Como fazer dos direitos humanos um tema acessível aos alunos é uma preocupação de quem deseja trabalhar isso em sala de aula. Para a professora de sociologia da educação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Flávia Inês Schilling, apoiar-se na memória é uma forma de tornar a temática tangível.
“Não há como não trabalhar o assunto sem resgatar a memória das lutas. Por exemplo, convidando os alunos a lerem a Declaração Universal dos Direitos Humanos”, sugere. “Em um país que cotidianamente vivencia a desmemoria e há uma produção do esquecimento, fazer uso da memória é central para olhar o futuro, e não ficar aprisionado a um presente em que políticas públicas estão sendo desmontadas”, explica a docente.
“Ajuda a lembrar que a situação nem sempre foi assim. E quando a gente não se lembra, nada é possível”, complementa ela, que foi uma das integrantes da mesa “O futuro dos direitos humanos e a educação”, do “Seminário Internacional de Educação” que ocorreu na USP, nesta terça-feira (27/8).
Schilling ainda destacou a importância de esclarecer opiniões equivocadas sobre direitos humanos presentes na sociedade. Entre elas, o profundo desconhecimento de quais são eles e sua importância, assim como a aversão à igualdade que se manifesta na sociedade.

“Certa vez, um aluno me perguntou por que estudar direitos humanos. Lembrei que estamos em uma escola, e a educação é um direito de todas as pessoas”, assinala. “O mesmo vale em relação a lazer ou trabalho. Em suma, são direitos concretos que estão presentes nas lutas que acontecem no cotidiano.”
Outra questão é destacar que todos e todas são sujeitos de direitos. “Isso gera anseios no mundo e, principalmente, no Brasil, onde há desigualdades e um jogo de ‘dois pesos e duas medidas’ que vemos em sociedade”, contextualiza.
Sensibilização ao tema
A importância da sensibilização dos profissionais de educação sobre direitos humanos foi lembrada pela doutora em sociologia e pesquisadora sobre gênero e violência contra a mulher, Wânia Pasinato. Para a profissional, o momento ideal para que isso aconteça é no período de formação inicial do professor: nas graduações e licenciaturas.
“Aqueles que vão ensinar no futuro precisam ter esse momento para lançar um olhar diferenciado sobre suas práticas. É uma mudança sustentável, porque vai influenciar as pessoas que estarão lá fora [nas escolas]”, complementa.
“Não adianta o debate sobre o tema na educação pública se aqueles que estarão na ponta não entenderem. Deixar a responsabilidade para quando estiverem fora da universidade, no exercício da profissão, é tapar o sol com a peneira”, defende Pasinato.
Já o professor de relações internacionais da USP, Pedro Dallari, lembrou que abordar o tema com os alunos é importante para entender o novo contexto social global.
“Os direitos humanos são o fundamento na ordem global”, explica. “Durante as duas primeiras grandes guerras, cada nação era responsável por organizar sua ordem nacional internamente. Com as mudanças nas comunicações, nos meios de transportes e aumento das interações entre pessoas de diferentes regiões, foi necessário o compartilhamento e entendimento de códigos de conduta que fossem comuns a todos”, esclarece.
“Em outras palavras, não se produzirá uma sociedade estabilizada sem respeito aos direitos humanos”, resume Dallari.
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Crédito da imagem principal: Leonardo Valle