Conteúdos
Este plano de aula de educação física recupera o conceito de esportes técnico-combinatórios para introduzir os conhecimentos acerca da ginástica acrobática com ênfase em conceitos, procedimentos e técnicas.
Aspectos conceituais e procedimentais a respeito da lógica interna da ginástica acrobática.
Objetivos
Espera-se que os e as estudantes:
• consigam relacionar o conceito de esportes técnico-combinatórios com a ginástica acrobática, relatando as relações nas rodas de discussão;
• compreendam e memorizem os elementos conceituais da ginástica acrobática, fazendo menção a eles nas rodas de debate e relacionando-os aos elementos procedimentais; e
• realizem técnicas, exercícios e movimentos da ginástica acrobática, com apoio do/a professor/a e dos/as colegas.
Ensine também:
Esportes técnico-combinatórios: da ginástica ao skate
Palavras-chave:
Esporte escolar. Ginástica acrobática. Esportes técnico-combinatórios.
Previsão para aplicação:
Duas aulas, com possibilidade de extensão (50 min./aula)
Materiais utilizados:
Tatames e/ou colchonetes.
Proposta de trabalho:
Serão apresentadas informações, bem como procedimentos, a respeito da ginástica acrobática, tendo como foco a aprendizagem de conceitos e técnicas, assim como a relação solidária entre os/as estudantes participantes. Os conhecimentos e as atividades podem ser dialogados e aplicados ao longo de aulas duplas ou individuais, cabendo ao/à professor/a adaptar da melhor maneira as atividades ao tempo disponível para a aplicação.
Lembre-se de realizar sempre um momento de diálogo no início e fim de cada encontro, tendo em vista apresentar e dialogar sobre os conhecimentos e conceitos relevantes para as aulas, assim como o estabelecer os parâmetros de convivência, promovendo uma corresponsabilidade com toda a turma pela qualidade das interações entre todas as pessoas.
Este plano pode compor um bloco de aulas em que, primeiramente, serão trabalhados os esportes técnico-combinatórios de forma generalizada e, na sequência, serão abordadas algumas modalidades específicas, tendo em vista as especificidades técnicas de cada uma, assim como as generalizações relacionadas à lógica interna desses esportes.
O conteúdo da ginástica acrobática irá promover o contato físico entre os/as estudantes, para que seja possível trabalhar com técnicas específicas. Por isso, faz-se necessária a atenção redobrada do/a professor/a, para que não haja desrespeito entre as pessoas, precavendo situações desconfortáveis e até mesmo de assédio. Caso você não tenha certeza de que essas condições de convivência estão garantidas, escolha trabalhar sem esse tipo de interação em suas aulas, até que tais condições sejam acordadas entre todas as pessoas e frequentemente avaliadas.
Esperamos que este plano seja útil e colabore com a prática docente.
1ª Etapa: Contextualização e conceitos
A ginástica acrobática é praticada por muitas pessoas em todo o mundo, sendo um dos esportes mais antigos estruturados pela humanidade. Geralmente, nos referimos à origem da ginástica na Grécia Antiga, pelo fato de terem sido os gregos os primeiros a estruturar a ginástica em situações competitivas. Entretanto se tem conhecimentos atribuídos ao universo da ginástica desde o Egito Antigo, em meados de 2300 a.C., que dizem respeito a movimentos acrobáticos (LACKNER, 2017).
O estopim da prática de ginástica acrobática visando o desenvolvimento do esporte se deu na antiga URSS.
[…] a Ginástica Acrobática passou ser praticada como um esporte, em 1939. No ano de 1957 foi realizado o primeiro torneio internacional com atletas da Bulgária, Polônia e URSS. Segundo informações no site da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG), em 1973 foi realizada as primeiras competições mundiais, pela IFSA (Federação Internacional de Desportos Acrobáticos). E por crescer muito em pouco tempo, passando a ter 54 países filiados em 1978 foi necessário a dissolução da IFSA para que a Ginástica Acrobática passasse a fazer parte do FIG (Federação de Ginástica Internacional) (LACKNER, 2017, p. 16).
