Conteúdos

Este roteiro de estudos traz a análise detalhada de uma redação que obteve a nota máxima no Enem 2023 para te ajudar a construir o seu texto de acordo com o que os examinadores consideram uma excelente redação.

Objetivos

  • Compreender os aspectos que contribuem para que uma redação do Enem seja bem avaliada; e
  • Desenvolver uma metodologia para verificar a adequação da sua redação às competências avaliadas pelo Enem.

Conteúdos / Objetos do conhecimento:

  • A proposta de redação do Enem 2023;
  • Redação nota 1000;
  • Analisando a estrutura da redação: introdução, desenvolvimento e conclusão; e
  • Competências avaliadas – análise detalhada.

Palavras-chave:

Língua portuguesa. Redação. Enem 2023. Redação nota 1000. Competências.

Proposta de trabalho:

Este roteiro traz uma das redações que receberam nota máxima no Enem 2023, acompanhada de uma análise detalhada que te ajudará a avaliar suas próprias construções textuais e a aprimorá-las.

Bons estudos!

1ª Etapa: A proposta de redação do Enem 2023

Para que possamos analisar uma produção textual, é necessário que, antes de mais nada, tenhamos conhecimento do que foi solicitado.

Vejamos, portanto, a proposta da redação do Enem 2023:

enem-2023
                                                    Crédito: Inep

Acesso em 24 de fevereiro de 2024.

2ª Etapa: Redação nota 1000

Considerando os textos motivadores e a proposta de redação acima, que traz o tema “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”, vamos agora ler uma das redações que receberam nota máxima no Enem 2023, de autoria de Roney Coelho:

“A Constituição Federal, promulgada em 1988, foi esboçada com o objetivo de delinear direitos básicos para todos os cidadãos – como condições satisfatórias de trabalho. Contudo, hodiernamente, esse postulado constitucional é deturpado, visto que o contato com a área trabalhista, por meio dos desafios enfrentados no trabalho de cuidado realizado por mulheres, encontra-se invisibilizado e não efetivado na sociedade nacional. Acerca disso, para discutir a questão de maneira ampla, hão de ser analisados os seguintes fatores: as desigualdades no acesso à informação e a inobservância governamental.

Em primeiro âmbito, é válido perceber o panorama de assimetria social como fator potencializador da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil. Segundo Ariano Suassuna, ilustre pensador brasileiro, o território nacional está dividido em dois países distintos: o dos privilegiados e o dos despossuídos. Sob essa lógica, o autor faz um alerta a respeito da desigualdade de renda, de oportunidades e de acesso à informação vigente no Brasil. Nesse sentido, parcela da população feminina, majoritariamente jovem e preta, em situação de vulnerabilidade socioeconômica, padece frente à carência de informações relacionadas às garantias de assistência previstas para esse setor trabalhista, pois tem dificuldade em obter meios de comunicação, como o aparelho celular, pelo custo elevado. Esse cenário potencializa a invisibilidade do trabalho de cuidado, tendo em vista que a desinformação permite que muitas mulheres fiquem passivas e inativas na busca por seus direitos, ocasionando, consequentemente, explorações em jornadas de trabalho exaustivas, muitas vezes, não remuneradas. Dessa maneira, por não reconhecer a importância da assistência e da regulamentação do trabalho, por exemplo, muitas mulheres assumem trabalhos de cuidado sozinhas e na informalidade – conduta que dá margem à formação de diversos problemas, como desgastes físicos e psicológicos, dificultando, assim, o combate à invisibilidade do trabalho de cuidado. É essencial, então, a difusão de informações sobre a assistência a esse setor laboral.

Outrossim, cabe enfatizar a negligência governamental como um dos principais fatores que viabilizam a invisibilidade do trabalho de cuidado no tecido social. Nesse aspecto, por não investir suficientemente na criação e na implementação de projetos que fiscalizem e promovam assistências nos trabalhos de cuidado, o país omite esse impasse do meio comunitário e permite, dessa forma, a continuidade desse infeliz cenário de exploração da classe feminina. Nessa perspectiva, como afirmou o filósofo Gilberto Dimenstein, em sua obra “Cidadão de Papel”, a legislação brasileira é ineficaz, dado que, embora aparente ser completa na teoria, muitas vezes, não se concretiza na prática. Prova disso é a escassez de políticas públicas satisfatórias voltadas para a aplicação do Artigo 23 da “Constituição Cidadã”, que garante, entre tantos direitos, condições dignas e satisfatórias de trabalho. Sob esse viés, evidencia-se que a pouca atuação do Estado no que concerne à garantia de condições laborais dignas para as mulheres possibilita, de certa forma, a existência de várias “cidadãs de papel” no Brasil, uma vez que, embora um ambiente de trabalho satisfatório seja um direito constitucional, muitas mulheres sofrem com a falta de assistência ao realizar trabalhos de cuidado. É preciso, pois, como alternativa ao enfrentamento da invisibilidade do labor de cuidado, a reformulação dessa postura estatal.

Portanto, é nítido que o debate sobre os desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil é relevante e precisa ser difundido. Para tanto, urge que as instituições educacionais, a exemplo de escolas e faculdades, promovam, por meio de verbas governamentais, campanhas e palestras em espaços públicos, validando a importância da valorização do trabalho de cuidado e informando as garantias assistenciais desse setor para a classe feminina, visando garantir a construção de uma mentalidade crítica na coletividade. Ademais, cabe ao Ministério do Trabalho desenvolver, em parceria com o Ministério da Mulher, fiscalizações em ambientes de trabalho assistenciais, aspirando mitigar formas de exploração das mulheres no labor de cuidados. Quiçá, nessa via, tornar-se-á notável a amenização do infortúnio, e a Constituição será cumprida de forma precisa.”

