Conteúdos

– Semântica
– Figuras semânticas

Objetivos

– Apresentar as figuras semânticas
– Compreender as relações semânticas estabelecidas em situações de comunicação por meio do emprego de figuras de palavras

1ª Etapa: Início de conversa

A semântica da língua portuguesa é um conteúdo abrangente e extremamente significativo por referir-se diretamente aos artifícios da linguagem e sua importância em nossa forma de decodificar o mundo. Na proposta de aula que intitulamos conceito de semântica, disponível em nosso banco de aulas, buscamos abordar o conceito de semântica em seu sentido mais amplo, trabalhando a noção de campo semântico, visando uma compreensão da significação de palavras e expressões em contexto, por meio da abordagem da produção de sentido como construção cultural.

Nessa segunda proposta de aula, que intitulamos como Figuras semânticas, os significados das palavras serão trabalhados de forma mais sistematizada por meio da enumeração de alguns fenômenos semânticos da língua portuguesa. Dois desses fenômenos foram mencionados na primeira parte (Conceito de semântica), para exemplificar o funcionamento do campo semântico, a metáfora e a polissemia.

O objetivo da presente proposta é trabalhar com os alunos os recursos semânticos geralmente empregados em língua portuguesa. Assim, nessa aula, o(a) professor(a) deverá discutir com os alunos as figuras de pensamento, ou de palavras, que são categorias semânticas dos recursos linguísticos utilizados por emissores da linguagem a fim de torná-la mais expressiva no que diz respeito ao uso da linguagem conotativa.

Para proporcionar um aprendizado significativo do conteúdo, para além da necessária memorização das figuras de linguagem, serão propostos alguns exercícios de fixação. Ao final, uma atividade prática deverá ser realizada em grupos, na qual o contato com as figuras de linguagem se dará por meio da criação de cenas de teatro para que os alunos as usem de forma concreta em uma situação de comunicação.

Abaixo, um breve resumo sobre a utilização das figuras semânticas com informações que podem ser encontradas no site Info Escola (conferir seção “Materiais Relacionados”):

São conhecidos pelo nome de figuras de pensamento os recursos estilísticos utilizados para incrementar o significado das palavras no seu aspecto semântico. Consistem no emprego de uma palavra num sentido não convencional, ou seja, num sentido conotativo. São as seguintes:

Comparação ou símile: ocorre comparação quando se estabelece aproximação entre dois elementos que se identificam, ligados por nexos comparativos explícitos como tal qual, assim como, que nem e etc. A principal diferenciação entre a comparação e a metáfora é a presença dos nexos comparativos.

Exemplo:
“E flutuou no ar como se fosse um príncipe.” (Chico Buarque)

Metáfora: consiste em empregar um termo com significado diferente do habitual com base numa relação de similaridade entre o sentido próprio e o sentido figurado. Na metáfora, ocorre uma comparação em que o conectivo comparativo fica subentendido.

Exemplo:
“Meu pensamento é um rio subterrâneo. (Fernando Pessoa)

Catacrese: ocorre quando, por falta de um termo específico para designar um conceito, toma-se outro por empréstimo.

Exemplos:
Ele comprou dois dentes de alho para colocar na comida.
O pé da mesa estava quebrado.
Não sente no braço do sofá.

Metonímia: assim como a metáfora, consiste numa transposição de significado, ou seja, uma palavra que usualmente significa uma coisa passa a ser utilizada com outro sentido. Ou seja, é o emprego de um nome por outro em virtude de haver entre eles algum relacionamento. A metonímia ocorre quando se emprega:

Exemplos:
A causa pelo efeito: vivo do meu trabalho (do produto do trabalho = alimento)
O efeito pela causa: aquele poeta bebeu a morte (= veneno)
O instrumento pelo usuário: os microfones corriam no pátio (= repórteres).

Antonomásia: É a figura que designa uma pessoa por uma característica, feito ou fato que a tornou notória.

Exemplo:
A cidade eterna. (em vez de Roma)

Sinestesia: Trata-se de mesclar, numa expressão, sensações percebidas por diferentes órgãos sensoriais.

Exemplo:
Um doce abraço ele recebeu da irmã. (sensação gustativa e sensação tátil)

Perífrase: é uma expressão que designa um ser por meio de alguma de suas características ou atributos.

Exemplo:
O ouro negro foi o grande assunto do século. (= petróleo)

Antítese: é a aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos. O contraste que se estabelece serve para dar uma ênfase aos conceitos envolvidos, o que não ocorreria com a exposição isolada dos mesmos.

Exemplos:
Viverei para sempre ou morrerei tentando.
Do riso se fez o pranto.
Hoje fez sol, ontem, porém, choveu muito.

Apóstrofe: é assim denominado o chamamento do receptor da mensagem, seja ele de natureza imaginária ou não. É utilizada para dar ênfase à expressão e realiza-se por meio do vocativo.

Exemplos:
Deus! Ó Deus! Onde estás que não respondes?
Pai Nosso, que estais no céu;
Ó meu querido Santo António;

Paradoxo: é uma proposição aparentemente absurda, resultante da união de ideias que se contradizem referindo-se ao mesmo termo. Os paradoxos viciosos são denominados oximoros (ou oximoron).

