Conteúdos

Este plano de aula de educação física introduz o histórico do universo do yoga da Antiguidade até a atualidade, sugerindo a prática de asanas, para o conforto e relaxamento, ou relaxamento do esforço.

  • Introdução ao yoga na Antiguidade e na Contemporaneidade. Prática de asanas, tendo como fio condutor a ideia de conforto e relaxamento, ou relaxamento do esforço.

Objetivos

Espera-se que os e as estudantes conheçam brevemente o histórico do universo do yoga, desde a antiguidade até os dias de hoje, especialmente as transformações pelas quais passou a compreensão dos diferentes elementos associados a essa prática.

Além disso, é esperado que os e as estudantes experimentem uma prática de asanas, relatando, posteriormente, as percepções subjetivas generalizadas e relacionadas à ideia de conforto e relaxamento do esforço, em um momento de diálogo intersubjetivo entre as pessoas da turma.

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Palavras-chave:

Hatha Yoga. Yoga na Contemporaneidade. Relaxamento e conforto.

Previsão para aplicação:

2 aulas (50 min./aula)

Materiais utilizados:

● Colchonetes, mats ou toalhas que possam servir de suporte para a prática deitada ou sentada; e
● Equipamento para apresentação de vídeo e áudio.

Proposta de trabalho:

Serão apresentados conhecimentos históricos introdutórios sobre o yoga na Antiguidade e na Contemporaneidade. Sugerimos que, para se aprofundar nesses conhecimentos, procurem fontes confiáveis, como os textos e outros materiais de apoio sugeridos neste plano de aula. Realize uma aula introdutória, para trabalhar com esses conhecimentos, e outra para oferecer a vivência. Por ser uma vivência em que a formação específica é importante para a condução da prática, sugerimos o canal de um professor renomado no Brasil, no qual são oferecidas práticas seguras e acessíveis.

Sugerimos que você, professor ou professora, realize algumas das aulas disponíveis no canal previamente à aula, para ter essa primeira experiência. Deixamos indicada uma aula específica para ser oferecida diretamente aos/às estudantes, por meio de vídeo e áudio. Por fim, sugerimos uma discussão acerca das percepções sobre a prática de forma geral, notadamente no que diz respeito aos princípios de conforto e relaxamento.
Esperamos que este plano seja útil e colabore com a prática docente.

1ª Etapa: Contextualização histórica

A palavra yoga, derivada da raiz yuj, tem origem sânscrita e frequentemente se traduz como unir, juntar, atrelar. Compreendida de duas formas: como a união entre o indivíduo e o Princípio Supremo, e (para atingir esse estágio final) como a unificação ou domínio dos elementos do psiquismo humano e do equilíbrio da personalidade mundana. Assim o yoga pode ser compreendido também como um método, um caminho para “conquistar um estado incomparavelmente superior à sua condição atual, […] o estado absolutamente incondicionado, livre de todas as limitações, que a tradição indiana denomina “Liberação” (mosksha) […]” (MICHAËL, 1976, p. 20).

A Índia aplicou-se com rigor inigualável à análise dos diversos condicionamentos do ser humano. Apressemo-nos a acrescentar que ela o fez, não para chegar a uma explicação precisa e coerente do homem […], mas para saber até onde se estendiam as zonas condicionadas do ser humano e ver se existe algo além desses condicionamentos. […] Pois, para a Índia, o conhecimento dos sistemas de “condicionamento” não podia ter seu fim nele mesmo; o importante não era conhecê-los, mas dominá-los; trabalhava-se sobre os conteúdos do inconsciente para “queimá-los” (ELIADE, 1996, p. 12).

Muito ainda há para ser conhecido a respeito das origens do yoga como, por exemplo, qual ou quais foram as primeiras civilizações que desenvolveram e aplicaram as técnicas e os métodos mais antigos. Por meio dos estudos históricos, considera-se que o primeiro conjunto de conhecimentos reunidos e estruturados como sistema filosófico a respeito do yoga, conhecido como Yoga Sutras de Patanjali, teve como base outros sistemas filosóficos anteriores a ele (tal como o Sankhya), mas com uma série de fundamentos e sistematizações que ainda não haviam ocorrido (MICHAËL, 1976, p. 20).

Por meio dos primeiros registros que se tem, fundamentalmente a respeito do yoga ou de outros sistemas filosóficos relacionados, datados entre os séculos II a.C. e IV d.C., sabe-se que tais ensinamentos eram, necessariamente, transmitidos de mestres a discípulos. Nesse período, Patanjali reuniu em forma de aforismos os princípios, métodos e práticas difundidos em sua época, manuscrito conhecido como Yoga Sutras de Patanjali, que apresenta o yoga na condição de darsana, ou seja, na condição de um sistema filosófico próprio, que tem com o propósito a Liberação (MICHAËL, 1976).

