Leonardo Valle
A recepcionista Roberta Lopes, de Belo Horizonte (MG), já havia passado por situações de preconceito em aplicativos de carros compartilhados quando descobriu o Homo Driver, serviço voltado para a população LGBTQ+. Desde então, ela deixou de usar os apps destinados ao público geral.
“Uma amiga havia comentado durante o Carnaval, eu comecei a usar e não parei mais. A tendência foi buscar mais segurança. Prefiro, por questão de respeito e por ser melhor atendida”, explica.
A Homo Driver foi criada pelos sócios Gerson Almeida e Thiago Vilas Boas após uma observação social. “Havia a falta de liberdade e a insegurança que as pessoas LGBTQ+ enfrentam nos aplicativos de transporte particulares convencionais”, conta Vilas Boas.
Segundo o criador, a plataforma também é usada por mulheres cisgênero heterossexuais. “Elas alegam que se sentem mais protegidas, pois são assediadas nos apps que estão no mercado”, relata. Para garantir mais segurança, os motoristas são avaliados antes de serem cadastrados e são treinados para entenderem o público a ser atendido.
“Nosso treinamento não é apenas uma etapa, onde apresentamos nossa política de atendimento, cultura organizacional, simulações de cenários de corridas etc. Mas é feito um trabalho de acompanhamento com os motoristas durante toda sua parceria com a Homo Driver”, explica.
“Para isso, temos também um rigoroso controle de avaliação ao final das viagens, para exclusão da plataforma se existir alguma ação discriminatória, machista ou homofóbica”, decreta.
O app funciona na cidade de Belo Horizonte e atende também regiões próximas, como Contagem, Betim, Venda Nova, Sabará, Nova Lima, Santa Luzia e Confins.
Público feminino
Em São Paulo, a artista visual Fernanda Sternieri utiliza o Lady Drive, aplicativo de carros compartilhados voltado para mulheres – motoristas e usuárias. “O motivo foi o conhecimento de um caso de estupro e morte envolvendo carona por rede social na minha cidade, em São José do Rio Preto (SP). Quando voltei para a capital paulista, descobri a iniciativa e optei por utilizá-la à noite”, conta.
Já as cidades de Recife, São Luís, Fortaleza e Campina Grande contam com o app Mary Drive, também voltado para essa população, que possui 6.658 motoristas e 42.654 passageiras cadastradas. “A ideia surgiu com esse aumento significativo da violência de forma geral, mas em especial contra a mulher”, explica o CEO da empresa, Felipe Martins.
“O objetivo é entregar uma renda extra para o público feminino que faz parte do time de motoristas parceiras e uma solução de segurança para a mobilidade urbana”, justifica ele, que é ex-bombeiro e ex-motorista.
Sternieri acha todas as soluções de mobilidade personalizadas são bem-vindas para o público feminino. “Infelizmente, é necessário. Estuprador e assediador não têm rosto”, alerta.
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Crédito da imagem: mastermilmar – iStock