A morte é um assunto que pode bater à porta da escola a qualquer momento, seja em virtude do falecimento de um aluno, de um professor, de um pai ou mãe. Os docentes, entretanto, não devem ignorar o tema e a partir da situação travar um diálogo aberto com a classe.
“Em torno do luto está a vivência, muitas vezes inédita para a criança e o adolescente, de finitude. Não falar sobre o assunto aumenta desnecessariamente a angústia. Surpreendentemente, as crianças têm uma boa capacidade de compreensão a respeito da morte quando se conversa abertamente sobre o assunto”, garante o psicanalista e professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Walter José Martins Migliorini.
Opinião semelhante tem a psicóloga e coordenadora do Laboratório de Estudos e Intervenções sobre o Luto (LELu), da PUC-SP, Maria Helena Franco. “Faz diferença quando o fato não é ignorado. É importante para o desenvolvimento do aluno”, complementa.
Segundo Maria Helena, crianças e jovens também vivenciam o luto, mas de uma maneira diferente dos adultos. “O luto é uma reação ao rompimento de um vínculo, seja por morte ou separação. Ele não se manifesta apenas por emoções, mas também em reações físicas, relacionamentos e desempenho intelectual. Assim, as crianças podem apresentar dificuldades na escola, na aprendizagem ou brigar com os amigos”, diz.
Cada etapa, uma atividade
As opções para abordar a morte e o luto variam de acordo com cada etapa de ensino. “Conforme a idade, o adulto pode ajudar nomeando os sentimentos que são desconhecidos, tais como a solidão e o desamparo. Ele também pode conversar sobre as fantasias decorrentes do luto – por exemplo, de abandono e esquecimento – e sobre os sentimentos que surgem, como a raiva”, orienta.
Para Maria Helena, adolescentes podem se beneficiar de atividades de apoio em grupo, com seus colegas. Já a criança pode precisar de mais segurança como, por exemplo, definir quem vai buscá-la na escola. Em todos os casos, atividades lúdicas e simbólicas também auxiliam o aluno a se expressar quando há dificuldade de fazer isso pela palavra. “Deve-se apenas evitar abordagens religiosas, deixando-as a cargo dos pais”, sugere Migliorini.
Momento de escuta
A professora de história Mariana Cordeiro se deparou com o luto em duas situações. Na primeira, um dos seus alunos foi assassinado pela polícia. “A turma foi transformada pelo luto. Era um terceiro ano bastante desmotivado e o episódio quebrou qualquer vínculo que eles tinham com a escola”, relembra.
Na ocasião, Mariana recebeu instruções da coordenação para não falar sobre o assunto. “Descumpri e optei por conversar com minha aluna, que era namorada do menino assassinado, quando ela reclamou da escola para mim. Falei que se a escola não havia dado o espaço e o tempo adequado para homenagearem seu namorado, que eles deviam fazer isso mesmo assim, ainda que em outro lugar, porque era importante se despedir. Falei que não era capaz de imaginar a sua dor, mas que ela poderia contar comigo se quisesse conversar”, relata.