Em 12 de janeiro de 2026 completam-se 50 anos da morte da escritora de gênero policial e investigativo Agatha Christie (1890–1976). Os livros de mistério e investigação da autora britânica podem ser explorados para desenvolver letramento literário e escrita com alunos.

“Ela foi autora de narrativas investigativas marcadas por mistérios, suspense envolvente e reviravoltas. Os leitores são convidados a acompanhar cada investigação com atenção, observando pistas, dialogando mentalmente com os personagens e participando do desenrolar dos fatos”, contextualiza a mestra em Letras e professora de língua portuguesa da rede municipal de Santos Dumont (MG) Joseani Netto.

“Ao trabalhar contos investigativos, o aluno desenvolve a concatenação de pensamento. Ele começa a imaginar e, ao mesmo tempo, a levantar hipóteses para a solução dos mistérios que surgem ao longo da história. Dessa forma, desenvolve o prazer pela leitura e sua competência leitora, inspirando-se a criar seus próprios textos”, aponta a mestra em Letras Andréa de Matos Cardoso.

Entre os personagens emblemáticos de Christie estão o detetive belga Hercule Poirot (foto acima) e a detetive amadora Miss Marple. “Ao acompanhá-los, os alunos passam a participar da narrativa como verdadeiros ‘detetives’. Durante a leitura, interagem, buscam pistas, formulam hipóteses e exercitam a inferência. Ao mesmo tempo, ampliam seu repertório linguístico e literário”, lembra Netto.

Livros e contos para iniciar

Netto recomenda trabalhar com a obra da autora a partir do sxto ano do ensino fundamental, começando pelos contos antes de avançar para os romances. “O livro ‘A Aventura do Pudim de Natal’, por exemplo, traz vários contos que podem ser trabalhados em sala de aula — cinco protagonizados por Hercule Poirot, um por Miss Marple.”

Cardoso indica “A Segunda Batida do Gongo” e “Os Trabalhos de Hércules”. Já os romances podem ser sugeridos no ensino médio. “Títulos como ‘E Não Sobrou Nenhum’, ‘O Cadáver Atrás do Biombo’ e ‘Assassinato no Expresso Oriente’ têm escrita mais densa, mais personagens e um jogo psicológico complexo. Além disso, obras que receberam adaptações para o cinema também despertam a curiosidade”, afirma.

Leitura coletiva

Cardoso realizou a leitura do conto “A Segunda Batida do Gongo” com alunos do sétimo ano do fundamental. Eles interagiam com a narrativa dramatizando cenas e completando, a cada aula, um quadro sobre os personagens. Ao final, a turma escreveu coletivamente um texto policial a partir da leitura de uma notícia.

Antes de iniciar a leitura, Netto sugere apresentar a capa do livro e discuti-la com os alunos. “Vale sondar o que eles entendem por suspense e mistério e quais são as características desses textos.”

Ela também recomenda a técnica da leitura protocolada. “A cada momento importante da história, o professor interrompe a leitura e faz perguntas de antecipação, como: ‘O que vocês acham que vai acontecer agora?’; ‘Quem é o personagem mais importante até este momento?’. Também questiona o significado de determinadas palavras ou por que o narrador usou uma palavra e não outra.”

“‘Quem é o assassino?’ é uma boa pergunta para iniciar as discussões. A partir dela, os próprios alunos levantarão hipóteses sobre como o crime aconteceu, qual o motivo do assassinato e outras questões que surgirem ao longo da história”, destaca Cardoso.

Netto trabalhou “A Aventura do Pudim de Natal” com estudantes do sexto ano. “Também fizemos a leitura de mapas para localizar a cidade de Londres e os campos ingleses e comparamos o clima do Natal na Europa e no Brasil.”

A professora apresentou ainda a aldravia (poema de seis versos, com uma palavra em cada verso) e a aldravipeia (conjunto de 20 aldravias), formas poéticas minimalistas criadas pelo movimento aldravista em Minas Gerais. “Ao final, a proposta foi a escrita de aldravipeias a partir do conto lido e de todos os conhecimentos compartilhados.”

Criando um conto autoral

Após a finalização do estudo do conto, as professoras recomendam propor aos alunos a criação de seu próprio texto de mistério e suspense. “É essencial estudar com eles a forma como a autora cria seus personagens, o ambiente, os momentos de tensão, como ela desenvolve coerência e coesão e como diz pouco, mas expressa muito por meio da semântica e das figuras de linguagem”, descreve Netto.

Antes da escrita, ela sugere apresentar textos de outros autores do gênero, como Edgar Allan Poe e Lygia Fagundes Telles, autora do conto “Venha ver o pôr do sol”. “Isso pavimenta o caminho para que o aluno pense todos os aspectos de sua história. Não significa copiar Agatha Christie, mas, a partir de seu exemplo, ser capaz de elaborar seu próprio suspense”, explica.

“O professor pode dizer que eles terão que agir e pensar como um detetive, ou seja, ‘investigar’ para descobrir o mistério que envolve a morte de um personagem. As perguntas para a investigação são: quem morreu? Como morreu? Onde? Quando aconteceu o crime? Quem matou e por quê? Quais personagens estarão envolvidos e quais as relações entre elas? A partir daí, a imaginação deles fluirá de maneira incrível”, orienta Cardoso.

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Crédito da imagem: RetroAtelier – Getty Images

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