Achile Garcia Charles Astor ficou conhecido por divulgar a ginástica acrobática no Brasil, ministrando cursos por todo o País (LACKNER, 2017). Algumas instituições que impulsionaram a Educação Física também foram responsáveis por ampliar a prática de ginástica em território nacional, tal como a Escola de Educação Física da Polícia Militar. Atualmente, os estados de São Paulo e Minas Gerais possuem uma grande concentração de atletas organizados em federações e comitês próprios.
As ginásticas são modalidades esportivas sem interação com adversários e um dos esportes técnico-combinatórios mais conhecidos, que são
[…] aqueles em que a comparação do desempenho está centrada na beleza plástica (dimensão estética) e no grau de dificuldade (dimensão acrobática) do movimento, sempre respeitando certos padrões, códigos ou critérios estabelecidos nas regras. […] os árbitros responsáveis dão notas ao desempenho realizado pelos atletas com base em tabelas que estabelecem o grau de dificuldade dos movimentos realizados e a forma como eles devem ser executados. Nos esportes técnico-combinatórios, como já foi dito, o vencedor da prova não é aquele que consegue ir mais longe ou ser mais rápido, o que se compara aqui é quem consegue executar com mais “estilo” movimentos bem difíceis (GONZÁLEZ; BRACHT; 2012, p. 23).
As competições de ginástica acrobática são feitas em diversos formatos: duplas, duplas mistas e grupos. Os exercícios específicos da ginástica podem ser divididos em três conjuntos:
a) equilíbrio – aqueles que não possuem fase de voo, mas contêm elementos estáticos e de equilíbrio;
b) exercícios dinâmicos – chamados assim por conter fase de voo perceptível; e
c) exercícios combinados – cujo próprio nome nos ajuda a entender que se trata das combinações possíveis entre os dois tipos anteriores (LACKNER, 2017).
Assim, a ginástica acrobática é
[…] um desporto competitivo executado com mais de um integrante (atleta) combinando a força, flexibilidade, agilidade, tumbling (elementos dinâmicos) da Ginástica Artística), apresentação, musicalidade da dança, pirâmides (figuras estáticas) e lançamentos (figuras dinâmicas). […]
São obrigatórias nas rotinas coreografadas: força, agilidade e flexibilidade. As pirâmides exigem concentração e cooperação entre os atletas. Os exercícios dinâmicos usam o tumbling e elementos de “voo”. Existe dois elementos principais que não podem faltar na rotina, sendo eles: o equilíbrio e o tempo, executados juntos com a coreografia. O equilíbrio é fundamental no momento em que começa a montar a pirâmide, no qual cada atleta assume uma posição, no caso temos a base que se posiciona de forma segura para os outros e a volante que mantém uma posição de equilíbrio sobre a base, em caso de grupo temos o intermediário que fica entre a base e volante. Exigindo um alto grau de controle, estabilidade e força muscular de ambos. Além do que deve existir uma grande confiança e cumplicidade entre os companheiros (LACKNER, 2017, p. 17).
Considerando a necessidade de formar duplas ou grupos para praticar a ginástica acrobática, os/as praticantes podem cumprir três diferentes funções na execução das técnicas variadas:
• Base: é responsável por sustentar todo o conjunto acrobático, tendo como suas principais características a grande noção de centro de gravidade, o ponto de equilíbrio e a responsabilidade, além de espírito de liderança, grande tonicidade muscular e boa flexibilidade;
• Volante: deve executar os movimentos acrobáticos sobre o conjunto, seja fazendo uso do equilíbrio ou após um lançamento. Dentre suas características destacam-se: coragem, constituição física pequena, grande tonicidade e explosão muscular; e
• Intermediário: é considerado o indivíduo mais versátil de uma equipe acrobática, devendo possuir de uma forma equilibrada as características inerentes às duas outras funções (LACKNER, 2017, p. 17-18).
