tipos de carros importados já possuem o ar-condicionado contendo o HFO 1234yf, em substituição ao HFC 134a.

Em relação aos refrigeradores, boa parte dos fabricantes substituiu o HFC pelo hidrocarboneto chamado R600a. “Os consumidores podem se informar sobre isso na hora da compra e adquirir equipamentos que consomem menos energia, colaborando de modo efetivo com o meio ambiente”, orienta Bandarra.

No Brasil, o selo Procel indica que o aparelho eletrodoméstico consome menos energia. “Um sistema de refrigeração pode afetar o meio ambiente de duas formas: direta, com o vazamento do fluido refrigerante, e indireta, por meio do consumo energético”, acrescenta.

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Crédito da imagem: DmitriMaruta – iStock

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