Exemplos:
“Menino do Rio / Calor que provoca arrepio…”
“Amor é fogo que arde sem se ver; / É ferida que dói e não se sente; / É um contentamento descontente; / É dor que desatina sem doer;” (Camões)

Eufemismo: consiste em empregar uma expressão mais suave, mais nobre ou menos agressiva, para atenuar uma verdade tida como penosa, desagradável ou chocante.

Exemplos:
“E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir Deus lhe pague”. (Chico Buarque). (paz derradeira = morte)

Gradação ou clímax: na gradação temos uma sequência de palavras que intensificam a mesma ideia.

Exemplo:
“Aqui… além… mais longe por onde eu movo o passo.” (Castro Alves).

Hipérbole: é a expressão intencionalmente exagerada com o intuito de realçar uma ideia, proporcionando uma imagem emocionante e de impacto.

Exemplos:
“Faz umas dez horas que essa menina penteia esse cabelo”.
Ele morreu de tanto rir.

Ironia: ocorre ironia quando, pelo contexto, pela entonação, pela contradição de termos, se pretende questionar certo tipo de pensamento. A intenção é depreciativa ou sarcástica.

Exemplos:
Parece um anjinho aquele menino, briga com todos que estão por perto.
“Moça linda, bem tratada, / três séculos de família, / burra como uma porta: / um amor.” (Mário de Andrade).

Prosopopeia ou personificação: consiste na atribuição de ações, qualidades ou características humanas a seres não humanos.

Exemplos:
Chora, viola.
A morte mostrou sua face mais sinistra.
O morro dos ventos uivantes.

2ª Etapa: Sensibilização do tema e exercícios de fixação

Enquanto expõe no quadro o conteúdo gramatical e alguns exemplos existentes na língua portuguesa dos fenômenos semânticos (consultar guia na seção “Materiais Relacionados”), sugere-se que o(a) professor(a) converse com os estudantes sobre o que sabem das figuras semânticas e sobre situações vivenciadas por eles em que as mesmas foram utilizadas. O conteúdo poderá ficar no quadro até o fim da aula para possíveis consultas durante os exercícios de fixação.

Depois de discutir o conteúdo com os alunos, o(a) professor(a) entregará uma lista de exercícios e pedirá que tentem resolver as questões individualmente. Abaixo, os exercícios da lista citada na seção “Materiais Relacionados”:

Exercício 1: (ADVISE 2009)

No enunciado: “Virgílio, traga-me uma coca cola bem gelada!”, registra-se uma figura de linguagem denominada:

a) anáfora
b) personificação
c) antítese
d) catacrese
e) metonímia

Resolução: Neste caso, trata-se de uma metonímia e, portanto, a resposta da questão é a letra E. A metonímia é a figura de linguagem que consiste na utilização de um termo em substituição a outro que estabelece com ele algum tipo de afinidade, semelhança ou relação semântica. Nesse caso, substitui-se refrigerante de cola pela marca do produto “coca cola”. É o que acontece com outros produtos, por exemplo palha de aço, que em alguns lugares é mais conhecida pela marca “Bom Bril”, ou quando, ao invés de falar iogurte, se utiliza a marca “Danone”, etc. Vale ressaltar que esse é apenas um dos casos de metonímia, existem muitos outros (o autor pela obra, a parte pelo todo, etc.).

Exercício 2:

(FMU) Quando você afirma que enterrou “no dedo um alfinete”, que embarcou “no trem” e que serrou “os pés da mesa”, recorre a um tipo de figura de linguagem denominada:

a) metonímia
b) antítese
c) paródia
d) alegoria
e) catacrese

Resolução: nesses três casos, apresentados no enunciado da questão, temos exemplos de uma figura de linguagem chamada catacrese, portanto, a alternativa E é a correta. Essa figura de linguagem consiste no uso de uma palavra ou expressão em um sentido que não lhe é próprio, um sentido figurado, ou um sentido que não corresponde de forma apropriada ao real significado de tal palavra ou expressão. Isso acontece, geralmente, porque não se encontra um termo adequado para ser utilizado no contexto e, por alguma aproximação de sentido, foi utilizado outro termo que acabou ficando muito comum e perdeu a característica de metáfora, sendo assim denominado catacrese. São exemplos de catacrese: dente de alho, pés da mesa, cabeça de alfinete, e muitos outros, como os três presentes no enunciado “embarcar no trem” (embarcar significa entrar no barco), “enterrar no dedo um alfinete” (enterrar significa colocar debaixo da terra) ou “serrar os pés da mesa” (mesa, na verdade, não tem pés. Esse nome é dado aos membros inferiores do ser humano, então, na falta de um termo apropriado, esse passou a ser utilizado).