Tendo como base os conhecimentos gerais dispostos acima, proponha momentos de debates, fazendo rodas de conversa no início da aula, para retomar e reforçar o conteúdo já trabalhado (por exemplo: a) o que implica na ação dos/as praticantes quando os esportes não possuem contato entre os/as adversários/as? ; e b) qual é a definição de esportes de invasão?) ou, ainda, apresentar o novo conteúdo, que diz respeito às especificidades da ginástica acrobática.
2ª Etapa: Procedimentos, técnicas e execuções
Abaixo seguem alguns exemplos de exercícios que evoluem de um nível menos complexo para um nível mais complexo de execução. Essa parte da aula pode ser realizada na quadra ou em qualquer outro espaço amplo, mas é necessário ter colchões ou um tatame montado, para a realização dos exercícios específicos com risco de queda.
Os chamados “preparatórios” podem ser feitos no início das aulas, para introduzir os movimentos corporais aos poucos, aquecendo os corpos e mobilizando as articulações e os músculos. Alguns deles também trabalham com os primeiros contatos entre as pessoas, visando estabelecer algum nível de confiança entre elas, que devem se comprometer com a própria segurança e com a segurança dos/as demais colegas.
Exercícios preparatórios
Jogo do espelho: a turma será dividida em duplas, sendo que uma pessoa ficará de frente para a outra, que vão se espalhar aleatoriamente pelo espaço. Elas decidirão quem será a primeira e quem será a segunda a conduzir a atividade. A primeira deverá realizar movimentos, enquanto a segunda deverá repetir, como se representasse uma imagem no espelho, tentando acompanhar os movimentos quase que de forma instantânea. Depois de pouco tempo, indique que as pessoas troquem a função e repita a troca algumas vezes. Variação: acrescente elementos obrigatórios nos movimentos que a pessoa a ser copiada deverá fazer, por exemplo: “qualquer movimento em que você esteja agachado”; “qualquer movimento do restante do corpo, menos dos braços” etc.
Locomoção sem visão: serão formadas filas entre as pessoas, que ficarão umas com as mãos nos ombros das outras – pode ser apenas uma grande fila, com toda a turma, ou pequenas filas, com grupo de cinco pessoas, por exemplo. Na fila, todas as pessoas da frente terão os olhos vendados ou fechados, de forma que apenas a última pessoa poderá ter o auxílio da visão para completar o desafio coletivo de se deslocar no espaço para chegar a um local predeterminado pelo/a professor/a, sem que os/as estudantes saibam previamente. Utilizando a visão, a última pessoa deverá dar as instruções à primeira pessoa sobre qual caminho seguir. Os/as estudantes não poderão se comunicar pela voz, apenas por toques dados nos ombros dos/as colegas. Um toque no ombro esquerdo significa virar à esquerda, um toque no ombro direito significa virar à direita, um toque com as duas mãos ao mesmo tempo significa parar e um leve apertão com as duas mãos significa ir em frente. A última pessoa da fila deverá mandar a mensagem para a pessoa da frente, por meio dos gestos detalhados anteriormente, e essa mensagem deverá ser passada adiante na fila – tal como num telefone sem fio, mas sem o uso da voz – até que chegue à primeira pessoa, que será a única que terá o poder de mudar a direção do caminho percorrido enquanto a fila anda. Variação: se houver mais de uma fila, você pode propor um desafio para ver qual fila chega primeiro ao local marcado, ou pedir que se movimentem com o objetivo de evitar que as filas se trombem etc.
É provável que os/as estudantes esbarrem uns nos outros. Alerte-os para que, sabendo desse risco, movam-se com cautela, com a ajuda das mãos tanto para se proteger quanto para proteger as outras pessoas etc.