É impossível, por exemplo, passar ao largo de uma das maiores descobertas da Índia: a da consciência-testemunha, a consciência desembaraçada de suas estruturas psicofisiológicas e de seu condicionamento temporal, a consciência do “liberado”, isto é, daquele que conseguiu livrar-se da temporalidade e partiu em busca da verdade, da inefável liberdade. A conquista dessa liberdade absoluta, da perfeita espontaneidade, constitui a meta de todas as filosofias e de todas as técnicas místicas indianas, mas é principalmente pelo Yoga, por uma das múltiplas formas, que a Índia acredita tê-la conquistado (ELIADE, 1996, p. 14)

Na antiguidade, os yoguis e seus mestres, assim como os adeptos aos sistemas filosóficos anteriores à Patanjali, foram pessoas renunciantes, ou seja, que sacrificavam a vida social em meio à civilização para serem entregues unicamente à vida ascética, nas matas e montanhas. Os ensinamentos dos Yoga Sutras de Patanjali, curiosamente, correspondem à principal fonte dos fundamentos do yoga referenciados nos dias de hoje. Porém, não vemos muitas pessoas renunciantes. Além disso, Patanjali, ao se referir aos asanas ou às posturas, como popularmente são chamadas no Brasil, menciona apenas uma delas, que é aquela que vem à mente quando pensamos em uma postura de meditação.

Porém, o yoga que vemos ser desenvolvido nos dias atuais, principalmente no Ocidente, possui uma série de posturas e elementos que se diferem do que foi transmitido por Patanjali como caminho e fundamentos do yoga. Isso porque a prática mais conhecida nos dias atuais tem fundamentos de tratados de yoga datados a partir do século X d.C. Esses tratados correspondem ao que conhecemos como Hatha Yoga, cujos manuscritos reuniram uma série de técnicas, divididas entre: asanas (posturas), krias (processos de purificação interna), pranayamas (regulação do prana por meio na manipulação da respiração e das pressões internas), mudras e brandas (gestos e técnicas para modulação da energia) e dharana, dhyana e samadhi (meditação) (SOUTO, 2009). Nesse período, outros asanas (ou posturas) foram incluídos no repertório do yoga, influenciando a noção dominante que temos de yoga na contemporaneidade.

Leia mais sobre a história do yoga 

2ª Etapa: O yoga contemporâneo

Compreende-se, então, que o Hatha Yoga é o grande guarda-chuva das práticas relacionadas ao yoga contemporâneo, em razão da utilização das técnicas descritas anteriormente, especialmente os asanas. É importante ter em mente que alguns estilos de yoga desenvolvidos na contemporaneidade diferem em relevância histórica e, principalmente, filosófica das escolas de yoga da Antiguidade. Alguns exemplos são o vinyasa e o iyengar yoga, que não são linhas ou escolas, mas sim estilos que foram desenvolvidos na contemporaneidade, tendo como referência os seus criadores e inserindo-se no mercado profissional por meio de formações específicas. O Hatha Yoga, então, é o berço de todos esses novos estilos, ainda que pareçam divergir completamente ou que não façam referência ao Hatha Yoga.

Apenas muito recentemente o yoga passou a ser objeto de pesquisa da ciência moderna, na qual frequentemente são evidenciados os benefícios da prática para a vida humana. Estudos são desenvolvidos com foco principal na promoção de saúde e melhora de distúrbios como, por exemplo, estresse, dores, problemas relacionados ao sistema circulatório, articular etc. (HARVARD MEDICAL SCHOOL, 2016). Esse é um dos vínculos entre os objetos de estudo da educação física e da yoga. São conhecimentos valiosos e motivacionais para o engajamento das pessoas em aulas e práticas, mas que se divergem fortemente dos motivos originais pelos quais as pessoas se interessavam e transformavam suas vidas por meio do yoga.

Nesse sentido, é importante ter em mente que o yoga praticado nos dias atuais se difere muito daquele desenvolvido na Antiguidade. Independentemente das motivações de cada um e cada uma ao se aproximar desse universo, o respeito e a referência adequada são essenciais para que as pessoas tenham as ferramentas para escolher o que melhor lhes cabe e o que faz sentido.