Exercício 3:

(U. Taubaté) No sintagma: “Uma palavra branca e fria”, encontramos a figura denominada:

a) sinestesia
b) eufemismo
c) onomatopeia
d) antonomásia
e) catacrese

Resolução: quando se atribui as características “branca” e “fria” a uma “palavra” (que é algo sonoro ou visual), está acontecendo uma mistura entre os sentidos do ser humano (visual, táctil, auditivo). Esse fenômeno é conhecido como sinestesia e considerado uma figura de linguagem quando aplicado ao texto. A resposta da questão, portanto, é a alternativa A.

Exercício 4:

(FUVEST) Identifique a figura de linguagem empregada nos versos destacados:

“No tempo de meu Pai, sob estes galhos,
Como uma vela fúnebre de cera,
Chorei bilhões de vezes com a canseira
De inexorabilíssimos trabalhos!”

a) antítese
b) anacoluto
c) hipérbole
d) litotes
e) paragoge

Resolução: nos versos em destaque “Chorei bilhões de vezes com a canseira / De inexorabilíssimos trabalhos!”, há uma figura de linguagem chamada hipérbole, assinalada na letra C. A hipérbole é uma figura de estilo que consiste no emprego de uma ideia de maneira demasiadamente exagerada, chegando ao ponto de não condizer com a realidade dos fatos. No caso do exemplo, ela está presente na afirmação “chorei bilhões de vezes”. É utilizada geralmente para conferir ao texto um certo nível de dramaticidade.

Exercício 5:

(FUVEST) A figura de linguagem empregada nos versos em destaque é:

Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável)
Talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
– Alô, iniludível!”

a) clímax
b) eufemismo
c) sínquice
d) catacrese
e) pleonasmo

Resolução: no verso em destaque “Quando a indesejada das gentes chegar”, há o emprego de uma figura de linguagem chamada de eufemismo. O eufemismo é o emprego de palavras que suavizam uma ideia no texto, como é o caso da palavra “indesejadas”. É considerada o contrário da hipérbole, que é o exagero. A alternativa que corresponde à resposta é a letra B – eufemismo.

Exercício 6: 

(UFSC 2012) Leia os provérbios (itens A e B) e a citação (item C) abaixo.

A. “A palavra é prata, o silêncio é ouro.”
B. “Os sábios não dizem o que sabem, os tolos não sabem o que dizem.”
C. “Há coisas que melhor se dizem calando.” (Machado de Assis)

Com base na leitura acima, assinale a(s) proposição(ões) corretas.

1) Em cada um dos provérbios observa-se um paralelismo sintático que ajuda a conferir ritmo ao provérbio e favorece sua memorização.
2) No provérbio (A) ocorrem duas metáforas.
3) No provérbio (B) as orações “o que sabem” e “o que dizem” funcionam como adjetivos que caracterizam, respectivamente, os sábios e os tolos.
4) Tanto o item A quanto o item C funcionam como elogios à discrição.
5) A frase de Machado de Assis contém um pleonasmo porque é um exagero dizer que se pode falar calado.
6) No provérbio (B) temos a figura de linguagem paradoxo porque é absurdo que os sábios tenham que se calar para que os tolos falem.

Resolução: alternativas corretas: 2 e 4.

3ª Etapa: Proposta de atividade

O(A) professor(a) irá propor aos alunos que formem grupos de quatro alunos. Cada grupo deverá criar uma cena de teatro que será encenada na aula seguinte. Para isso, cada grupo terá 25 minutos e irá seguir algumas instruções que serão escritas na lousa:

“Crie uma cena breve com quatro personagens. Dois deles podem ser inanimados. Nessa cena deve ser narrado algum acontecimento do presente ou do passado e um dos personagens não deve entender muito bem o português. Use sua criatividade e use as figuras semânticas para incrementar a narrativa de seu grupo.”

Durante a outra metade da aula, os grupos devem discutir com o(a) professor(a) a cena que criaram, tirar suas dúvidas e ensaiar para apresentar na aula seguinte.

4ª Etapa: Apresentação teatral

Nesse etapa da aula, os grupos irão apresentar as cenas que criaram na aula anterior e, ao final, o(a) professor(a) e a classe poderão discutir o que foi encenado e o conteúdo semântico empregado em cada uma das cenas, bem como seus efeitos sobre os espectadores.

Desse modo, para encerrar a aula, deve-se realizar uma discussão acerca dos aspectos semânticos que seguem: significação, atribuição de sentido, denotação e conotação no uso da linguagem, emissão e decodificação de mensagens em contextos específicos, a fim de apresentar aos estudantes as estratégias semânticas e discursivas que estruturam o funcionamento de nossa língua.

Materiais Relacionados

1) Os guias Figuras de linguagem e Figuras de pensamento, disponíveis no site InfoEscola, poderão ser consultados pelo(a) professor(a) para apresentar aos alunos o conteúdo gramatical sobre semântica. Acesso em: 24 de outubro de 2018.

2) Os exercícios utilizados para fixação do conteúdo, na 2ª Etapa dessa proposta, com os respectivos gabaritos, estão disponíveis no link Exercícios – Figuras de linguagem. Acesso em: 24 de outubro de 2018.

Arquivos anexados

  1. Plano de Aula – Figuras semânticas

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