O escritor, jornalista e cineasta Fernando Sabino, falecido em 11 de outubro de 2004, teve uma vida literária produtiva. “Ele publicou crônicas, contos, romances, além de ter tido uma vida cultural significativa, o que refletiu em suas obras porque era saxofonista e dirigiu pequenos filmes sobre autores brasileiros, como Carlos Drummond de Andrade e Manoel Bandeira”, exemplifica a mestre em literaturas de língua portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), Dayse Aparecida do Amaral Santos.

Entre suas principais características, está o uso de uma linguagem “sofisticadamente simples”. Não por outro motivo, Carlos Drummond de Andrade afirmou que o escritor havia achado “a palavra leve, a frase límpida, o ritmo discreto da prosa, que só se alcança quando se consegue atirar para longe todo artifício e brilho aparente”.

“É uma simplicidade que revela um domínio singular da linguagem, pois é mais difícil entregar uma escrita simples que uma escrita hermética. Fernando Sabino era um mestre no ofício de aprimorar palavras e frases até reduzi-las à sua essência mais fundamental”, descreve o doutorando em estudos literários pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ewerton Martins Ribeiro.

Destaque na crônica

Ao lado de escritores como Rubem Braga e Paulo Mendes Campos, o autor foi importante no campo da crônica. Sua literatura também retratou o cotidiano da vida mineira.

“Entre as principais características de sua obra estão os diálogos rápidos e o modo como o autor eternizou os anos 40 e 50 na antiga Belo Horizonte. Isso faz com que a memória seja um dos temas importantes, principalmente no romance ‘O Encontro Marcado’”, apresenta Santos.

Tanto o livro citado anteriormente quanto o romance “O Grande Mentecapto” colocam em cena questões da existência humana. “No primeiro caso, a juventude, seus dilemas e seu enfrentamento e o amadurecimento. No segundo, a vivência da quase loucura e dos modos de sociabilidade. E, em ambos, a experiência da mineiridade”, contextualiza Ribeiro.

O humor também se faz presente em “O Grande Mentecapto” e, a infância, em “O Menino no Espelho”. “Esse estado de espírito aparece como válvula de escape para o peso que a existência, muitas vezes, imprime sobre a experiência humana. E a infância é um tema para o qual Sabino lança um olhar amoroso e saudoso. A relação que a ‘criança’ e o ‘adulto’, enquanto aspectos da subjetividade humana, estabelecem entre si”, diz Ribeiro.

Redação e interpretação

Segundo Santos, os contos e as crônicas de Sabino são pratos cheios para trabalhos de interpretação de texto com os alunos. A professora indica os romances “O Encontro Marcado” e “O Grande Mentecapto” para o ensino médio e “O Menino no Espelho” e “Os Melhores Contos e Crônicas”, para o ensino fundamental II”.

“No caso de ‘O Menino no Espelho’, pode-se realizar um trabalho comparando a linguagem literária com a cinematográfica em um primeiro momento e, em seguida, mostrar para os estudantes em que medida se misturam realidade e ficção na obra. O livro e o filme partem de histórias contadas e presentes na memória do autor, que se misturam com a biografia do mesmo. Isso pode ser feito por meio de uma produção textual analítica dos alunos, principalmente dos anos finais do fundamental”, orienta.

Já Ribeiro recomenda as crônicas do autor para pensar o exercício da redação. “Fernando Sabino fazia uma literatura que não apenas expressava sua sensibilidade, mas que também comunicava muito bem. Em razão disso, seus textos podem ajudar muito a se pensar formas de trabalhar as palavras e as frases de forma efetivamente funcional”, destaca.

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Crédito da imagem: © Fernando Sabino, em 1958. Fotógrafo não identificado. Arquivo Otto Lara Resende/Acervo IMS

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