A produção de curtas-metragens pelos alunos nas aulas de artes pode ajudar a conscientizar sobre o bullying em ambiente escolar.
Mestrando em artes visuais e professor no Colégio Estadual Maria Gai Grendel, em Curitiba (PR), Willian Wilson Bedim viu na atividade a possibilidade de os alunos do oitavo e nono anos compartilharem experiências, emoções e pontos de vista sobre o tema por meio da produção artística.
Os estudantes participaram de todo o processo, do roteiro à edição, com supervisão de Bedim.
“Foi interessante ver eles se enxergando nos papéis e na narrativa”, relata.
Segundo Bedim, a exibição do filme na escola ajudou a conscientizar colegas de outras turmas.
“Ao longo da produção, eu dizia: ‘Se faz sentido para vocês, também fará para os colegas que assistirem.’ A produção é percebida como as preocupações dos próprios estudantes, o que torna mais fácil a identificação pelos pares. Além disso, quando são os próprios alunos que falam, a mensagem ganha legitimidade. O impacto é diferente de um cartaz pronto ou uma palestra externa”, opina.
A atividade também contribuiu para a prevenção do problema. “Os estudantes começaram a identificar situações que antes passavam despercebidas e a refletir sobre como traduzi-las para um contexto narrativo”.
Temas relacionados ao bullying, como causas, consequências e formas de prevenção, foram discutidos com os alunos ao longo do desenvolvimento da narrativa.
O curta foi intitulado “De Quem São os Olhos” e ganhou o prêmio de melhor ficção no Festival Internacional de Cinema e Educação (EducAção) em 2023. “Isso tornou a experiência um marco para os estudantes que participaram e para a escola”, afirma Bedim.
Outra experiência exitosa do uso de curtas-metragens para trabalhar o bullying foi o filme “Bad Day”, produzido por estudantes do ensino médio da Escola Estadual Alexandre Vaz Tavares, em Macapá (AM). A obra retrata o dia a dia de uma estudante vítima de bullying, com foco em seus sentimentos e nas consequências da prática para o ambiente escolar. Com isso, venceu o 1º Festival Curta a Ideia (2020), do estado.
“A melhor forma de uma mensagem atingir o estudante é por meio dos próprios, que compartilham a mesma realidade e estão conectados, facilitando a comunicação e tornando a linguagem mais adequada”, pontua o professor de artes visuais Ivan Serrão, diretor da escola na ocasião.
Materializando problema silencioso
De acordo com Bedim, a atividade de produção do curta-metragem foi articulada com o conteúdo de cinema previsto para os anos finais do ensino fundamental nas aulas de artes.
“Organizamos a Semana de Arte, na qual o tema central foi cinema. Porém, ao propor fazermos um filme, os alunos queriam algo de terror e com monstros. Foi quando questionamos quais monstros poderiam existir em uma escola, aí surgiu o tema bullying, situação que a maioria deles relatou ter sofrido ou presenciado. Assim, decidimos dar corpo a um problema que permeia silenciosamente o ambiente escolar”, relata o professor.
Quanto ao estilo, Bedim sugeriu aos alunos que se inspirassem no cinema expressionista alemão. “Estávamos estudando cinema e vimos trechos dos filmes expressionistas. Eles curtiram bastante e foi uma das inspirações”.
Para Bedim, a atividade teve carácter transversal, por articular trabalho em equipe, comunicação, pensamento crítico, criatividade e domínio técnico do audiovisual. Também desenvolve autonomia em um contexto educacional em que plataformas e metas a serem cumpridas deixam os alunos passivos perante a informação”, analisa Bedim.
“E ainda possibilita exercitar a produção de roteiros, a edição de vídeos e o uso do celular como ferramenta pedagógica”, acrescenta Serrão.
Para os professores que desejam replicar a atividade, Bedim lembra que não é necessário equipamento sofisticado: basta utilizar celulares e aplicativos gratuitos de edição de vídeo.
“O essencial é dar autonomia para os alunos e criar um ambiente de escuta às suas ideias e preocupações. A técnica vem com a prática, e talvez nem seja o foco; o mais importante é a troca e as experiências reais que o projeto pode proporcionar aos estudantes. Diria que o filme é mais que um produto final: é um processo formativo”, opina Bedim.
Veja mais:
Quais as percepções que o praticante de bullying tem da sua conduta?
Confira 7 filmes para debater bullying na escola
4 orientações para estimular alunos a não serem indiferentes ao bullying
Crédito da imagem: kate_sept2004 – Getty Images