Crédito da transcriação: Redação Online.

Acesso em 24 de fevereiro de 2024.

3ª Etapa: Analisando a estrutura da redação: introdução, desenvolvimento e conclusão

Depois de ler a redação acima, a que foi atribuída nota 1000 no Enem 2023, vamos olhar juntos para as questões estruturais do texto:

1) Introdução

No primeiro parágrafo, o autor do texto cumpriu as duas funções essenciais da introdução da redação do Enem: em primeiro lugar, foi feita uma contextualização do tema, não deixando dúvidas de que o assunto abordado ao longo do texto será “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”. Além disso, foi feita uma breve indicação do ponto de vista do aluno sobre o tema, com uma pista sobre a tese que será apresentada. A referência à Constituição Federal e o uso da expressão “condições satisfatórias de trabalho” – bem como o trecho “esse postulado constitucional é deturpado, visto que o contato com a área trabalhista, por meio dos desafios enfrentados no trabalho de cuidado realizado por mulheres, encontra-se invisibilizado e não efetivado na sociedade nacional” – cumprem esse papel.

2) Desenvolvimento

Formado pelos segundo e terceiro parágrafos da redação, o desenvolvimento atendeu ao objetivo central, que é apresentar as ideias, acompanhadas de seus fundamentos, de forma a demonstrar a relevância da tese apresentada. Para isso, o aluno trouxe sua opinião sobre a maneira como o trabalho de cuidado realizado pela mulher é invisibilizado e apresentou ainda, como parte central do problema, “o panorama de assimetria social como fator potencializador da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”, trazendo pensamentos do escritor Ariano Suassuna e do filósofo Gilberto Dimenstein para reforçar o seu ponto de vista. Por meio dessa construção, o autor do texto reforça e estrutura a ideia de que há um problema importante, fundado em questões estruturais, e que precisa de uma intervenção para ser solucionado de acordo com a sua tese.

3) Conclusão

Na conclusão, o aluno tomou o cuidado de retomar rapidamente a sua tese, direcionando-o à solução necessária, que seria tornar “notável a amenização do infortúnio, e a Constituição será cumprida de forma precisa”. Por fim, o autor do texto apresentou propostas viáveis e completas, tomando o cuidado de trazer todas as questões centrais:

  • Quem atuará para a resolução: instituições educacionais, a exemplo de escolas e faculdades, e Ministério do Trabalho, em parceria com o Ministério da Mulher;
  • Como atuará: 1) instituições educacionais – “promovam, por meio de verbas governamentais, campanhas e palestras em espaços públicos, validando a importância da valorização do trabalho de cuidado e informando as garantias assistenciais desse setor para a classe feminina”; 2) Ministério do Trabalho, em parceria com o Ministério da Mulher – “fiscalizações em ambientes de trabalho assistenciais”.
  • Com quais propósitos: 1) “Garantir a construção de uma mentalidade crítica na coletividade”; 2) “Mitigar formas de exploração das mulheres no labor de cuidados”; 3) “Quiçá, nessa via, tornar-se-á notável a amenização do infortúnio, e a Constituição será cumprida de forma precisa”.

4ª Etapa: Competências avaliadas: análise detalhada

Para garantir uma análise completa da redação, vamos agora analisar o texto pensando em cada uma das competências avaliadas na redação do Enem.

  • Competência 1: demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa.

Ao longo da redação, foi demonstrado o domínio da norma culta escrita. Cabe aqui, no entanto, uma observação: pequenos erros ou problemas, desde que não se repitam e não afetem a compreensão do texto, costumam ser relevados, não sendo levados em consideração para a correção.

  • Competência 2: compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa.

O texto abordou muito bem o tema, mobilizando as áreas do conhecimento e articulando-as à discussão proposta, respeitando a estrutura do texto dissertativo-argumentativo.

Ao longo dos parágrafos, o autor trouxe diversas referências, tanto históricas quanto literárias e filosóficas, para auxiliar na construção e estruturação de sua tese, demonstrando tratar-se de visão compartilhada com importantes pensadores da atualidade, ao mesmo tempo em que demonstra de forma clara a sua hipótese acerca do desenvolvimento do problema ao longo do tempo.

  • Competência 3: selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.

Por meio da amarração de conceitos e informações, bem como da construção de relações de causa e consequência, o aluno traz uma boa seleção de argumentos, relacionando-os entre si.

Também se faz perceptível o uso dos textos motivadores de maneira correta, à medida em que, sem transcrevê-los, o aluno soube extrair deles as informações relevantes para a construção do seu raciocínio.

  • Competência 4: demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação.

Ao longo do texto, o aluno faz um excelente uso dos recursos coesivos, o que garante uma boa fluidez. O uso de recursos como: “outrossim” e “portanto” faz com que a redação fique muito bem articulada, conectando suas ideias e parágrafos.

  • Competência 5: elaborar proposta de solução para o problema abordado, respeitando os direitos humanos.

A proposta de intervenção foi apresentada de forma bem detalhada, trazendo os agentes responsáveis, o que precisa ser feito, como fazer e a finalidade.

Além disso, o aluno tomou o cuidado de propor uma solução possível e respeitou integralmente os preceitos dos direitos humanos, cumprindo todos os requisitos avaliados pela banca.

Materiais Relacionados

Cartilha do participante – Enem 2023

Acesso em: 24 de fevereiro de 2024.

Especialistas analisam sete redações nota mil do Enem – Portal MEC

Acesso em: 24 de fevereiro de 2024. 

Roteiro de estudos elaborado pela professora Daniela Leite Nunes.

Coordenação pedagógica: prof.ª dr.ª Aline Monge.

 

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