Exercícios específicos
Abaixo há alguns exercícios que poderão ser feitos de forma individual, em duplas ou trios. São apenas exemplos, outras formas poderão ser encontradas facilmente na internet, podendo expandir para quartetos, para quintetos e até mesmo para a turma toda, em uma grande pirâmide. Para esse desenvolvimento posterior, será necessário que o grupo tenha trabalhado em algumas aulas as questões de segurança, os cuidados necessários, as formas de interação mais adequadas etc. Para tomar essa decisão, compartilhe as suas preocupações na condição de professor/a, e proponha aos/às estudantes que debatam, com o objetivo de encontrar maneiras de juntos/as, conseguirem se comprometer com uma prática responsável. Entretanto, lembre-se de que é o/a professor/a que responde pelos/as estudantes, por isso não renuncie às condições básicas de segurança e respeito entre as pessoas e, se não houver consenso, trabalhe no máximo com figuras composta por trios.
Divida a turma de tal forma que as pessoas se sintam confortáveis em fazer esse tipo de prática umas com as outras. Não tolere qualquer tipo de violência ou abuso. Leve as figuras que serão trabalhadas em aula, de forma impressa ou digital, para apresentar aos/às estudantes antes da execução. Primeiro, forneça instruções gerais de segurança, como: iniciar das figuras mais básicas e individuais, para depois chegar àquelas com maior grau de dificuldade, em duplas ou trios. Por exemplo, uma figura de equilíbrio básica é o avião (figura 1), e ela pode ser trabalhada logo no início da unidade, com o detalhamento do passo a passo a ser seguido, visando a segurança. Uma forma de orientação poderia ser: primeiro, ficar sobre um pé só, segurando em algo; depois, em um pé, mas com os braços abertos; depois, braços abertos inclinando o tronco um pouco a frente; depois, completando a elevação do pé atrás estendido. Procure ter sempre uma pessoa que possa dar apoio, perguntando se pode segurar ou tocar no tronco do/a estudante ou em outras partes do corpo para auxiliar no equilíbrio. Portanto, a ideia da progressão é muito importante no processo de realização das atividades, assim como garantir a prática em local plano, distante das paredes, com piso adequado e roupas confortáveis etc.
Durante a realização do exercício – trabalhe com uma postura por vez -, siga passando pelas duplas e/ou trios, auxiliando na montagem das figuras e dialogando sobre qual função cada pessoa desempenha na figura (base, volante ou intermediário). Auxilie, ainda, guiando a atenção para as partes do corpo, os movimentos, a capacidade física mais exigida e como todos os elementos devem estar em equilíbrio. Variação: poderá ser estipulado/a um/a estudante para cada trio, quarteto ou qualquer outro nível de figuras que considere possível de trabalhar. Este/a estudante deverá auxiliar nos cuidados de segurança e que também ajude a pensar com o grupo as melhores formas de executar os movimentos necessários para que a postura final seja mantida.
O material disponível neste link apresenta muitas orientações de como ensinar e ajudar na aprendizagem dos elementos da ginástica trabalhados neste plano aula.
Ao final de cada aula, dialogue com os e as estudantes, tendo em vista os objetivos propostos, a prática das posturas e a interação entre as pessoas. Avaliem se os conceitos estão sendo apreendidos e se os combinados de convivência estão funcionando, bem como o que pode ser mudado para garantir a prevenção de conflitos e acidentes.
REFERÊNCIAS
ARAUJO, Angélica Segóvia; GUZZONI, Cristiane Vianna. Ginástica geral. Universidade Paulista, UNIP, Material didático, sem data.
DARIDO, S. C.; SOUZA JÚNIOR, O. M. Para ensinar Educação Física: possibilidades de intervenção na escola. 7ª ed. Campinas: Papirus, 2014.
GONZÁLEZ, F. J.; BRACHT, V. Metodologia do ensino dos esportes coletivos. Vitória: Universidade Federal do Espírito Santo, 2012.
LACKNER, Beatriz Costa. A ginástica acrobática nas aulas de Educação Física. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, Trabalho de Conclusão de Curso, 2017.
Plano de aula elaborado pela professora Mestra Milena de Bem Zavanella Freitas.
Coordenação Pedagógica: prof.ª Dr.ª Aline Monge.