3ª Etapa: Vivência

Para proporcionar uma prática segura a todas as pessoas, e com orientações específicas que demarcam a diferença entre uma prática de yoga e outro tipo de ginástica ou sessão de alongamentos, temos como sugestão realizar com os e as estudantes uma das aulas oferecida pelo professor Marcos Rojo, disponível em seu canal no Youtube.

Selecionamos esta aula justamente porque ela trabalha dois princípios da prática contemporânea que iremos propor como foco da experimentação e da percepção subjetiva, para que seja debatido coletivamente na sequência.

Relaxamento do esforço e conforto

Por meio da execução dos asanas e de exercícios executados na lógica do yoga contemporâneo, tais como os presentes no vídeo, enfatize a percepção e a busca pelo conforto e relaxamento do esforço. Tais princípios visam a progressão da execução das posturas por meio do relaxamento, e não do esforço excessivo, buscando a melhor condição para se estabelecer confortavelmente. A ideia é que exista a ação corporal, como exigência da postura sobre o corpo, os músculos, as articulações e a mente, de forma estável e confortável, de forma que o conforto e a amplitude sejam alcançados por meio do comando do relaxamento.

Essas características são evidenciadas no vídeo da aula destacada, assim como em outras aulas ministradas pelo professor Marcos.
Sugerimos que organize um espaço adequado, onde cada pessoa tenha um colchonete, toalha ou mat – requisitando que tragam de casa ou peguem emprestado da escola, se houver disponibilidade – assistam junto ao vídeo, para que todos e todas possam realizar a aula. De antemão, explique e sugira para os e as estudantes que tenham o foco na prática, visando o relaxamento do esforço e o conforto. É importante que compreendam que se trata uma prática introspectiva e que, para conseguir observar as sutilezas, eles e elas deverão permanecer em silêncio durante toda a aula.
Você, professor ou professora, poderá praticar junto ou observar. Cuide para que se mantenha o silêncio, o respeito e, caso necessário, ajude quem demonstrar alguma dificuldade. Ao final da aula, proponha cinco minutos de silêncio, com eles/as ainda deitados/as, e guie um momento de observação dos/as alunos/as sobre o próprio corpo, buscando aprofundar ainda mais a sensação de relaxamento e conforto.

⮚ Expirações mais longas que as inspirações induzem fisiologicamente o organismo a uma condição mais relaxada. Por isso, você pode fazer sugestões como: “inspire fundo e solte a respiração devagar, de forma mais lenta do que da entrada do ar”. Repita algumas vezes, faça junto com eles e elas. Proponha uma expiração longa junto com o comando do relaxamento para cada parte do corpo: “ao soltar o ar bem devagar, solte os braços no chão, relaxando desde os ombros até os dedos das mãos”.

⮚ Após realizar alguns desses comandos, deixe-os deitados em silêncio e sem mais interferências na respiração. Proponha a quietude do corpo imóvel e da mente. Não é que não se deva pensar em nada, mas, independentemente do que pensem, indique que a atenção deve estar sobre os movimentos da respiração no corpo imóvel, deixando os pensamentos passarem sem conversar com eles.

⮚ Passado o tempo, chame-os/as devagar: “Aos poucos, vão despertando o corpo. Vocês podem se espreguiçar, bocejar e realizar os movimentos que forem confortáveis, de forma lenta, mantendo ainda a introspecção e o silêncio. Quando for possível, sentem-se”.

Para finalizar, proponha que se sentem em roda para conversar sobre as percepções. Deixe as falas livres, mas também questione se conseguiram perceber o que significa o relaxamento do esforço e como isso influencia na sensação de conforto. Seja responsável pela moderação do espaço de fala. Os/as adolescentes podem se inscrever, levantando a mão e esperando a sua vez para falar. Dê a vez da fala não somente por ordem de inscrição, mas considerando quem falou menos (se uma pessoa já falou e se inscrever de novo para falar, dê a vez para quem não falou em primeiro lugar). Não permita que alguém fale por cima de outra pessoa. Todos e todas devem respeitar a fala e oferecer uma escuta atenta.

REFERÊNCIAS
ELIADE, Mircea. Yoga, imortalidade e liberdade. São Paulo: Palas Athena, 1996.
HARVARD MEDICAL SCHOOL. An introduction to yoga. Boston: Harvard Health Publications, 2016.
MICHAËL, Tara. O yoga. Rio de Janerio: Zahar, 1976.
SOUTO, Alicia. A essência do Hatha Yoga: Hatha Pradipika, Gheranda Samhita, Goraska Shataka. Rio de Janeiro: Phorte, 2009.

Plano de aula elaborado pela professora Milena de Bem Zavanella Freitas.
Coordenação pedagógica: Prof.ª Dr.ª Aline Monge

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